Myla é uma jovem mulher, feliz e radiante, mas que leva consigo momentos marcados por tragédias, medo e violência psicológica.
Ela é a personagem principal de Segredos do Passado, uma duologia escrita por Eline Sato.
Eline Sato é natural de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro.
Analista de Sistemas, com pós-graduação em Logística, ela se dedicou à área de exatas por 14 anos, até que decidiu abrir uma empresa de eventos para casais.
Em paralelo, aprofundou-se em estudos sobre Psicologia Comportamental e Psicanálise, tornando-se psicanalista.
Ao testemunhar muitas histórias de amor, encontrou a inspiração para escrever.
Se na entrevista anterior, a autora nos revelou segredos das narrativas que contam sobre o passado de Myla, agora é a vez da escritora ter seus segredos literários revelados nesta entrevista.
Victor Hugo Cavalcante: Primeiro é um prazer novamente recebê-la no Jornal Folk, e gostaria de começar com a seguinte pergunta: Como a transição de sua carreira de analista de sistemas para psicanalista influenciou sua abordagem e perspectiva ao escrever sobre os desafios do amor e superação em seus romances?
Eline Sato: Decidi finalmente atender ao meu verdadeiro chamado. Desde pequena, sempre soube que minha vocação estava nas áreas de humanas; sonhava em seguir carreira como psiquiatra ou psicóloga.
No entanto, um acidente de carro mudou completamente o rumo da minha vida.
Na época da escolha do meu curso universitário, optei por algo mais simples e menos exigente em termos de tempo, acabando por ingressar na área de exatas.
Entretanto, após 14 anos como analista de sistemas, percebi que meu verdadeiro lugar estava entre pessoas, não máquinas.
Decidi então mergulhar na psicologia comportamental, buscando aprimorar os treinamentos empresariais que ainda conduzia como analista.
Foi durante a pandemia em 2020, que o curso de psicanálise no qual eu aguardava abriu a oportunidade para estudar à distância, e foi quando Freud e seus colegas se tornaram parte integrante da minha jornada, cativando completamente meu coração.
Dediquei-me a estudá-la intensamente para aprimorar ainda mais minhas histórias, o que aqueceu minha alma como uma parte essencial que sempre esteve faltando: ouvir as pessoas, compreender suas necessidades e ajudá-las a transformar suas histórias.
Victor Hugo Cavalcante: O que a levou a abrir uma empresa de eventos para casais e como essa experiência contribuiu para sua compreensão das dinâmicas relacionais, que são frequentemente exploradas em suas obras?
Durante o processo em que realizava treinamentos para várias empresas como analista, eu viajava para diversos lugares sem conseguir tempo para família e para mim mesma.
Pouco tempo depois, adoeci e decidi encerrar minha carreira como analista de sistemas, abrindo minha própria empresa para trabalhar com casamentos e estar mais próxima das histórias de vida das pessoas.
Concentrei-me em ajudá-las, dedicando tempo suficiente para compreender suas histórias e desafios.
Isso alimentou minha alma e intensificou ainda mais minha paixão de infância.
A partir de 2011, comecei a escrever romances inspirados nessas jornadas.
Somente em 2017, enquanto me recuperava de uma depressão causada pela Síndrome de burnout, a literatura se tornou meu refúgio.
Percebi que minha missão era ajudar as pessoas a se redescobrirem através da arte, mas não queria apenas contar histórias; desejava transmitir uma mensagem maior e mais profunda, permitindo que os leitores se conectassem com cada personagem, identificando-se, e que isso pudesse impactar mais pessoas de alguma forma.
Victor Hugo Cavalcante: Você já testemunhou muitas histórias de amor ao longo de sua carreira. Como essas experiências pessoais influenciaram suas narrativas e personagens ao longo de sua trajetória como escritora?
Todas as minhas narrativas têm raízes em experiências pessoais, tanto minhas quanto de outros.
Ao tecer ficção e abordá-la com sensibilidade, meu objetivo é incorporar a essência central dessas vivências à realidade, permitindo que outros que possam encontrar-se em situações semelhantes se sintam compreendidos e acolhidos.
É como se os personagens, inspirados em pessoas reais, pudessem oferecer aos leitores uma mensagem de empatia: “Eu entendo o que você está passando, você não está sozinho.”.
Por meio das experiências desses personagens, os leitores são incentivados a encontrar coragem para se reinventarem, seja em que área de suas vidas precisem de apoio.
No entanto, permito que a ficção aqueça seus corações e os inspire a sonhar novamente, pois sonhar é uma parte essencial da experiência humana.
Victor Hugo Cavalcante: Em seus romances, você aborda os temas de amor, superação e adversidades da vida. Como você equilibra a criação de enredos cativantes com a profundidade emocional necessária para explorar esses temas de forma significativa?
Durante o processo de escrita, diversos estágios se sucedem.
A inspiração emerge das experiências previamente absorvidas, permeando minha mente de várias formas.
À medida que escrevo, me coloco no lugar dos personagens, permitindo-lhes liberdade para expressar suas emoções e pensamentos.
Nesse processo, compartilho cada parte da narrativa com os leitores beta, ouvindo atentamente seus relatos e sentindo o impacto de suas emoções.
Após essa fase, é essencial dar um descanso à mente antes de iniciar a revisão, momento em que cada observação dos leitores beta é considerada.
Esta é a etapa desafiadora, especialmente em textos carregados de emoção, onde o equilíbrio é crucial para evitar exageros e manter a coerência narrativa.
As partes que demandam pesquisa são meticulosamente trabalhadas, e cenas desnecessárias são dolorosamente eliminadas.
Por fim, o texto é entregue aos revisores, onde mais cortes são feitos e opiniões são consideradas para garantir um equilíbrio entre emoção, razão, enredo e coesão.
Victor Hugo Cavalcante: Tudo por um sonho em Paris foi o ponto de partida para sua carreira literária. Como foi o processo de escrever e publicar esse livro e como ele definiu sua abordagem como escritora?
A trilogia Paris é meu grande amor.
Ela entrou na minha vida e transformou minhas dores em amor e desabafo.
Nina, uma personagem repleta de sonhos, forte, teimosa, reflete muito da minha personalidade.
Ela ama intensamente e acredita que todos compartilham dos mesmos sentimentos de empatia que ela tem.
No entanto, a inocência de Nina a fez passar por inúmeras decepções até encontrar Lorenzo, que é perdidamente apaixonado por ela e faz de tudo para vê-la feliz.
A trilogia abraça esses clichês que eu amo e que me acalentam a alma.
Quando Nina começou a falar em minha mente, deixei-a transbordar em mim.
Ela levou todas as minhas dores embora e transformou cada experiência ruim em lições e crescimento.
Escrevi esse livro em três meses, sem interrupções.
Dia após dia, sem parar… e quando minha mãe perguntou o que eu tanto escrevia, deixei que ela lesse, sem a menor intenção de publicá-lo.
Quando uma editora se interessou pela história e o livro foi publicado, não esperava a repercussão que teve na Bienal de São Paulo.
Foi realmente muito emocionante e medicinal.
Victor Hugo Cavalcante: Como você vê o suspense romântico adulto Segredos do Passado em relação aos seus trabalhos anteriores? Quais foram os desafios e inspirações ao criar essa obra?
Segredos do Passado representa uma evolução significativa em minha jornada como escritora.
Ao longo dos anos, tenho refinado minha escrita por meio de cursos e do contato mais próximo com os leitores, resultando em obras mais cuidadosamente trabalhadas.
Vejo este livro como um exemplo de organização, qualidade de escrita e profundidade.
No entanto, reconheço que sempre há espaço para melhorias.
Apesar do carinho que tenho por minhas outras obras, ao relê-las, sinto o desejo de reescrevê-las.
No entanto, entendo que fazem parte da minha trajetória como autora, e uma mudança significativa poderia desagradar os leitores que as apreciam.
O livro se destaca como um projeto único entre meus trabalhos anteriores.
Foi meu maior desafio ao explorar temas eróticos entrelaçados com questões psicológicas profundas.
Os personagens foram desenvolvidos de forma intricada, enquanto o enredo envolve o leitor em um jogo de sensualidade e mistério, revelando-se aos poucos por meio de cada personagem.
O desfecho do livro foi um dilema pessoal.
Enquanto desejava que a ficção confrontasse o mal com minhas crenças, também buscava proporcionar ao leitor uma reflexão sobre a complexa interação entre violência e justiça no mundo real.
O processo de criação envolveu extensas pesquisas e consultas a profissionais para definir o destino dos personagens vilões.
Quanto à inspiração, o livro teve origem durante a pandemia, quando fui desafiada a escrever um conto sobre violência doméstica ambientado nesse contexto.
Embora o conto não tenha recebido um prêmio, ficou entre os dez melhores em Portugal.
A partir dessa experiência, decidi expandi-lo em um romance, inspirado na história de uma amiga que enfrentou um casamento tóxico, onde os abusos começaram logo na lua de mel.