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Tonio Carvalho estreia literatura sobre guris e outros putos

Autor comenta em entrevista tudo sobre o livro intitulado Erês, guris, bacuris e outros PUTOS que fala sobre as diversas realidades das crianças no país.

Foto do escritor e entrevistado Tonio Carvalho.

Tonio Carvalho é autor e diretor teatral.

Como escritor, Erês, guris, bacuris e outros PUTOS significa sua estreia na literatura para adultos, embora já tenha lançado um livro de poemas intitulado No Feitiço das Festas de Fé, inspirado em suas memórias da infância, vivida nos subúrbios do Rio de Janeiro.

Suas lembranças do universo infanto-juvenil também o levaram à literatura e ao teatro para jovens.

A Coleção do Avesso é um exemplo: textos bem-humorados, poéticos ou provocadores como A avó dos dinossauros, Lia foi à Lua e O menino do avesso, foram alguns dos oito livros da coleção que fizeram a diversão e a reflexão da garotada.

Em teatro, Tonio escreveu e dirigiu para um público que encantava e emocionava jovens e adultos.

Sua dramaturgia e suas encenações o levaram a receber inúmeros prêmios: Mambembe, RioArte, APCA, etc.

Entre textos e espetáculos, podemos ressaltar As 3 luas de Junho, A idade do sonho, Em busca do coração secreto e O mistério do boi surubim, auto de Natal que teve a obra adaptada para o Brava Gente da TV Globo.

Em sua trajetória criativa, o autor abraçou a cultura popular ao desenvolver teatralmente uma obra específica para o Museu de Folclore do Rio de Janeiro, encenando no próprio museu A brincadeira do boi voador.

Por sua identificação com a cultura popular, recebeu prêmios por textos para Mamulengos: Mariazinha do bole-bole e Florzinha que não se cheira e Firmino papa-tudo na rua do sobe e desce a caminho do Juízo.

Tonio ainda criou com Dora Castellar o texto Norma, que também dirigiu, resultando num espetáculo teatral considerado, no ano de sua estreia, como “um dos melhores do ano” pela crítica Barbara Heliodora.

Além do teatro e da literatura, Tonio tem a expectativa de ainda ver filmados vários roteiros para cinema: Belo, Kim, Dois Homens, etc.

Em breve terá apresentado ao público seu Pequeno Atlas Poético, uma obra dedicada aos brasileiros de todas as idades e ilustrada por Fred Vegele.

Agora, autor e diretor de teatro nos revela tudo sobre o livro Erês, guris, bacuris e outros PUTOS e muito mais.

Victor Hugo Cavalcante: Primeiro, é um prazer poder recebê-lo no Folk, e gostaria de começar perguntando: O título do seu novo livro, Erês, guris, bacuris e outros PUTOS, é bastante provocativo. Qual foi a inspiração para escolhê-lo e o que você espera transmitir aos leitores com ele?

Tonio Carvalho: Antes de mais nada, obrigado Victor Hugo, é um prazer responder suas perguntas.

Quanto à sua pergunta: Não foi propriamente uma inspiração a escolha do título.

Foi pelas muitas e muitas maneiras de nos referirmos às crianças no Brasil, fruto da nossa formação étnica, europeia, indígena, afro e a mistureba de “idiomas” das ruas que por sua natureza dinâmica, transforma o dizer, o falar, constantemente.

Por outro lado, minha preocupação com trazer, aproximar cada vez mais o mundo lusófono de si, ampliando os dizeres e entendendo, por exemplo, que a palavra PUTOS presente no título tem significados diferentes e até antagônicos.

E isso é rico, é belo e só engrandece a nossa língua, uma das mais belas do mundo.

Victor Hugo Cavalcante: Erês, guris, bacuris e outros PUTOS aborda a realidade crua das crianças no Brasil. Pode nos contar um pouco sobre o processo de pesquisa e a experiência de escrever sobre este tema tão sensível e, muitas vezes, doloroso?

Você fala em “pesquisa”, eu não diria assim.

Eu diria que o olhar sensível e compassivo nos toca, ou que deveria a todos tocar, ser o bastante para uma ação contundente da sociedade no combate ao percentual altíssimo da nossa população vivendo em condições de vulnerabilidade sob o olhar de desprezo das classes mais favorecidas.

Nesta situação, as crianças são vítimas indefesas.

E isso é intolerável.

Se o presente é assustador, o que dizer do futuro?

Victor Hugo Cavalcante: O livro mencionado anteriormente é seu primeiro livro voltado para o público adulto. Como foi a transição da escrita para crianças para a literatura adulta? Quais foram os maiores desafios que enfrentou?

Essa transição à qual você se refere não aconteceu abruptamente.

Minha dramaturgia e meus roteiros de cinema sempre abordaram temas e situações adultas.

Para mim, o desafio maior foi o escrever “literatura”.

Apanhei bastante, apanho, mas tenho em mim a perspectiva constante de ser um aprendiz.

Como é difícil escrever!

Procuro me manter numa situação de humildade, estou buscando, atento ao mundo que me cerca, ao que me comove, me sensibiliza e me revolta.

Victor Hugo Cavalcante: A obra literária Erês, guris, bacuris e outros PUTOS fala sobre as desigualdades socioculturais enfrentadas pelas crianças. Na sua opinião, como a literatura pode contribuir para a conscientização e a mudança social em relação a essas questões?

Eu acho, Victor, que não há uma regra, uma receita.

Na minha opinião, acredito que todos, e em especial os artistas, sejam escritores, escritoras, atores, atrizes, artistas plásticos, gente da música, agentes da transformação social através das artes, devem ou deveriam estar na frente da batalha contra a cegueira, contra as lavagens cerebrais, rebeldes, transgressores, combatentes e atuantes contra a extrema ignorância que a todos afeta e encareta.

Digo que deveriam e acredito que a grande maioria está.

A luta é inglória, mas nos fortalece.

Citarei B. Brecht em Galileu Galilei:

“Pensar é um dos maiores prazeres da Humanidade!”.

Espero que ainda seja verdade, ou que não seja tarde demais.

Victor Hugo Cavalcante: Quais foram suas principais influências literárias ao escrever Erês, guris, bacuris e outros PUTOS? Há algum autor ou obra que tenha sido particularmente inspirador para você?

Sempre li muito, e sempre achei serem todos grandes mestres, e são!

Hoje não posso citar uns sem dizer de todos.

Posso dizer que a atual literatura brasileira dos países de língua portuguesa e as produções das etnias que nos fazem diversos, me estimularam a escrever esses “Erês…”.

Victor Hugo Cavalcante: Com base na sua ampla trajetória no teatro e na literatura, incluindo prêmios recebidos e obras tanto para crianças quanto para adultos, qual você diria que foi o projeto mais desafiador e por quê?

Por enquanto este “Erês…” foi o mais desafiador.

Entretanto, já estou envolvido com outros.

Os que estão adiante sempre, para mim, são os mais desafiadores: são incógnitas.

E não sei para onde estão me levando!

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