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Alexandre Cuba apresenta novo projeto musical em SP

O cantor fala, em entrevista exclusiva, sobre o Compositores Negros, projeto com releituras de clássicos da música afro-brasileira e homenagens.

Foto do cantor e entrevistado da semana Alexandre Cuba.

O mês de novembro é dedicado à consciência negra, um momento para refletirmos sobre a história e as vivências de pessoas negras que, ao longo do tempo, lutaram ou ainda lutam contra o racismo.

Nesse contexto, o projeto Compositores Negros, idealizado pelo compositor e letrista Alexandre Cuba, surge como uma celebração à riqueza e diversidade da música afro-brasileira.

No dia 27 de novembro, Cuba leva este projeto ao palco do Bar Brahma, um espaço histórico de São Paulo.

O projeto traz uma releitura de canções icônicas que fazem parte da história cultural do Brasil, passando por compositores como Itamar Assumpção, Gilberto Gil, Djavan, entre outros grandes nomes da música popular.

Em conversa com o Jornal Folk, Cuba destacou a importância de evidenciar o talento e a genialidade dos compositores negros, além de compartilhar mais sobre esse projeto tão significativo.

Victor Hugo Cavalcante: Primeiro, é um prazer recebê-lo no Jornal Folk! Gostaria de começar perguntando: o projeto Compositores Negros resgatará canções icônicas que carregam histórias de resistência. Para você, o que esse projeto representa pessoalmente e na construção da memória cultural afro-brasileira?

Alexandre Cuba: Prazer é todo meu Victor.

Agradeço a oportunidade para que o público que estiver lendo essa entrevista possa ter um pouco de acesso ao meu trabalho e forma de pensar.

Primeiro que me conforta poder apresentar diversos autores da nossa cultura, pois prefiro fazer um apanhado de canções de vários compositores ao invés de mostrar uma obra de apenas um artista específico.

Do ponto de vista da construção da memória cultural afro-brasileira, entendo que seja um privilégio dividir com o público e salientar intrinsecamente a intelectualidade e brilhantismo humano que independe de raça, cor, etnia, etc.

Mas, como a própria humanidade insiste em separar as pessoas por classes, cores e afins, vamos lembrá-las de que estes compositores tão geniais e do qual todo mundo gosta são negros.

Victor Hugo Cavalcante: A influência africana é fundamental para a arte brasileira. De que maneira você enxerga a música afro-brasileira como um instrumento de mudança social, principalmente na formação e conscientização das novas gerações?

Sem dúvida.

A música por si só já é caracterizada e emblematicamente universal ao consumo humano.

Foi, é e sempre será meio de transformação, apontamento, posicionamento e uma espécie de carimbo de época, por questões regionais, globais, locais e, acima de tudo, expressões individuais e coletivas.

A música tem que ter um papel de diálogo entre os artistas e o público, até que o conjunto da obra, ou seja, letra, melodia, harmonia, ritmo, sons e silêncios, sejam identificadores de uma geração.

Nem sempre para mudar, às vezes apenas para “fotografar” um momento.

Victor Hugo Cavalcante: O Bar Brahma é um espaço histórico de São Paulo, com uma atmosfera única. Como o cenário do Bar Brahma contribui para o significado e a intensidade dessa homenagem?

Interessante que o Bar Brahma foi fundado por um imigrante alemão e já foi encontro de personalidades dos meios acadêmicos e políticos.

Foi palco de discussões políticas promovidas pelos estudantes da Faculdade de Direito da USP, além de apresentações regulares de grandes expoentes da nossa música popular.

Eis aí a combinação significativa e intensa para os dias atuais: Compositores Negros.

Victor Hugo Cavalcante: Das mais de 100 composições que você já registrou, qual delas sente que mais expressa sua identidade como artista negro?

Não entendo que as minhas composições expressem efetivamente minha identidade como artista negro, eu simplesmente sou artista.

Talvez o que ocorra é que, enquanto negro, as dores e percepções nas quais, registro em minhas canções, ora estejam relacionadas com alguma situação resultante do fato de ser negro, ora, por pura idiossincrasia, remeta as pessoas a associarem os assuntos.

Mas não milito nessa direção.

Quero me deparar com pessoas que gostem do meu trabalho, não por uma causa, mas por compartilhar o gosto pela arte apresentada.

Victor Hugo Cavalcante: Em sua trajetória, quais foram os maiores desafios para trazer as influências afro-brasileiras ao seu repertório e, ao mesmo tempo, manter sua autenticidade artística?

Acredito que incorporar as influências é axiomático…

Em algum momento, naturalmente as influências ficarão evidentes.

Portanto, não identifico como um desafio, propriamente dito.

Toda grande ideia é formada pela colisão de pequenas ideias e toda construção de séculos é originária de influências diversas.

No caso dos Compositores negros, é sabido haver uma identificação natural humana, assim como o fenômeno da pareidolia.

Agora, a autenticidade fica fácil para quem compõe, o que é o meu caso, pois estou falando sobre o que sinto, vejo, vivencio e escuto, em alguns casos, por coisas que me contam.

Victor Hugo Cavalcante: A música Centro Velho nasceu em um período de sua vida inserido no mundo corporativo. Em que aspectos essa vivência influenciou sua visão de São Paulo e, ao mesmo tempo, alimentou sua música?

Eu circulei na região do Centro por mais de 20 anos.

Trabalhei no Jornal Folha de S. Paulo nesse período.

Por uma questão nostálgica, sempre observei a região com o olhar do que ela já representou para a cidade e é como eu tento visualizar algumas coisas na vida para de alguma forma criar um entendimento, ou até mesmo admirar algo para criar as minhas composições.

Essa relação de “novo” e “velho”, “ontem” e “hoje”, tem uma dramaticidade legítima que oferece uma poesia de mão beijada para quem quer contar alguma história.

Victor Hugo Cavalcante: Seus arranjos e visuais mesclam nostalgia e intimismo. De que forma essa combinação buscará surpreender e sensibilizar o público na experiência do projeto Compositores Negros?

Achei bastante condizente esse rótulo: nostalgia e intimismo.

Acredito que o show tem uma atmosfera teatral e, ao mesmo tempo, uma proposta musical que me permite cantar com o público como se estivesse sentado na mesa deles falando sobre diversos assuntos, que serão no caso as músicas escolhidas.

Isso explica o intimismo para sensibilizar.

A surpresa serão as intervenções sonoras que o meu parceiro Júnior Mississippi trará ao show, onde pudemos construir juntos ambientes nas músicas que corroboram com esse rótulo.

Victor Hugo Cavalcante: Como você descreve a interação entre suas músicas autorais e as releituras dos clássicos no projeto? De que forma elas juntas constroem a identidade artística que deseja expressar ao público?

Estou vivendo um momento tão importante da minha carreira, sendo justamente o fato de conseguir conectar o meu trabalho com as influências mais latentes, inclusive para mim, depois de tantos experimentos.

Certamente tem canções que te compõe e que estão arraigadas, como acontece com todo mundo, na minha infância, por intermédio de familiares, conhecidos e que em algum momento a gente decide incorporar novas referências em nossa persona, por fazer parte de um grupo, ambiente, etc.

Quando você tem um brilho nos olhos e um sorriso imperceptível para você mesmo, fazendo algo de que gosta, não apenas no lugar de atuação, mas internamente, é a hora em que tudo está “fora” do seu controle e que a exposição é inerente ao recebimento do público presente.

É um presente do público.

Quero dizer que será muito mais valioso o que o público vai expressar diante de tudo o que pretendo apresentar.

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