As expectativas alheias são a nossa própria projeção.
O que isso quer dizer?
Quanto menos sou dona das minhas emoções e sentimentos, mais projeto essas demandas ao mundo.
Todos nós temos necessidade de sermos amados.
Quanto menor a sensação de amor na nossa infância, maior o buraco afetivo. Este desafeto na infância produz uma crença forte de que não somos bons o suficiente para recebermos amor.
Quando isso acontece, criamos diversas condições para buscarmos essa sensação em todas as nossas relações durante a vida.
Por exemplo: se não sou boa o suficiente para ser amada, quem sabe se eu fizer tudo perfeito, posso ter alguma chance? Quem sabe se for eu mais inteligente, magra, bonita, rica…?
A crença de que não somos bons o suficiente é muito poderosa, porque é difícil tomarmos consciência do quanto nos afeta.
Imagine sentir que não merece existir, que deve haver algo tão errado consigo que não tem a capacidade de ser amado por ninguém.
Falando assim, parece estranho, mas todos nos sentimos assim em algum momento da vida.
Neste contexto, existe outro aspecto importante a ser ressaltado, sobre o impacto da idealização dos pais acerca de quem os filhos deveriam ser.
Pais devem aprender a incentivar seus filhos a serem quem eles já são.
Essa idealização, somada a uma autoestima frágil, pode ser devastadora, porque tomamos para si as expectativas idealizadas dos pais, estas tornam-se nossas.
Isso vira não um caminho para a autorrealização, mas para o amor.
Porém, como nos faltam autoconhecimento e consciência desses padrões inconscientes, projetamos no mundo as expectativas que são nossas.
A dura realidade é que o mundo não se importa com você ou com quem você é.
Quando estamos preocupados com as expectativas dos outros, é você quem acha isso, mas delegamos a responsabilidade ao mundo.
Um fenômeno decorrente disso é o afastamento da autenticidade e dos desejos, porque a atenção está sempre voltada para a aprovação do outro.
É como uma espécie de certificado de garantia de que, “se alguém me aprova, eu existo”.
O antídoto radical para este mecanismo é a emancipação emocional.
Em algum momento, teremos que soltar a narrativa construída da infância e ativar nossa autonomia afetiva.
Aceitação e aprovação externas serão sempre bem-vindas, mas não podemos viver dependentes disso.
O objetivo mais difícil a ser alcançado nesta vida é desenvolvermos o autoamor, que também é autoconhecimento, autoaceitação, maturidade e autorreconhecimento.
Quando aprendemos e ativamos os nossos próprios valores, magnetizamos o amor, porque o outro é apenas o reflexo das minhas projeções.
Se existe algum tipo de amor incondicional, ele deveria ser o autoamor.
Sobre a autora

Luciana Leon é psicóloga, pós-graduada em medicina ayurvédica e professora de ioga.
É autora do livro A Síndrome da Gueixa, que reflete sobre o comportamento de autonegligência em prol das necessidades dos outros.