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Os efeitos do assédio no Carnaval para a saúde mental

O assédio no Carnaval pode gerar traumas e abalar a saúde mental das vítimas, confira como buscar e dar apoio durante e após o evento.

Ilustração-montagem de uma mulher chorando em pelno Carnaval.

O Carnaval é um dos maiores símbolos de alegria e liberdade no Brasil.

No entanto, para muitas pessoas, especialmente mulheres, a festa pode ser marcada por uma experiência traumática: o assédio.

O ambiente carnavalesco, muitas vezes associado à permissividade, faz com que algumas pessoas confundam diversão com desrespeito.

O assédio pode se manifestar de diversas formas, desde olhares invasivos e comentários inapropriados até toques indesejados e investidas mais agressivas.

Esse problema recorrente compromete não só a segurança, mas também a saúde mental das vítimas, deixando sequelas duradouras, conforme explica a psicóloga clínica Cristina Silva:

“O assédio, especialmente em um contexto como o Carnaval, pode gerar impactos psicológicos significativos. Durante a festa, muitas vítimas experimentam medo, vergonha, culpa e impotência, sentimentos que podem se transformar em ansiedade, estresse pós-traumático e até depressão. A sensação de violação do espaço e do corpo pode levar à hipervigilância, evitando festas e situações sociais por medo de reviver a experiência. E os efeitos podem ser duradouros, pois a memória traumática não se apaga sozinha, ela precisa ser processada. O cérebro registra o evento como uma ameaça contínua, o que pode impactar a autoestima, os relacionamentos e a segurança emocional da vítima no futuro”.

Dados alarmantes sobre o assédio no Carnaval

Segundo a Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, o assédio no Carnaval não é um problema isolado. Crédito: Getty Images

Em 2024, o Disque 100, da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, registrou mais de 73 mil violações durante o período carnavalesco.

Além disso, um estudo realizado pelo Instituto Locomotiva, em parceria com a QuestionPro Brasil, revelou que 7 em cada 10 mulheres brasileiras têm medo de sofrer assédio sexual durante a festa.

As mulheres negras estão ainda mais vulneráveis a essa violência, destacando a necessidade urgente de ações para erradicar o assédio sexual e a violência de gênero nas festividades.

Buscando apoio e denunciando

Crédito: Getty Images

Com esses dados alarmantes, surge a questão: como podemos ajudar as vítimas de assédio e prevenir novos casos?

A psicóloga clínica Cristina Silva enfatiza a importância de estratégias psicológicas para ajudar as vítimas a ressignificarem a experiência e recuperarem sua confiança:

 “O primeiro passo é validar o que aconteceu e reconhecer que a culpa nunca é da vítima. Buscar apoio psicológico pode ajudar a ressignificar o trauma, transformando a experiência em aprendizado e fortalecimento pessoal. Técnicas de regulação emocional, como respiração consciente e mindfulness, ajudam a reduzir o impacto das lembranças negativas. Além disso, falar sobre o ocorrido com pessoas de confiança ou grupos de apoio possibilita um processo de ressignificação mais rápido. Atividade física, dança ou práticas que fortaleçam a autoestima também contribuem para a recuperação da confiança e do senso de controle sobre si mesma”.

Além disso, a denúncia é um passo essencial para combater a impunidade e responsabilizar os agressores.

A Dr.ᵃ. Cristina Silva também destaca a importância do acolhimento por parte da segurança pública.

“O acolhimento adequado faz toda a diferença. Quando a segurança pública oferece um atendimento humanizado e eficiente, a vítima se sente amparada, reduzindo o impacto do trauma e aumentando a chance de denunciar. A impunidade perpetua a cultura do assédio, enquanto medidas firmes ajudam a combatê-la. Já os coletivos e grupos de apoio proporcionam um espaço seguro de escuta, onde a vítima percebe que não está sozinha e pode compartilhar sua vivência sem medo de julgamento. Essa rede de suporte fortalece a mulher emocionalmente, ajudando-a a reconstruir sua confiança e autonomia. A mensagem precisa ser clara: a culpa nunca é da vítima, e toda mulher tem o direito de viver sua liberdade sem medo”.

Campanhas e ações contra o assédio no Carnaval

Lançamento da Campanha Tô Na Rua, Mas Não Sou Sua da Prefeitura Municipal de Salvador. Crédito: ASCOM/SEMOP

Felizmente, diversas campanhas vêm sendo promovidas para combater o assédio no Carnaval antes, durante e após a festa.

Tais campanhas e ações visam educar, promover um ambiente mais seguro para todos os foliões e também acolher às vítimas de assédio.

Em Salvador, por exemplo, com a proximidade do Carnaval, a Prefeitura de Salvador, por meio da Secretaria de Políticas para Mulheres, Infância e Juventude (SPMJ), lançou a campanha Tô Na Rua, Mas Não Sou Sua, uma iniciativa que reforça o combate ao assédio e à violência contra as mulheres durante a folia.

A campanha chega em um momento crítico, considerando os números alarmantes de violência de gênero no estado da Bahia em 2025, visto que já foram registradas 284 denúncias de crimes sexuais, conforme aponta o Painel de Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos.

Sua proposta é transformar, através de tecnologia, monitoramento, atendimento especializado e ações estratégicas, a festividade municipal em uma referência no combate ao assédio sexual, transformando a maior festa de rua do planeta em um ambiente mais seguro e respeitoso, buscando que todas as mulheres possam se divertir sem medo e com segurança.

Acompanhe algumas das ações:

Antes do Carnaval: Conscientização e informação

  • Capacitação de ambulantes: orientação dos ambulantes credenciados para identificar e denunciar situações de assédio e violência, tornando-os agentes de mudança.
  • Distribuição de materiais informativos: equipes distribuem materiais com QR code para o canal de denúncia e informações sobre a campanha em pontos estratégicos da cidade.
  • Promulgação de parcerias: mobilização de ONGs, artistas e a sociedade civil para promover a campanha e educar sobre o respeito e combate ao assédio.

Durante o Carnaval: Proteção e denúncia

  • Chatbot via WhatsApp: canal de denúncias e informações que oferece suporte em um ambiente seguro e ágil para vítimas de assédio.
  • Trio Tô Na Rua, Mas Não Sou Sua: um trio elétrico dedicado à campanha, com a presença de artistas para engajar os foliões na mobilização e no respeito.
  • Centros de Atenção à Mulher: ponto de apoio psicossocial e jurídico nos circuitos do Carnaval, em parceria com a Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam) e a Guarda Civil Municipal.

Após o Carnaval: Acolhimento e suporte às vítimas

  • Certificação de camarotes e blocos: reconhecimento dos camarotes e blocos que se engajaram na campanha e adotaram medidas efetivas de conscientização e combate ao assédio.
  • Evento de encerramento da campanha: celebração que reúne artistas e convidados para reforçar a mensagem de respeito e acolhimento, além de promover uma reflexão sobre os aprendizados da campanha.

Com campanhas de conscientização, canais de denúncia e redes de apoio às vítimas, é possível tornar o Carnaval um ambiente mais seguro e respeitoso.

A mudança começa com cada um de nós, por isso vamos curtir a folia com alegria, responsabilidade e respeito.

Denuncie o assédio e ajude a construir um Carnaval mais seguro para todos!

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