Lançado em 2024 pela Editora Kimera, Erês, Guris, Bacuris e Outros PUTOS de Tonio Carvalho é uma obra literária que mergulha profundamente na realidade cruel e implacável das crianças no Brasil.
Composto por 18 capítulos (fora o capítulo inicial de apresentação), o livro retrata a vida de meninos e meninas que, antes de serem apenas crianças, são erês, guris, bacuris, moleques e até mesmo “putos”, como são chamados em Portugal.
Em meio a um contexto de pobreza, violência e humilhação, Carvalho não poupa o leitor da brutalidade cotidiana que essas crianças enfrentam.
A sinopse já nos avisa que esse é um livro que não cogita romantizar a infância.
Pelo contrário, é um grito de indignação e denúncia, dedicado à memória daqueles que não resistiram ao ciclo perverso de maus-tratos, fome e miséria.
O autor ainda lembra que muitos sobrevivem, mas sob as mesmas condições desumanas e desalentadoras.
Uma das grandes qualidades do livro está na forma habilidosa como o autor manipula a linguagem, misturando beleza e tragédia em um jogo de palavras poderoso.
Em alguns contos, ele utiliza nomes de locais paradisíacos, que evocam imagens de tranquilidade e sonhos, para criar um contraste doloroso com as histórias narradas.
Um exemplo marcante é o conto A Vida Pelo Meio Fio, no qual um jovem catador de lixo, ao ler sobre o Catar em um jornal, confunde o país com um possível “paraíso” para catadores.
A partir dessa esperança equivocada, o personagem constrói o sonho de ir morar no lugar que, em sua mente, o “pertencia”.
Esse jogo de ilusões reflete o desespero e a falta de perspectivas que atravessa a vida de tantas crianças.
Carvalho nos faz questionar: em um país tão desigual e violento, ainda vale a pena sonhar?
Ou esses sonhos são apenas fugas de uma realidade insuportável?
O livro oferece uma reflexão profunda sobre como, muitas vezes, a beleza de um sonho pode ser apenas mais um instrumento de opressão.
Erês, Guris, Bacuris e Outros PUTOS é uma obra que não apenas conta histórias, mas faz um convite, ou talvez um desafio, para o leitor encarar uma realidade que dói.
Entre a dura ficção e as verdades cotidianas, a leitura incomoda, instiga e nos leva a refletir sobre o que significa sobreviver em um país desigual, especialmente quando se é criança.