Um levantamento da International Stress Management Association (Isma) mostra que o Brasil é o segundo país com mais casos de Burnout no mundo.
Reconhecido pelos sintomas de exaustão extrema, estresse e esgotamento físico resultante de situações de trabalho desgastante, o distúrbio recebeu a classificação de doença ocupacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 1º de janeiro de 2022.
De acordo com Rossandro Klinjey, psicólogo renomado em temas relacionados à saúde mental e desenvolvimento emocional, incluindo a compreensão das dinâmicas da ansiedade e depressão no Brasil, um dos principais motivos para o aumento desses sintomas no ambiente de trabalho é a complexa estrutura hierárquica adotada nas empresas nacionais.
O especialista enfatiza que o modelo de gestão tradicional coloca um foco exagerado nos resultados, negligenciando outras variáveis importantes, o que acaba impactando negativamente os colaboradores e, em alguns casos, levando ao esgotamento profissional, também conhecido como Burnout.
“Muitos gestores tratam todas as pessoas como se tivessem o mesmo perfil profissional e não consideram que estão lidando com seres humanos únicos, cada um com suas peculiaridades, qualidades e áreas de desenvolvimento”, analisa Klinjey, que também é cofundador e embaixador da Educa, a principal edtech brasileira especializada em ensino de competências socioemocionais para crianças e jovens no país.
Ademais, o psicólogo destaca que essa abordagem de gestão tradicional frequentemente resulta em um controle excessivo sobre os funcionários, deixando pouco espaço para o exercício da criatividade e, consequentemente, contribuindo para o esgotamento mental dos colaboradores.
“Essa perspectiva leva a erros como a falta de autonomia dos funcionários, que possuem pouco controle sobre seu trabalho e não são incentivados a tomar decisões, gerando sentimentos de frustração”, alerta Rossandro.
Como consequência a esse contexto, muitas empresas brasileiras já procuram promover mudanças internas para disponibilizar um cenário menos agressivo aos colaboradores.
Segundo Priscila Ventura, Head de People da TotalPass, uma das principais soluções de saúde integrada do Brasil no âmbito corporativo, os investimentos destinados à melhora do bem-estar profissional começaram a se intensificar, principalmente, após o reconhecimento do Burnout como doença pela OMS, e impactam diretamente no desempenho e motivação dos trabalhadores.
“O equilíbrio entre o bem-estar físico e mental dos funcionários, além de priorizar a saúde e engajar as equipes, é um diferencial competitivo para a contratação e retenção de talentos, especialmente após a pandemia”, avalia.
Gestão descentralizada como alternativa
Outra companhia que inovou contribuindo com o bem-estar de seus funcionários é a Invenis, legaltech cujo propósito é ajudar a resolver os litígios no Brasil.
Se apropriando da chamada gestão descentralizada, modelo que prega a extinção da pirâmide hierárquica tradicional, a companhia permite que os profissionais se sintam livres para cumprir que atividades consideram confortáveis, além de dar autonomia para que eles possam tomar decisões que julgarem necessárias dentro de sua área de atuação.
O cofundador da startup, Matheus Bombig, enumera os fatores que explicam a decisão pela ruptura do sistema tradicional e a adoção de um modelo sem chefe.
“O modelo tradicional, com uma pirâmide hierárquica, não parecia adequado ao nosso contexto. Acreditamos que quando colocamos o poder de decisão nas mãos de cada um do time dentro da sua área de competência, devolvemos a motivação para que as pessoas desenvolvam suas habilidades, criatividade, que testem e errem. Isso gera um sentimento de dono e culmina com cada um entendendo os limites do lado profissional e pessoal para que um não atrapalhe o outro”, avalia.
Como resultado, a Invenis apresenta um clima organizacional mais cooperativo e congruente, diminuindo a pressão exercida sobre os seus funcionários e, consequentemente, cooperando para não haver incidência de Burnout entre eles.
Além disso, a empresa convive com uma taxa de retenção de talentos bem acima da média do mercado, tendo em vista que o Brasil apresenta uma média de turnover na casa dos 48%, de acordo com um levantamento realizado pela Robert Half, a corporação possui uma média de 18,8%.
Por outro lado, o cofundador ressalta que, da mesma forma que a gestão descentralizada concede autonomia para os profissionais, ela também os condiciona a exercer a autogestão, a criar e se arriscar para funcionar.
“Ou seja, não é uma fórmula que vá necessariamente beneficiar a todos os tipos de colaboradores ou empresas. É preciso que o perfil dos talentos da companhia seja compatível com essa ideia, para que de fato resulte nas melhorias desejadas”, completa.