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Escritor caribenho lança premiado livro no Brasil

O autor, que se dedica a pesquisas sobre colonialismo e problemas ambientais, participa em Ouro Preto de debate com a deputada federal Célia Xacriabá em iniciativa que integra programação do Noite das Ideias 2023, evento francês realizado pela primeira vez no Brasil.

O escritor martinicano Malcom Ferdinand fará nesta sexta-feira, 3 de março, o lançamento no Brasil do livro Uma Ecologia Decolonial, com palestra  às 16h30, no Conservatório da UFMG, em Belo Horizonte.

A obra, que aborda a interação entre o colonialismo e as problemáticas ambientais a partir da situação do Caribe, foi lançada em 2019 na França e premiada pela Fundação de Ecologia Política.

Publicada no Brasil pela Ubu Editora, está em primeiro lugar em vendas na Amazon, na rubrica Ciências Ambientais.

A palestra com o escritor terá mediação da escritora e professora da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) Guiomar de Grammont e tradução de Raissa Palma, diretora da Aliança Francesa de Ouro Preto.

No sábado, 4 de março, Malcom Ferdinand participa de debate aberto ao público com a deputada federal Célia Xacriabá (PSOL-MG), em Ouro Preto.

Tanto a palestra em Belo Horizonte quanto o debate em Ouro Preto, mediado pelo professor Alex Bohrer, fazem parte da programação da Noite das Ideias 2023, evento internacional dedicado à livre circulação das ideias e saberes, que acontece pela primeira vez no Brasil.

A edição brasileira do Noite das Ideias é organizada pela Aliança Francesa de Ouro Preto com apoio do Instituto Francês e da Embaixada da França no Brasil, por meio do Bureau du Livre.

Após o debate do escritor com a deputada Célia Xacriabá, está prevista a apresentação da Bateria Pulsação da Escola de Samba Acadêmicos de São Cristóvão, celebrando a cultura popular de origem africana, gênese do povo ouro-pretano.

As problemáticas ambientais e colonialistas e as perspectivas para o futuro estarão no centro dessa Noite das Ideias, nesta edição brasileira, que busca aproximar os territórios, as culturas e os povos.

Em visita pela primeira vez ao Brasil, Malcom Ferdinand, graduado em engenharia ambiental pela University College London (UCL) e doutor em filosofia e ciência política pela Universidade Paris VII, observa que o princípio filosófico da colonização no Brasil é o mesmo do Caribe, com a exploração do ser humano e da natureza, embora os dois países tenham muitas diferenças.

“O Caribe são ilhas e o Brasil é um continente por si só, onde as formas de extrativismo foram distintas no período colonial”, compara, lembrando serem necessários reconhecimento e reparação da contribuição dos povos autóctones para o mundo, seja no Brasil e em outros lugares do mundo.

Antes de chegar a Ouro Preto, onde está hospedado, Malcom esteve no Rio de Janeiro e descreve suas impressões sobre o Brasil:

“É um país bastante complexo com uma história bem longa que aflora no presente a respeito da escravidão dos africanos e a colonização dos povos indígenas. Mas, em simultâneo, é um lugar de cultura muito rica. Tive a oportunidade de ver a celebração do Carnaval no Rio. O ritmo musical, a estética, tudo evidencia uma raça, uma classe, um gênero”.

Foi para cuidar da ferida aberta pelas inúmeras crises engendradas pelo sistema capitalista que o martinicano Malcom Ferdinand propôs o conceito de ecologia decolonial, abordagem que reúne o ecológico com o pensamento decolonial, antirracista, em uma crítica ao “habitar colonial da Terra”.

Nesta análise, Ferdinand critica o que chama de “dupla fratura colonial e ambiental da modernidade”, de que resultam, por um lado, as teorias ecologistas que desconsideram o legado do colonialismo e da escravidão; e por outro, os movimentos sociais e antirracistas que negligenciam a questão animal e ambiental.

Malcom conta que o trabalho dele de abordar a interação entre o colonialismo e as problemáticas ambientais do Caribe busca sair da “fratura” em que as pessoas não brancas não podem participar das políticas ecológicas.

Ele cita como exemplo a criação de parques naturais, como o Parque Nacional Yosemite, atrativo turístico na Califórnia, Estados Unidos, habitado por milênios, no passado, pelos ahwahneechees.

“Até hoje existe um compêndio de pensadores ecologistas, em que pessoas não brancas eram desautorizadas a falar. Meu trabalho é exatamente sair dessa fratura”, diz, lembrando que é preciso transformar o modo que habitamos a terra coletivamente.

“Reconhecer a importância dos povos taxado de subalternos é reconhecer também a terra de outra forma”, considera.

Com prefácio de Angela Davis, filósofa, escritora e ativista que desde a década de 1960 luta pelos direitos da população negra e das mulheres nos Estados Unidos, o livro Uma Ecologia Decolonial oferece uma aproximação para pensar em um mundo que não mais atire pessoas no porão, condenando-as a uma sobrevida sujeita a doenças, fome e morte, enquanto dá a outras a perspectiva de uma viagem segura no convés, possibilitada pela condição daqueles que ficaram condenados ao porão, em uma metáfora do que acontece até hoje na sociedade.

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