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Livro retrata perdas familiares e desigualdade social

No romance Cicatriz, Breno Ribeiro narra duas histórias sobre a perda de um filho e os impactos da desigualdade social em famílias de diferentes classes.

Mockup do livro Cicatriz escrito por Breno Ribeiro.

Duas famílias distintas, uma de classe média alta e outra de periferia.

Em uma delas, um casal de elite com seus dois filhos, a típica família perfeita para os que veem de fora.

Na outra, um casal de periferia que luta para conseguir pagar os medicamentos da mãe de um deles.

Este é o ponto de partida do breve romance cicatriz (112 págs.), do escritor mineiro Breno Ribeiro, recém-lançado pela Caravana Editorial.

Atualmente vivendo no Rio de Janeiro, o autor é formado em Letras e professor de Língua Inglesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com mestrado em Estudos da Linguagem na PUC-Rio e um curso livre de Formação em Roteiro pela Academia Internacional de Cinema do Rio.

Breno traz em seu segundo romance uma história que reúne três dos mais imponentes sentimentos humanos: a justiça, a vingança e a culpa.

Através da história de poucos, mas inesquecíveis, personagens, retrata um quadro não incomum em nossa sociedade.

Estruturada em três partes, cicatriz acompanha duas histórias paralelas: de um lado, a família de Júlia e Humberto, com seus filhos Ana Lúcia e Pedro.

De classe alta, a família passa por desentendimentos de ordem sociopolítica: o pai, de extrema-direita, não aceita a filha lésbica, enquanto o filho, recém-admitido na universidade, passa a ser o foco de atenção do casal.

Do outro lado, Pietro e Fabiana são um casal de periferia que esperam um filho enquanto precisam lidar com a doença da mãe de Pietro.

Diante da gravidade do caso, Pietro se vê praticando pequenos crimes para conseguir pagar os remédios e a internação da mãe.

Perante os dilemas éticos que vivem as personagens, cicatriz traça um panorama bastante complexo do sistema judiciário brasileiro, em que justiça nem sempre significa reparação dos danos causados e a prisão não é capaz sequer de aplacar os desejos de vingança das classes privilegiadas.

Segundo Breno, o senso de justiça sempre esteve presente em sua vida.

Certa vez, lendo uma notícia sobre um crime grave cometido contra uma família, o autor se deparou com uma advogada que havia trabalhado no caso se utilizando do conceito de justiça restaurativa.

“Pensei muito sobre o conceito de justiça restaurativa e em como ele requer certa maturidade das partes envolvidas. Pensei também que, a depender do caso, isso não seria possível, esse perdão, essa quase elevação espiritual do absolver. Então me veio a vontade de escrever sobre isso, sobre essa impossibilidade do perdão e, por outro lado, a fervura da culpa”, completa.

Diante deste cenário que oscila entre sofrimentos, lágrimas, traumas e cicatrizes, Breno apresenta importantes reflexões, como na página 89:

“Um mundo melhor não é um mundo sem crime, mãe, isso é uma utopia. Um mundo melhor é um mundo onde as pessoas cometam erros e possam ter a chance de crescer a partir deles. É nisso que eu acredito”.

Do thriller policial para um quase “thriller familiar”: as faces da escrita de Breno Ribeiro

Foto do lançamento do livro Cicatriz no Capitu Café no RJ.
Crédito: Instagram do escritor

Influenciado por autores clássicos como Machado de Assis, Mary Shelley e Gustave Flaubert, Breno nasceu em Juiz de Fora–MG e cresceu na cidade de Iguaba Grande, na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro.

Hoje, com 35 anos, mora no Rio e leciona Língua Inglesa pela UFRJ.

Em 2021, em plena pandemia, lançou seu primeiro romance em formato digital, o thriller policial O Príncipe de Hugo Porto.

Em seu segundo romance, cicatriz, o autor percebe os passos de amadurecimento em relação à sua carreira e vê a mudança de gênero literário como um motor para sua criatividade.

“Esse livro representa um amadurecimento da minha escrita em relação ao meu primeiro romance, talvez pela mudança de gênero. A escrita desse livro me transformou. De certa forma, me permiti arriscar mais literariamente a tocar em pontos que não necessariamente fazem parte da minha experiência de vida”, analisa.

A obra é fortemente influenciada pela literatura nacional contemporânea, por nomes como Andrea Del Fuego, Natalia Timerman e Jeferson Tenório, que trazem ambientes urbanos para o centro da narrativa.

Após cicatriz, o autor já pensa em escrever seu próximo livro, que vai se chamar Limbo, que conta a história de um casal que se separa, mas, por questões presentes no capitalismo tardio, são obrigados a morar juntos por um tempo até cada um ir para o seu canto.

“O romance narrará os dois meses entre o término e a mudança de casas, quando cada um segue seu rumo”, revela.

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