No início da década de 1990, ocorreu a primeira experiência de telemedicina no Brasil.
No entanto, foi somente em 1994 que uma empresa começou a usar essa tecnologia para exames de ECG remotos.
A pandemia de Covid-19, decretada oficialmente pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em março de 2020, gerou profundas transformações na forma como a sociedade se relaciona com a saúde e o trabalho.
Uma dessas transformações foi a consolidação da telemedicina como uma ferramenta essencial durante os momentos mais críticos da crise sanitária.
Durante o auge da pandemia, a necessidade de distanciamento social e a sobrecarga do sistema de saúde impulsionaram o uso da telemedicina.
A modalidade, que até então era limitada e regulamentada somente para situações específicas, tornou-se essencial para garantir o atendimento remoto, especialmente em áreas mais distantes e em momentos em que os hospitais estavam saturados.
Cinco anos depois, a telemedicina não só permanece presente, mas se consolidou como um componente permanente da saúde digital brasileira.
Transformações legais e sociais

Em 2020, o Brasil deu passos importantes para regulamentar a telemedicina.
A Lei n.º 13.989/2020 foi a primeira a permitir, de forma emergencial, o uso da telemedicina no país como resposta à pandemia.
Essa legislação legalizou o atendimento médico à distância, estabelecendo um marco regulatório fundamental durante a crise sanitária.
Com o fim do período emergencial, a Lei n.º 14.510/2022 entrou em vigor, revogando a anterior, mas consolidando a telemedicina como solução permanente no sistema de saúde brasileiro.
Essa nova regulamentação definiu diretrizes claras para garantir atendimentos seguros e eficazes.
Complementando essa legislação, a Resolução CFM n.º 2.314/2022 detalhou as condições para a prática da telemedicina, aprimorando os parâmetros legais para os profissionais de saúde.
Essas regulamentações foram essenciais para assegurar a continuidade dos atendimentos remotos, minimizando riscos de contaminação e ampliando o acesso à saúde.
Quem faz uma análise sobre esse assunto é Cleones Hostins, Head de Área Pública da TopMed:
“A telemedicina no Brasil avançou exponencialmente nos últimos cinco anos, é preciso reconhecer que essa revolução se deve, principalmente, à pandemia de Covid-19, que acelerou tanto a regulamentação quanto a aceitação social dessa modalidade. O que antes era tratado como exceção ou apoio, passou a ser compreendido como uma frente essencial para o fortalecimento do acesso e resolutividade dos sistemas de saúde, público e privado”, afirma Cleones.
Segundo Hostins, a TopMed desempenhou um papel estratégico na evolução da telemedicina ao longo de 19 anos, investindo em modelos inovadores de cuidado digital e serviços personalizados em larga escala.
“A linha de 10 milhões de atendimentos realizados evidencia a maturidade das soluções entregues, a adesão dos usuários e o reconhecimento das instituições parceiras. Hoje, a empresa atua em todo o território nacional, com mais de 4 milhões de vidas sob cuidado e uma arquitetura de telessaúde que inclui enfermeiro, médicos e psicólogos, 24h por dia”.
A telessaúde também ampliou o acesso a diversas áreas da medicina.
Desde a atenção primária até especialidades como psicologia, nutrição e educação física, a modalidade permite um olhar mais amplo sobre a saúde, priorizando a prevenção e o bem-estar físico e emocional.
Apesar dos avanços, para Hostins, alguns desafios ainda limitam o crescimento da telessaúde no Brasil:
• Infraestrutura de conectividade, especialmente nas regiões mais remotas;
• Alfabetização digital da população e dos profissionais de saúde;
• Integração de sistemas (interoperabilidade);
• Financiamento estruturado e sustentável e reconhecimento, tanto no privado quanto no SUS;
• E o desafio cultural de descentralizar o cuidado, reduzindo a dependência das estruturas físicas tradicionais como única porta de acesso à saúde.
“Superar essas barreiras exige um novo olhar sobre o modelo de atenção, colocando a tecnologia como aliada estratégica da gestão e do cuidado centrado no usuário”, finaliza o Head de Área Pública da TopMed.
Impactos nos profissionais de saúde e benefícios para os pacientes

Para entender melhor o impacto da telemedicina no Brasil, conversamos com a médica Dr.ᵃ Juliana Nakamoto Murari.
“Desde 2020, os atendimentos já mudaram e têm mudado, avançando em tecnologias que auxiliam um trabalho mais eficiente. Por exemplo, na questão do sistema de trabalho, hoje a inteligência artificial foi empregada para um pré-atendimento, tirando informações iniciais do paciente, fazendo triagem, transcrição da consulta, entre outras funcionalidades. Já no quesito saúde mental do trabalhador, acredito ter muitos pontos positivos (liberdade geográfica, não perder tempo em deslocamento, não se expor a riscos no trajeto, risco de infecção, redução das idas ao pronto-socorro desnecessárias) e alguns negativos (falta de interação social em equipe, dependência total da parte eletrônica, internet, computador, energia, bom funcionamento do sistema e a limitação do exame físico)”.
Além dos impactos nos profissionais, a telemedicina traz grandes benefícios para os pacientes, devido a uma maior possibilidade de acesso a consultas, especialmente para aqueles que morem em áreas remotas, conforme relata a Dr.ᵃ Juliana:
“Para os pacientes, traz com certeza uma maior possibilidade de acesso a consultas. Diversas vezes já atendi pacientes que relataram não poder no momento ir até o local de atendimento físico por diversos motivos e, através da telemedicina, puderam ter uma orientação especializada naquele momento”.
Ela ainda complementa que, com a pandemia, tornou-se mais comum todo mundo ter algum aparelho medico em casa, auxiliando na questão de termos medidas e aferições na consulta, como, por exemplo, termômetro, balança, fita métrica, oxímetro, aparelho de pressão, glicosímetro, entre outras.
“Isso facilita e auxilia o atendimento, assim como ter um celular com uma câmera que consiga focar para os pacientes enviarem foto de lesões ou alterações que queiram mostrar”, finaliza a médica.
O futuro da telemedicina no Brasil
Com a experiência adquirida durante a pandemia, a telemedicina não só foi legalizada, mas também passou a ser vista como uma solução complementar permanente no sistema de saúde brasileiro.
Hoje, a telemedicina é utilizada não apenas para atendimentos emergenciais ou para crises, mas também como parte de tratamentos contínuos, como acompanhamento psicológico, consultas de pré-natal, entre outros.
Além disso, o crescimento das plataformas digitais e a implementação de novas tecnologias, como a inteligência artificial, promete continuar ampliando as possibilidades da telemedicina, tornando os atendimentos ainda mais eficazes e personalizados.
Cinco anos após o início da pandemia, a telemedicina não é mais uma prática emergencial, mas sim uma realidade consolidada no Brasil, que continua a beneficiar pacientes e profissionais, garantindo mais acessibilidade, segurança e agilidade no atendimento à saúde.
Cleones Hostins, Head de Área Pública da TopMed, ao ser questionado sobre o futuro da telemedicina no Brasil, destacou que, no curto prazo, o futuro da telemedicina no Brasil será marcado pela integração plena ao modelo de atenção à saúde.
“A expectativa é que ela deixe de ser uma frente paralela ou complementar, para se consolidar como componente estruturante das redes de cuidado, especialmente na Atenção Primária, na saúde mental e no acompanhamento contínuo de pacientes crônicos”.
Publicações da OMS e da OCDE, inclusive com trabalhos da TopMed, como o Alô Saúde Floripa, já indicam que o caminho passa pela combinação de quatro elementos principais:
• Autonomia para o usuário, com plataformas, sistemas e processos de atendimento curtos, lineares, seguros e acessíveis. O usuário precisa ter controle sobre sua jornada e não passar por barreiras físicas ou virtuais para concluí-la.
• Atendimento híbrido inteligente, que combine o melhor do presencial e do digital, com base na necessidade real de cada região, estrutura e pessoa;
• Tecnologia como promotora de equidade, ampliando o acesso em territórios antes invisíveis aos sistemas, com uso de ferramentas leves, de fácil manuseio e baixo custo operacional.
• Interoperabilidade entre sistemas de saúde, garantindo acesso unificado aos dados dos usuários, com foco no diagnóstico e tratamento rápido, sem redundância de procedimentos ou tempo de espera.
No Brasil, esse futuro passa pela mudança de mindset dos gestores, e o fortalecimento de investimento em conectividade, formação de profissionais, como o modelo TopMed Academy que integra a graduação com a tecnologia de atendimento remoto, adoção de modelos sustentáveis de integração operacional e financiamento.
“A TopMed acredita que é possível oferecer cuidado de qualidade para todos, com eficiência, segurança e acolhimento, e trabalha diariamente para construir essa nova saúde, com o usuário no centro”, complementa o Head de Área Pública da TopMed.
Já a longo prazo, Cleones, acredita que a telemedicina será presente não somente nos sistemas de saúde, mas na vida das pessoas; assim como consultamos nossas agendas diariamente, ou nosso aplicativo de treino e dieta, vamos nos consultar rotineiramente com serviços de saúde, voltados ao bem-estar, e não à doença.
“A longevidade exige qualidade de vida, por isso alcançar os 80, 90 e até os 100 anos, exigirá da população saúde física e mental, além do que temos disponível hoje, e em um ritmo de entrega muito acelerado e conectado com a ciência e descobertas farmacêuticas, que possam ser feitas sob medida para cada indivíduo”, encerra Hostins.