Crédito: Thaís Alves
O Núcleo Negro de Pesquisa e Criação (NNPC) apresenta a peça Fala das Profundezas no Teatro Cacilda Becker, nos dias 15, 16 e 17 de setembro, sexta e sábado, às 21h, e domingo, às 19h, com ingressos gratuitos e interpretação em Libras.
A peça mostra a insurgência de um povo contra uma engrenagem que precariza a vida para acumular poder.
As contradições deste povo despontam junto aos seus anseios, sonhos e prazeres no território em que vivem, tendo como pano de fundo a iminência de uma combustão social.
Fala das Profundezas busca ativar imaginários de mobilização coletiva, no sentido de fazer crer que, mesmo em um contexto de exceção, repleto de contradições e de escassez, é possível criar movimentos em prol de melhores formas de viver.
“Este ‘possível’, na peça, é apresentado, ao longo da narrativa, como uma espécie de centelha que vai se desdobrando em mais centelhas e, assim, animando essas personagens que, apesar de tudo, sonham, festejam e confabulam como um ato contra o marasmo do sistema capitalista” comenta o autor e diretor Gabriel Cândido.
A encenação do NNPC acontece em formato de arena, no qual as atrizes e os atores propõem um jogo cênico de aproximação e distanciamento com o público durante toda a narrativa, assumindo-o como parte do acontecimento teatral.
O diretor comenta:
“Um teatro negro que não está pautado pelo racismo gera estranhamento, por ser o que sempre esperam de nós. Penso que Fala das Profundezas não corresponde a essas expectativas porque buscamos o exercício da alteridade radical, quando debatemos questões presentes em toda a sociedade brasileira, desde relações afetivas até as relações de terra, trabalho e capital”.
O enredo é conduzido por um coro heterogêneo denominado Outras-Pessoas, que por sua vez representam o povo, e por cinco personagens que emergem deste coro:
Dafina (Maria Gabi) e Anele (Tásia d’Paula)são duas mulheres que tentam lidar com uma relação de amor mal resolvida enquanto confabulam sonhos perigosos; Thato (Deni Marquez) se torna uma das exceções ao conquistar o básico, mas suas atitudes geram revolta e perseguição do povo ao qual ele se recusa a pertencer; Luísa e Frantz (Ellen de Paula e Fábio Lopes) que, ao confidenciarem as situações absurdas que ocorrem nas Profundezas, ativam em Luísa a motivação necessária para sair em busca de mobilização coletiva para lutar contra aqueles que detêm o poder.
As histórias acontecem em tempos plurais, numa dinâmica de encontros e desencontros, permeados por ideias e desejos de uma revolta popular que se espalha de um a um, até se concretizar em uma ação coletiva.
Estas apresentações integram o projeto Escombros — Parte I: Fala das Profundezas, contemplado pela 16ª edição do Prêmio Zé Renato de Teatro para a Cidade de São Paulo, da Secretaria Municipal de Cultura.
A circulação de Fala das Profundezas, iniciada em junho, no Centro Cultural Grajaú, prevê 20 apresentações gratuitas, com intérpretes de Libras, em diversas regiões da capital.
Atividades como bate-papos (Outros Olhares) com convidados, após cinco apresentações, e sessões para sete grupos de escolas públicas, instituições e projetos de formação e movimentos sociais integram a programação.