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Bate Papo com Beto Andreeta

Do latim, “uma mentira contada com boas intenções” a Cia Pia FraUs com os seus 39 anos de existência, já se apresentou em diversos países nos principais festivais (inter)nacionais de teatro, e hoje nós conversamos um pouco com seu diretor Beto Andreeta sobre seus trabalhos, influências e muito mais.

Crédito: Acervo Pia FraUs

Da diversidade de formação de seus componentes (teatro, dança, teatro de bonecos e de máscaras, circo e artes plásticas) surgiu a linha de trabalho da Companhia Pia FraUs: desenvolver uma linguagem que aprimorasse dramaticamente cada uma destas áreas e as integrasse, consolidando um repertório com características muito particulares, buscando o aprofundamento, pesquisa e a integração dos recursos do teatro de animação aos de outras linguagens.

A não-linearidade, o pouco uso da palavra, a força nas imagens, a relação boneco-ator são os elementos que caracterizam os trabalhos da companhia.

Nos seus 39 anos de existência, a Pia FraUs produziu dezenas de espetáculos, apresentando-se em diferentes países nos principais festivais (inter)nacionais de teatro.

O grupo já visitou países como a Argentina, o Uruguai, a Colômbia, o Chile, a Bolívia, os Estados Unidos, a Espanha, Portugal, a Itália, a Suécia, a Suíça, a França, a Inglaterra, a Escócia, a Índia, o Timor-Leste, a Eslovênia, a Holanda, o Equador, a Bélgica, a Venezuela, a Rússia, a República Tcheca e todos os estados brasileiros.

Hoje o grupo possui em seu repertório os espetáculos Bichos do Brasil, Círculo das Baleias, Gigantes de Ar, Filhotes da Amazônia, a remontagem de O Vaqueiro e o Bicho FroxoA última árvore e o espetáculo Bichos Vermelhos.

Ao longo destes anos, o grupo tem se caracterizado por trabalhar com diversos diretores como Naum Alves de Souza, Hugo Possolo, Osvaldo Gabrieli, Carla Candiotto, Marcia AbujamraIone Medeiros, Francisco Medeiros, Wanderlei Piras, Adriana Telg, Beto Andreeta, entre outros, realizando também experiências de coprodução e participação como em Babel Bum (1994/1995), com o grupo XPTO; Sinfonia Circense (1996), com o Acrobático Fratelli e a Orquestra Experimental de Repertório, sob a regência do maestro Jamil Maluf, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo e Terra Papagalis (2010) com o Balé da Cidade de São Paulo.

Quer saber mais da Cia?

Então confira o bate-papo abaixo com o atual diretor da cia Beto Andreeta.

Victor Hugo Cavalcante: Primeiro é um prazer poder recebê-los em nosso site, e gostaria de começar perguntando: Como começou a relação dos integrantes da Cia Pia FraUs com as artes cênicas?

Beto Andreeta: Olá Victor Hugo, como vai? Eu me chamo Beto Andreeta, sou o diretor da Cia Pia FraUs e gostaria de agradecer pelo espaço dessa entrevista. 

Eu vou começar falando um pouco da minha história, porque na Pia Fraus já passaram mais de cinquenta atores e artistas.

É muito difícil falar de cada um que já passou.

A minha história com as artes cênicas começa de uma maneira muito singela, que foi quando eu vi um anúncio de um curso de teatro de bonecos.

Na ocasião eu trabalhava numa entidade e dava muitas aulas para crianças e pensei que esse curso poderia ser uma ferramenta interessante para ampliar meu trabalho com as crianças.

Isso foi no ano de 1981

Eu fiz o curso, me apaixonei pela linguagem e a partir daí meu trabalho foi todo direcionado para o teatro de bonecos, consequentemente, isso reverberou também no trabalho da Pia FraUs.

E esse foi o meu contato inicial com as artes cênicas.

Victor Hugo Cavalcante: Como a Cia Pia FraUs surgiu?

A companhia Pia FraUs surgiu do encontro do meu encontro com o Beto Lima, em 1984 na cidade de Belo Horizonte em um projeto que se chamava Criança faz arte.

Esse projeto era conduzido pela Doroti Marques.

Ela me contratou aqui de São Paulo, fui morar em Belo Horizonte e o Beto Lima era de Belo Horizonte.

Então dentro desse encontro desse projeto que a gente considera que foi o nascimento da Cia Pia FraUs, que, na verdade, durante esses quarenta anos de história, o grupo teve outros nomes, começou com o nome Criança faz arte, depois Beto Beto & Cia e, finalmente Cia Pia FraUs, que é um termo em latim, que significa uma mentira contada com boas intenções.

Victor Hugo Cavalcante: Em 2023 o projeto Teatro Portátil completa nove anos e já está em sua quarta edição, mas como surgiu a ideia deste projeto?

Crédito: Pedro Andreetta

A ideia do projeto Teatro Portátil surgiu da própria história da Pia FraUs.

A gente trabalha com bonecos infláveis gigantes há mais de vinte e cinco anos.

Então pelo costume de usar infláveis gigantes como o cenário e como personagens e se essa ideia foi amadurecendo até que pensamos: porque não construir um teatro com a mesma técnica, é um teatro inflável que pode ser montado e desmontado muito rapidamente, que possa acessar lugares que o teatro, a sala de teatro não consegue chegar?

Esse é o conceito do Teatro Portátil desde que ele surgiu.

Victor Hugo Cavalcante: Quais artistas e cias mais influenciam e no que eles influenciam cada integrante do grupo?

A Pia FraUs tem muitas influências, mas acredito o nosso trabalho carrega uma grande influência de um grupo francês que se chama Plastician Volant.

Eles são os grandes mestres de fazer infláveis no mundo e fazem infláveis de grande dimensões.

E foi a primeira vez que ao assisti-los no evento que a gente participou no ano de 1995, 1993 talvez, não lembro mais.

Esse evento aconteceu no estádio do Maracanã e foi lá que vimos esses infláveis de perto, nos apaixonamos e estamos praticando até hoje.

Victor Hugo Cavalcante: A Cia Pia Fraus levará o espetáculo Bichos Vermelhos para a temporada 2023 do Diversão em Cena em São Paulo, para vocês qual a importância de se fazer essa união entre a arte (no geral) e a ideia de preservação da natureza?

Acredito que juntar a arte e a preservação da natureza é algo muito positivo, principalmente falando para crianças.

Com a criança é possível criar uma conexão com os assuntos por meio do universo da ludicidade, assim as crianças vão viver esses assuntos profundamente.

Por que não usar essa ferramenta que é o teatro para falar da preservação da natureza?

Então, eu acho uma coisa muito legítima e muito positiva, assim como outros temas que devem ser falados para criança, mas a preservação da natureza é muito importante, muito definitiva para o nosso futuro aqui na Terra.

Victor Hugo Cavalcante: Como surgiu a oportunidade de participar da temporada 2023 do Diversão em Cena em São Paulo?

O Diversão em Cena é um projeto muito sério e excelente que a Pia FraUs já teve a possibilidade e a felicidade de participar de diversas edições.

Então eu acho que é excelente participar em 2023 novamente do Diversão em Cena, a gente fica muito feliz que os projetos voltaram e que a gente tá podendo participar mais uma vez.

Victor Hugo Cavalcante: A peça Bichos Vermelhos é inspirada no livro homônimo de Lina Rosa, como surgiu a ideia de fazer essa adaptação?

Rosa é minha amiga, ela é uma organizadora de festivais, e fez um grande festival durante dez anos que era o SESI Bonecos do Brasil, SESI Bonecos do Mundo, e quando ela me apresentou o livro dela, no primeiro momento que li, que eu vi, era um livro muito bem ilustrado e o tema muito interessante eu falei, ‘nossa, isso dá um espetáculo porque é um livro muito estimulante para o trabalho com teatro de bonecos’.

E quase que de imediato perguntei a ela se poderia montar um espetáculo a partir do livro.

Ela ficou feliz, porque eu acho que fui a primeira pessoa que percebeu que aquele livro daria um bom espetáculo e ela me autorizou a fazer e me deu toda a liberdade de adaptar.

Então é uma livre adaptação do livro da Lina Rosa.

Victor Hugo Cavalcante: Quais foram os trabalhos mais incríveis e os mais complicados que vocês já apresentaram? Por quê?

Nesses quase quarenta anos de vida da companhia, nós já fizemos vários espetáculos muito interessantes, alguns mais complicados, outros menos, mas eu acho que um dos mais particulares e mais criativos que fizemos foi o Navegadores, porque a gente criou o espetáculo para ser realizado em uma piscina.

Em 1999 fizemos uma temporada dentro da piscina do SESC Consolação.

Esse foi o espetáculo mais desafiador pela dificuldade de fazer uma encenação dentro da água.

E foi uma coisa muito interessante na nossa vida.

Victor Hugo Cavalcante: Vocês realizarão a exibição do espetáculo Bichos Vermelhos, vocês já o tinham apresentado antes? Qual tem sido o feedback do público para esse trabalho?

Bichos Vermelhos foi criado já faz alguns anos, ganhou prêmio de melhor trilha sonora na cidade de São Paulo, já fizemos temporadas em teatro e no teatro portátil também.

É um espetáculo muito interessante onde as crianças e os pais reagem muito bem, pois percebem a seriedade do que a gente está fazendo e, ao mesmo tempo, a leveza que estamos falando, de um jeito sensível sobre a preservação da natureza.

E elas respondem muito bem e se solidarizam e querem participar desse momento mais harmônico das relações entre o ser humano e a natureza.

Victor Hugo Cavalcante: O espetáculo Bichos Vermelhos conta uma envolvente história dedicada aos animais brasileiros, que fazem parte da lista vermelha das espécies em risco de extinção, ou ainda os próximos bichos a entrar nela, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza, para vocês qual é a importância do público assistir histórias sobre preservação da natureza, ainda mais numa época em que cada vez mais se luta para combater o desmatamento?

Principalmente para crianças, falar sobre a preservação da natureza é como plantar uma semente de consciência para que suas atitudes no futuro sejam a favor da sustentabilidade e preservação da vida.

Acredito que atualmente a humanidade não tem plena consciência da urgência de se preservar a natureza.

Apesar de parecer que esse assunto não é novidade, é urgente e necessário para a sobrevivência da vida humana.

Victor Hugo Cavalcante: Vocês têm uma parceria com a Cia Buzum!, explique-nos mais desta parceria e como ela surgiu?

Na realidade a Cia Buzum! nasceu dentro do grupo Pia FraUs há 13 anos e depois ela se desmembrou e ganhou uma autonomia, com uma estrutura de empresa própria de grupo teatral próprio com a sua personalidade e continuou o seu caminho desvinculada da Pia FraUs, mas os grupos têm essa relação, vamos chamar assim, umbilical, na qual uma nasceu de dentro da outra.

Victor Hugo Cavalcante: Como vocês enxergam o quanto parcerias como a de vocês com a Cia Buzum! podem ajudar a alavancar ainda mais o cenário da arte teatral no Brasil?

A Pia FraUs, durante esses 40 anos, realizou diversas parcerias com grupos como o grupo XPTO, Acrobático Fratelli, com a Cisne Negro Companhia de Dança, com o Ballet da cidade de São Paulo, então é um grupo que está acostumado a fazer parcerias.

Com a Cia Buzum! a parceria é mais intrínseca e longa.

Continuamos com vínculos como ideia e como práxis.

Essas parcerias são muito importantes para o fortalecimento do ambiente cultural.

Victor Hugo Cavalcante: Conte-nos o que podemos esperar para os próximos trabalhos, além do que já foi comentado nas perguntas acima.

Em 2024 a Pia FraUs completa 40 anos, a gente queria fazer uma grande comemoração, a gente queria fazer uma grande exposição de todos os infláveis, uma mostra de repertório do grupo, montar novamente teatro portátil e produzir um novo espetáculo, pois queremos muito falar sobre a Amazônia.

Temos o espetáculo Bichos do Brasil, que fala sobre a preservação dos animais e da natureza, e agora gostaríamos de falar da floresta, da Amazônia e do risco que corre com o avanço da mineração e desmatamento ilegal e, ao mesmo tempo, enaltecer a natureza e toda a cultura de todas as etnias indígenas que vivem na Amazônia.

Então é isso, muito obrigado e até a próxima.

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