A literatura de cordel, considerada Patrimônio Imaterial Brasileiro, é uma ferramenta importante na formação cultural e educacional, garantindo que essa arte popular se propague.
Sabendo disso, Célia Ramos e Antonio Primus criaram o projeto Kombi Cultural e a Caravana Cordelista para poderem democratizar ainda mais a arte por meio de apresentações culturais itinerantes em São Paulo com uma Kombi.
A ideia inicial passou por diversas adaptações até se consolidar como uma kombi que circula pelas bordas de Itaquera, transformando espaços em centros culturais itinerantes.
O principal objetivo é levar arte e cultura a locais distantes de atividades culturais, como ruas sem saída e até estacionamentos, mudando a rotina das crianças e a percepção delas sobre o próprio território.
E nesta entrevista exclusiva, Célia Ramos, coordenadora e idealizadora do projeto junto a Antonio Primus, compartilha a evolução da Kombi Cultural e a Caravana Cordelista.
Victor Hugo Cavalcante: Primeiro é um prazer recebê-los no Jornal Folk, e gostaria de começar com a seguinte pergunta: Como surgiu a ideia de criar a Kombi Cultural e a Caravana Cordelista? Quais foram as inspirações iniciais para esse projeto?
Kombi Cultural: A ideia de criar o projeto passou por muitas versões até chegar neste formato, as primeiras ideias foram saraus circulando em uma Kombi, depois mudamos para uma ideia para uma lona de circo.
A cada ano, a gente foi adaptando ideia até chegar neste formato hoje, com a ideia de circular com a cultura popular pelas bordas de Itaquera, transformando a Kombi em um espaço cultural itinerante.
Victor Hugo Cavalcante: Qual é o objetivo principal da Kombi Cultural ao circularem por bairros como Itaquera? Como vocês enxergam o impacto dessas ações na comunidade local?
A ideia é levar a arte em suas várias versões, através da Kombosa para as bordas do bairro, locais estes, que se encontram distantes de atividades culturais.
Estivemos recentemente vivenciando nossa segunda paragem e percebemos que em cada local que a Kombi estaciona, transformando aquele local em um espaço cultural, muda-se a rotina, muda-se o tempo daquelas crianças, muda-se a própria percepção das crianças sobre o seu próprio território, pois as mesma tem sede de arte, tem sede de cultura, tem sede pelo conhecimento e é isso que a Kombi Cultural se propõem a fazer “levar arte, para que tem sede arte”, independente se é uma rua sem saída, um campo de futebol, um espaço aberto ou até mesmo um estacionamento.
Estamos onde não tem espaços culturais convencionais.
Victor Hugo Cavalcante: Como foi o processo de viabilização do projeto e quais foram os principais apoios que vocês receberam?
O projeto foi viabilizado através da 8ª Edição do Fomento à Cultura da Periferia da Secretaria Municipal de Cultura do ano de 2023, contamos também com o apoio da Secretaria Municipal de Educação, pois o projeto também irá realizar uma circulação por escolas da região e contamos também com o apoio da comunidade local, essas parcerias possibilitam que a gente conseguisse colocar a ideia do projeto em prática, por este ano.
Victor Hugo Cavalcante: A ocupação de ruas sem saída e campos de futebol tem um significado especial para vocês? Como esses espaços contribuem para a dinâmica das atividades?
Realizar atividades em espaços alternativos como o que propomos tem seu ponto positivo, o qual é realmente fazer a verba pública para a comunidade sem catracas seletivas, é a arte do povo para o povo.
Contudo, estar na rua é estar vulnerável às intempéries do tempo, onde, às vezes, fazemos uma programação e o tempo vira completamente e ficamos vulneráveis a estas situações.
Victor Hugo Cavalcante: Como é feita a seleção dos artistas e companhias que participam dos saraus e das oficinas? Quais critérios são utilizados?
Não realizamos seleção, os artistas que fazem parte da ficha técnica, tanto das contações, saraus, oficinas e mediações de leitura, são parceiros da Cia. que durante a trajetória da Cia. realizaram trabalho conosco.
Victor Hugo Cavalcante: Quais foram as reações mais marcantes do público durante as atividades realizadas pela Kombi Cultural? Há alguma história ou evento que se destacou?
A gente tem vivenciado situações hilárias, mas uma que para mim se tornou muito especial foi quando: estacionávamos a Kombosa em nossa primeira paragem, as crianças curtiam tanto estarmos ali, que antes mesmo de chegarmos, elas se organizavam na esquina da rua onde estacionávamos e ficavam esperando a Kombi chegar.
Quando elas avistavam a gente cruzar a esquina, elas começavam a gritar: Kombi Cultural!!! Kombi Cultural!!! Kombi Cultural!!!
Era uma grande festa até a gente descarregar e montar tudo.
Para mim esta situação já pagava o nosso fazer cultural.
Victor Hugo Cavalcante: Como vocês veem a importância da literatura de cordel e da xilogravura na formação cultural e educacional das pessoas? Qual é a resposta dos participantes das oficinas?
A literatura de cordel se tornou um Patrimônio Imaterial Brasileiro, e levar essa arte para as crianças à borda de nosso território possibilita que esta arte se propague e se perpetue por mais gerações.
É a arte do povo para o povo.
Victor Hugo Cavalcante: Quais são os planos para a Kombi Cultural após a terceira paragem em Itaquera? Há previsão de expansão para outros bairros ou cidades?
A segunda fase do projeto é realizar uma pequena circulação por escolas públicas da região, no mês de setembro, onde iremos desenvolver oficinas com os professores de escolas públicas da região com os artistas Daniel Freitas e Marco Haurélio e workshop com as crianças com os artistas Célia Ramos e Antonio Primus, além de apresentações de contação de história também baseada em literatura de cordel.
Victor Hugo Cavalcante: Como são conduzidas as mediações de leitura com as crianças e os saraus para engajar o público?
As mediações de leitura que realizamos com as crianças são atividades lúdicas, onde apresentamos os livros de uma forma diferente, fazendo com que elas entendam que é possível gostar de ler, de enxergar os livros para além de como os conhecem na escola.
Já nos saraus realizamos apresentações de poemas, intervenções teatrais e apresentações musicais.
Victor Hugo Cavalcante: Como a Kombi Cultural se adapta às diferentes necessidades e características de cada bairro por onde passa?
A gente vai sentindo o dia a dia, percebendo como cada atividade reverbera no local e como é absorvida, depois trocamos ideias entre os artistas para saber como melhor desenvolver as atividades.