Um homem embarca em uma viagem de trem rumo a Bragof, um lugar onde poderá reencontrar os sentimentos perdidos durante a vida.
Pelo menos, foi isso que soube depois de cruzar com duas figuras estranhas que apareceram em seu quarto e propuseram a ele esse percurso.
Título do livro de Fauno Mendonça, o lugar talvez tenha as respostas sobre a existência que nem mesmo o protagonista compreende.
O problema é que chegar ao local vai ser mais difícil do que imaginava.
Sem ter o nome citado na narrativa, o personagem principal desconhece qualquer direção objetiva, e as pessoas que encontra no trajeto estão todas à procura de seus destinos individuais.
Ele segue em frente mesmo assim, ainda que precise enfrentar nevoeiros, seres estranhos e momentos de intensa dúvida sobre as próprias escolhas.
A partir da literatura fantástica, o autor elabora um enredo que atravessa os limites entre sonho e realidade.
Tudo o que o protagonista experiencia tem efeitos verdadeiros nas suas emoções, apesar de sempre parecer estar no mundo onírico.
Muitas vezes, sente-se ansioso, frustrado, nervoso e angustiado, principalmente quando precisa encarar as decisões que tomou no passado e no presente.
— Sente-se, sinto muito, mas você terá que ficar para nos contar sobre seus sentimentos perdidos. Agora, não tenha pressa, você teve todo tempo do mundo…
Aquelas palavras foram avassaladoras e adentraram em minha alma como uma lança pontiaguda, mas antes de atingi-la, acertaram minhas forças. Passei a não mais possuir condições de andar, apenas consegui ficar em pé sem saber ao certo aquilo que deveria fazer.
Bragof, p. 14
Para construir a trama, o escritor recorreu a vários elementos kafkanianos, como a culpa existente nos conflitos entre bem e mal; a expressão do absurdo e da irrealidade para se contrapor à racionalidade; e a atitude das pessoas de esquecerem erros para criar uma ideia ilusória de felicidade.
Fauno Mendonça faz uso destas características para também refletir sobre a fugacidade da vida, a necessidade de coragem no enfrentamento de conflitos e a busca por um significado maior para as vivências humanas.
Esses temas são abordados envoltos do mistério final sobre o que exatamente há em Bragof e se o personagem chegará ao destino.
O escritor explica:
“A ideia é desconfortar o leitor durante todo o livro ao dar uma possibilidade de que a pessoa acorde. Na maioria das vezes, é possível ter raiva do personagem principal, das escolhas que faz. Mas é importante ter um pensamento crítico: será que isso não acontece comigo de alguma forma?”.