A todo momento, a mídia especializada publica notícias sobre empresas que obtiveram um grau de certificação que as tornariam reconhecidas como um excelente lugar para trabalhar.
Algumas consultorias se estabeleceram no mercado com o intuito específico de medir o grau de satisfação de funcionários nas empresas em que trabalham.
Aqui vale ressaltar que a validade desse trabalho depende muito de como e com que intenção a empresa utiliza seus dados e de como o mercado o vê.
Confesso que tenho muitas dúvidas a esse respeito.
Muitas empresas utilizam mecanismos interessantes de mapear os diversos aspectos da prática de gestão de recursos humanos em uma organização.
Fornecem informações valiosas para a estratégia de recursos humanos; indicam os temas mais sensíveis e dignos de maior atenção; informam sobre aqueles cuja prática não está indo muito bem e precisam melhorar; indicam os que estão em melhor situação e devem ser preservados; direcionam os caminhos e fornecem sinais.
Mas para isso, utilizam-se de índices para cada área de atuação, tais como: gestão, remuneração, comunicação, etc.
Ao final, apresentam o índice geral de satisfação, o famoso clima organizacional, e aqui começa o problema.
Não há problema com o fornecimento do índice, que faz parte do trabalho e é útil, se utilizado da forma correta, ao permitir que a empresa se compare com ela mesma ao longo do tempo.
Pelo menos é assim que eu considero a validade da metodologia.
O problema vem quando esse índice é utilizado para fornecer uma espécie de “certificação” de que aquela empresa é um bom lugar para se trabalhar ou não. Isso acontece e parece ter se tornado a prática mais comum do mercado.
Empresas se tornam ávidas por essa certificação com objetivos mercadológicos de diversos matizes, a exemplo de: estratégia de recrutamento, estratégia mercadológica frente a potenciais investidores e por aí vai.
Nada mais ilusório e de avaliação relativa.
Empresas possuem áreas de atuação, perfil socioeconômico do conjunto de pessoas que lá trabalham e “momentum” muito diferentes.
E esses aspectos tornam a comparação e o enquadramento em determinada certificação (para efeito comparativo) absolutamente inúteis, de nenhum proveito real, a não ser o mercadológico.
Convido a todos no sentido de não se deixarem iludir facilmente por esses insights mercadológicos.
Exerça de forma criteriosa seu senso crítico e analítico sobre tudo que chega até você. Importe-se mais com o que sente e menos com as mensagens que chegam até você.
É possível que, mesmo em um ambiente considerado adverso, se sinta bem e realizado em todos os momentos da sua carreira.
É bastante possível transformar um trabalho não tão agradável e desafiador em algo bom, perfeitamente possível.
Depende do seu nível de aceitação da realidade do momento e autodesafio.
Da mesma forma, líderes não deveriam se sentir tão culpados ou orgulhosos com uma determinada situação de certificação.
Lembre-se de que toda situação é transitória, pode mudar a qualquer momento.
No mundo de constantes mudanças em que vivemos, o que mais importa, na minha visão, é o propósito empresarial cada vez mais digno, desafiador e claro, congregando pessoas que se identifiquem com ele.
Mais sobre o autor
Armando Bordallo é economista, formado pela PUC-RJ, com uma carreira diversificada que inclui passagens por cargos de liderança em grandes empresas como Shell Brasil, Banco Nacional e Ernst & Young, além de experiência significativa em consultoria e desenvolvimento de negócios e RH.
Além de economista, Armando é consultor e escritor.
Como escritor, ele lançou recentemente o livro Eu Odeio Funcionário: A Respeito do Respeito na Gestão de Pessoas e nos Processos de RH, onde de maneira irônica e perspicaz, mergulha no mundo dos discursos vazios e desconectados que permeiam os processos de gestão de pessoas.