O trio instrumental sorocabano Três no Tom está pronto para uma nova fase em sua trajetória musical com o lançamento do seu primeiro DVD, intitulado Luz e Sombra.
O evento, uma experiência única e introspectiva, ocorreu no dia 6 de agosto no Teatro Municipal Teotônio Vilela.
Com apoio institucional da Prefeitura de Sorocaba e da Lei n°11066/2015, o projeto destacou a evolução artística do trio e a profundidade conceitual de seu trabalho.
Composto por Giovanna Tardelli (piano), Thiago Ismael (saxofones e flauta) e Daniel Ferreira (bateria), o Três no Tom explorou, em Luz e Sombra, a dualidade psicológica, representando os contrastes entre a luz (aspectos conscientes) e a sombra (aspectos inconscientes) da experiência humana.
A sonoridade rica e envolvente do trio é uma mescla de ritmos variados, como samba, baião, bossa nova e jazz, criando uma narrativa musical que reflete a complexidade da mente humana e a beleza das relações interpessoais.
Nessa entrevista exclusiva, Daniel Ferreira compartilhou os insights sobre a inspiração por trás do conceito de Luz e Sombra, como cada membro contribuiu para as composições e os desafios enfrentados durante a gravação ao vivo.
Daniel também refletiu sobre como os ritmos diversos e o apoio institucional foram cruciais para a realização do projeto, e antecipa novos projetos futuros, incluindo um álbum dedicado exclusivamente aos ritmos brasileiros.
Victor Hugo Cavalcante: Primeiro, é um prazer recebê-los no Jornal Folk, e gostaria de começar com a seguinte pergunta: O que inspirou o conceito de Luz e Sombra e como ele se reflete nas músicas do DVD?
Três no Tom/Daniel Ferreira: Agradecemos pela recepção aqui no Jornal Folk, estamos muito felizes em divulgar o nosso novo trabalho.
Acreditamos que o artista possui muitas fontes de inspiração na sua vida e é através da criação artística que ele consegue expressar seus sentimentos, pensamentos, visões de mundo, entre outros, materializando tudo em algo real.
Assim como no primeiro trabalho, a principal inspiração para a concepção do nosso DVD veio da psicologia, através do conceito de Carl Jung chamado “luz e sombra”.
O psicólogo diferencia a “luz” como a parte consciente e reconhecida da nossa personalidade e a “sombra” como os aspectos inconscientes que não aceitamos em nós mesmos.
Acredita-se que a integração desses lados é vital para nosso crescimento e para vivermos de forma mais autêntica.
Com este trabalho, desejamos que os espectadores se envolvam em uma reflexão sobre seus próprios contrastes internos, reconhecendo a beleza em ambos os lados de sua jornada emocional.
Victor Hugo Cavalcante: Como cada membro do trio contribuiu para o desenvolvimento das composições e do conceito do DVD?
O nosso processo de criação costuma ser individual no começo, mas depois se torna colaborativo.
Buscamos dividir as composições por igual, onde cada membro do trio traz as suas próprias músicas, carregadas de influências e experiências pessoais.
Feito isso, começamos a trabalhar na criação de um conceito do projeto e estruturar as músicas em questão de arranjo.
Por exemplo, a música Psyche composta pela pianista Giovanna Tardelli, serve como uma reflexão profunda sobre a complexidade da mente humana.
O título da música é uma referência direta ao conceito psicológico de “psique”, que representa o conjunto de processos mentais e emocionais que formam nossa identidade e percepção de mundo.
A música Luz, composta pelo saxofonista Thiago Ismael, foi feita para a sua esposa Amanda, onde tenta retratar como é um relacionamento com suas duas fases, uma representada pelo amor, carinho e momentos bons e a outra pelos desafios e diferenças inerentes a cada casal.
Em última análise, Imensidão composta por mim (Daniel) busca explorar a vastidão da nossa existência, tanto do ponto de vista psicológico quanto físico.
A música convida a uma profunda reflexão sobre o que somos em relação à imensidão do universo.
Ela nos desafia a contemplar nossa própria magnitude e fragilidade frente ao vasto cosmos, revelando a complexidade e a profundidade da nossa jornada existencial.
Victor Hugo Cavalcante: Quais foram os maiores desafios na produção e gravação do DVD ao vivo?
Um dos desafios foi justamente o fato de ser uma gravação ao vivo e com a participação do público.
Diferentemente de uma gravação em estúdio, na qual podem ocorrer pausas maiores, cortes e recortes, no DVD ao vivo as faixas precisavam ser executadas por inteiro.
Se quiséssemos corrigir algum erro, teríamos que recomeçar a música desde o início.
Além disso, desta vez acreditamos que o repertório estava mais desafiador que no primeiro trabalho, pois algumas músicas possuem métricas irregulares e harmonias mais densas.
Victor Hugo Cavalcante: Como a escolha do Teatro Municipal Teotônio Vilela e a iluminação cênica foram planejadas para complementar a proposta do DVD?
Nós gostamos muito do Teatro Municipal Teotônio Vilela, já que além de possuir toda a estrutura necessária para realizar a gravação em termos técnicos, a atmosfera que um teatro tem é diferente do que qualquer outro lugar.
Esse clima acolhedor e intimista que o teatro proporciona, além da acústica natural do lugar, oferece tudo o que precisamos para capturar a essência da nossa música ao vivo.
Além disso, o teatro simboliza a dualidade de “luz e sombra” que exploramos no DVD.
A iluminação e a ambientação teatral são ferramentas poderosas para reforçar o conceito central do projeto, permitindo-nos brincar com sombras, contrastes e nuances visuais que complementam a música e amplificam a mensagem que queremos transmitir.
Gravar no teatro não foi apenas uma escolha técnica, mas uma decisão artística que reforçou a integridade e a profundidade do DVD Luz e Sombra.
Victor Hugo Cavalcante: O que você espera que o público sinta ou reflita ao assistir e ouvir Luz e Sombra?
Ao assistir e ouvir Luz e Sombra, esperamos que o público seja profundamente tocado, tanto emocional quanto intelectualmente.
Queremos que cada pessoa se permita mergulhar na dualidade presente na música e na vida, refletindo sobre seus próprios contrastes internos.
Além da música, os efeitos de luzes ajudam a transformar a atmosfera musical em criação visual através das cores, intensidades e desenhos de luzes.
Esperamos que a pessoa também seja tocada por além da audição, mas também da visão.
Queremos que cada espectador saia da experiência com uma nova perspectiva psicológica e mais conectado consigo mesmo e com os outros, encontrando beleza e significado tanto na luz quanto na sombra.
Victor Hugo Cavalcante: Pode nos contar um pouco sobre a experiência de gravar o DVD ao vivo? Houve alguma performance memorável durante a gravação?
Gravar um material ao vivo traz, por si só, diversos desafios a serem superados.
Primeiramente, quando você se propõe a captar seu trabalho ao vivo, é preciso estar disposto a lidar com erros, sendo, portanto, bem diferente de um ambiente de estúdio, onde é mais fácil maquiar as imperfeições e recomeçar a gravação.
Além disso, você está sujeito aos erros de outros profissionais envolvidos na gravação, sendo importante estar cercado de pessoas em quem você confia no trabalho.
Durante a gravação, tivemos que parar uma ou duas vezes no meio das músicas e tocar novamente por conta de erros no arranjo musical, além de repetir algumas músicas para garantir o “take ideal”, mas no geral a gravação fluiu super bem e ficamos felizes com o resultado.
Mesmo assim, apesar de todas essas dificuldades, optamos pela gravação ao vivo para ter um contato mais próximo com o público, tendo em vista que a nossa música é instrumental e possui improvisos.
Esse contato mais próximo com o público é interessante por influenciar na sua maneira de tocar e de se posicionar como artista, deixando a gravação mais orgânica na nossa opinião.
Victor Hugo Cavalcante: De que maneira a inclusão de ritmos como samba, baião, bossa nova e jazz contribui para a narrativa do DVD?
A inclusão desses ritmos representa os diferentes gostos e influências musicais do trio, variando de pessoa para pessoa.
Não tentamos estipular nenhuma regra para isso, mas as nossas composições naturalmente carregam diferentes características das músicas que mais consumimos.
Então, as composições da Giovanna diferem das do Thiago, que por sua vez diferem das minhas.
Gostamos dessa mistura, acreditamos que deixa o trabalho mais rico no sentido cultural e artístico, além de fazer com que você se desenvolva como músico também.
No entanto, apesar dessas diferenças, tentamos fazer com que as músicas tenham certas similaridades para criarem uma conexão entre si e construírem uma “narrativa”.
Essa é a maneira como desenvolvemos os nossos trabalhos pelo Três no Tom.
Victor Hugo Cavalcante: Como o apoio institucional da Prefeitura de Sorocaba e da Lei n°11066/2015 impactou a realização deste projeto?
O projeto foi contemplado pela Lei n°11066/2015, também conhecida como LINC (Lei de Incentivo à Cultura).
Dessa forma, o projeto recebeu o fomento direto da Secretaria de Cultura, via Prefeitura Municipal de Sorocaba, para cobrir todos os custos referentes à realização do projeto.
Victor Hugo Cavalcante: Vocês mencionaram a ideia de uma jornada introspectiva no DVD. Pode nos dar um exemplo de como uma das faixas explora essa introspecção?
Um exemplo disso é a música Psyché, a qual exprime a complexidade da mente humana.
Temos em torno de 86 bilhões de neurônios dentro de nossos cérebros, órgão com, no máximo, 1,5 kg.
Como é possível tantas conexões neurais em nossos cérebros?
Claro que a mente humana não se resume a este órgão (que é incrível), mas é uma forma de ilustrar o quão complexo somos e, provavelmente, é por isso que não existe um ser humano igual ao outro.
Victor Hugo Cavalcante: Quais são os próximos passos para o Três no Tom após o lançamento de Luz e Sombra? Há novos projetos ou colaborações planejadas?
Temos em mente planejar um álbum só com ritmos brasileiros, mas por enquanto não temos nenhum projeto novo a ser lançado.
Porém, recomendamos seguir as nossas redes para ficarem antenados sobre futuras novidades.