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Livro narra crise de identidade de um cão

Marcelo Barbosa reúne em A Vida de Cão do Requis as alucinações, medos e neuroses de um animal que vivencia o contexto marginalizado de uma favela brasileira.

Imagem-montagem com foto do livro A Vida de Cão do Requis.

A vida de cão do Requis parece a de muitos brasileiros: ele está em uma situação de semiabandono enquanto tenta formar laços, reinventar-se e entender os próprios conflitos internos em meio ao contexto de negligência na favela onde mora.

Muito do que o personagem conhece é um mundo de medo constante, no qual nenhum animal sabe quando será levado pela carrocinha, atingido por uma bala perdida, ou deixado para trás pela família.

Devido ao nome que lhe deram, somado às adversidades enfrentadas diariamente, o protagonista questiona se é cachorro, dinossauro ou pessoa.

É por meio desta perspectiva que o psicanalista Marcelo Barbosa constrói uma série de contos neuróticos visando levantar questionamentos sobre saúde mental, tratamentos, busca por identidade e impactos da realidade na psique humana.

O autor une as experiências de consultório aos anos como morador de uma das maiores favelas da América Latina para traçar críticas à estrutura social brasileira que marginaliza milhões de cidadãos.

“Fiz uma junção de traumas pessoais com traumas de pacientes que atendi para mostrar esse contexto periférico e as violências resultantes das desigualdades”, explica o escritor.

— Acabou de chegar mais uma peça. Olha isso…
— O que aconteceu com esse miserável cachorro?
— Foi atropelado!
— Coitado, parece que sofreu bastante, está todo quebrado esse animal.
— Já não bastasse morrer, tem que sofrer antes da morte?
— Pois é… Vamos ao trabalho.

A vida de cão do Requis, pág. 31

Ele também decidiu utilizar a literatura para desmistificar o processo terapêutico após perceber preconceitos enraizados sobre os cuidados com a mente.

Entre momentos trágicos e cômicos, A vida de cão do Requis apresenta uma história com ritmo fluido e linguagem coloquial, mas com cortes na narrativa que representam a confusão vivenciada pelo protagonista.

A partir da ficção, o psicanalista produz uma obra sobre a subjetividade humana atravessada pelas complexidades das realidades do país.

Diante de circunstâncias de violência, profundas desigualdades socioeconômicas e falta de atenção para a mente, o livro reflete sobre qual o espaço que resta para compreender as emoções, os sentimentos e os processos psicológicos internos.

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