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Livro explora paisagens e memórias de Cabo Frio

Em Refinaria, Rodrigo Cabral mistura poesia e geografia para capturar as transformações da paisagem e da memória na Região dos Lagos.

Foto da capa do livro Refinaria.

Refinaria (120 págs.), estreia literária do jornalista e editor fluminense Rodrigo Cabral, é composto por poemas que tentam apreender o processo de transformação da paisagem geográfica da Região dos Lagos (RJ) e da própria memória.

Lançada durante a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) de 2024, a obra, publicada pela Sophia Editora, conta com ilustrações do artista visual Rapha Ferreira.

A orelha foi assinada pelo escritor Thiago Freitas e o prefácio é da autoria da editora e escritora Júlia Vita, que também trabalhou na edição do livro.

Na obra, a poesia é utilizada como ferramenta para explorar cenários em constante mutação, retratando, a partir de uma linguagem poética original, a relação do autor com o espaço onde cresceu, no estado do Rio de Janeiro: Cabo Frio, uma das cidades banhadas pela Laguna de Araruama, a maior do mundo em hipersalinidade permanente.

“Ouvi o que esses cenários diziam sobre minhas memórias, sempre borradas e fragmentadas”, comenta.

Refinaria se trata dos processos contínuos de transformação e refino, tanto no território como na própria vida e no ato de escrever.

Segundo o autor, no poema isso se transforma em outro espaço, em outro tempo.

E o texto é reescrito conforme as percepções de quem lê.

Ele reflete:

“O que me moveu, primeiro, foi me reconhecer como um poeta da restinga. Ou um poeta da orla, como escreve a Júlia Vita no prefácio”.

A figueira centenária da rua da infância de Rodrigo Cabral, por exemplo, torna-se inspiração porque é um dos poucos elementos que permanecem em meio ao que se transforma.

Os poemas se movem entre temas como a relação do autor com o pai, a paisagem local e as dinâmicas internas da memória.

“O livro também trata da própria escrita, do texto constantemente revisto, refeito e relido, em um processo contínuo de busca por significado”, revela o escritor.

A tentativa de apreender o que está lá fora é um dos cernes da obra, mas isso não significa tentar captar a realidade exatamente como ela é.

A proposta de Rodrigo é ir muito além.

Sua intenção não é buscar compreender, tampouco simplesmente decifrar, mas, sim, contemplar os processos de transformação de um território, de um indivíduo, de uma escrita.

“Quero analisar com a ponta dos dedos aquilo que não evapora, aquilo que permanece”, reflete.

Os versos do livro equilibram a linguagem regional com uma universalidade poética, permitindo que os leitores encontrem pontos de conexão tanto com o cenário local quanto com as emoções e vivências humanas.

Além disso, a obra faz referência à formação geológica da camada pré-sal e traça paralelos com a história da cana-de-açúcar em Campos dos Goytacazes, cidade natal do autor.

Rodrigo Cabral registra a refinaria

Crédito: Mariana Ricci

Rodrigo Cabral, 34 anos, nasceu em Campos dos Goytacazes–RJ e cresceu em Cabo Frio–RJ, onde fundou a Sophia Editora.

Sua escrita é fortemente influenciada pelas paisagens da Região dos Lagos e pelas memórias de infância, temas centrais de sua obra poética.

Em 2024, Rodrigo foi segundo colocado no Prêmio Off Flip de Literatura na categoria Contos e finalista na categoria Poesia.

No ano anterior, conquistou o terceiro lugar no Festival de Poesia de Lisboa e, em 2022, foi também finalista do Prêmio Off Flip na categoria Poesia.

Como editor, tem se dedicado a preservar e divulgar a história, a memória e o patrimônio cultural da região.

Refinaria é seu primeiro livro publicado.

Sua principal referência para a escrita de sua obra de estreia foi Água-mãe, livro do escritor paraibano José Lins do Rego, o primeiro romance do autor a ser ambientado fora da região Nordeste.

“O escritor narra as paisagens daquela Cabo Frio com imagens arrebatadoras, que envolvem as casuarinas, a figueira, a fantasmagórica casa azul, as barcaças de sal deslizando pela água e a Lagoa de Araruama, muitas vezes referenciada apenas como Araruama, espécie de entidade”, enumera.

Além dele, destaca-se Olga Savary e Victorino Carriço, autores das duas epígrafes presentes no livro, e influência indireta de leituras de autores como Roberto Piva, Claudio Willer, Lawrence Ferlinghetti, Jack Kerouac, Allen Ginsberg, Marcelino Freire, Ricardo Aleixo, Ana Martins Marques, Ferreira Gullar e Carlos Drummond de Andrade

Perguntado sobre projetos futuros, Rodrigo disse que pretende continuar a atividade de refinaria que deu origem à sua primeira publicação:

“Meu desejo é escrever”.

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