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Juão Nÿn mergulha na ancestralidade em seu primeiro disco

O disco NHE’ETIMBÓ foi inteiramente composto em Tupi, visando direcionar a atenção da indústria musical para a Música Indígena Contemporânea.

Imagem-montagem com capa do disco NHE’ETIMBÓ.

Como um contrafeitiço musical, o álbum de estreia do cantor e compositor potiguara Juão Nÿn é apresentado.

O primeiro disco do artista é intitulado NHE’ETIMBÓ (Ouça o disco completo no final da matéria), a partir do conceito original de VOZ, FUMAÇA DE CORPO, o qual é subtítulo e livre interpretação do neologismo Nhe’etimbó, uma elaboração de que voz é corpo para devolver no canto dignidade ao próprio recorte indígena, revalorizar o sagrado nativo e deixar um material artístico e criativo da própria cultura étnica, sendo um bom ancestral.

Ao longo de nove faixas cantadas em Tupi, um prólogo e um epílogo com ruídos baseado no Grito/Canto dos Anjos, Juão apresenta uma pesquisa pela cultura do próprio povo, em uma obra que entrelaça a riqueza cultural indígena com sons contemporâneos e dançantes.

Grito/Cantos do Anjos é um som, relatado pelos colonizadores, que os Potiguaras faziam ao serem executados queimados pelo calor de uma fogueira, amarrados de cabeça para baixo sobre elas.

Detalhes do álbum e tracklist

O cantor e compositor potiguara Juão Nÿn. Crédito: Gustavo Paixão

KARAIMONHANG é a canção-foco do projeto e traz a palavra como portal, como um pedido de benção sendo colocado na boca do público.

“Eu penso arte e vida de uma forma muito integrada, então este lançamento é fruto deste movimento de colocar para fora tudo o que já estava dentro de mim há tempos. São músicas que eu já canto entre os meus, com as pessoas que já estão comigo”, conta Juão.

O álbum parte do conceito da fumaça como a ponte entre o mundo material e imaterial, baseado num ditado de Catimbó a fumaça é a voz.

“Então, na hora em que me juntei a Romildo Araújo, meu professor de Tupi Potiguara, e ao produtor Guilherme Kastrup, transformamos as canções que já me orbitavam, seja no teatro ou no terreiro”, completa o artista.

NHE’ETIMBÓ evoca a simbologia da fumaça, baseada na ideia do contrafeitiço.

Cada faixa é uma manifestação musical que busca transformar a percepção e a consciência do público, começando pela intro AWE NHE’E, que resgata palavras sagradas que sofreram o uso pejorativo por conta do racismo religioso.

“A alma das nossas palavras está na linguagem, como um feitiço, por isso apresento o álbum completo como um contrafeitiço”, enfatiza Juão.

O interlúdio é amarrado ao final do disco, pelo epílogo AWE TIMBÓ.

Com a intro, a tracklist é então seguida pela faixa ABYA YALA, primeiro single apresentado, que traz uma expressão afirmativa para ecoar “Terra Viva”, pelos povos originários.

O termo é oriundo da cosmovisão do povo Guna do Equador, e enfatiza como os povos decidiram chamar o continente, ao invés de usar o nome de um colonizador para batizar as terras em que vivem.

KA’ATIMBÓ é então apresentada como uma metalinguagem por trazer literalmente um catimbó.

“Esta é uma canção de 1938, que foi registrada pelas missões folclóricas de Mário de Andrade. Ela é cantada em português e quando escutei identifiquei ser uma canção de cosmologia potiguara”, explica Juão.

A terceira faixa é ASÉ, segundo single lançado, criado a partir de um provérbio potiguara.

TIMBORA, que significa fumaça no Tupi, versa então sobre como a mesma conecta os mundos materiais e imateriais, e as influências entre ambos.

Abrindo a segunda metade do álbum, TAMUI PEBA, por sua vez, é uma canção mais infantil com o intuito de ajudar a lidar com o luto, por meio de versos sobre um ciclo de retroalimentação sobre a carne de caça.

Sendo seguida por XAWARA SUPÉ, que traz uma composição sobre o entendimento de Juão de se ver no meio de uma guerra entre a fumaça boa e a ruim, “é uma canção que fala sobre como nós artistas guerreiros da cultura estamos batalhando nessa guerra das fumaças, como metáfora para o imaterial”.

A faixa-foco do disco, KARAIMONHANG, chega para ressaltar a palavra como um portal.

Já INIABA é uma canção que brinca sobre respirar e fumar:

“Ao fazer isso viramos uma rede para o vento se balançar, é uma música bem bucólica e rural para saudar esse ancestral que é o vento”, conta Nÿn.

Para completar a tracklist, Juão apresenta SY’I, em que nina sua mãe.

“Fiz esta música para minha mãe e minha avó, como uma canção para ninar mães, pois quando estou no colo dela eu esqueço que viver é esta insistência”, reflete o artista.

O álbum então é amarrado, como um ato cultural, reafirmando seu lugar como algo imaterial, pois a cultura, a música, a palavra e a fumaça são coisas que “ninguém consegue pegar, mas todos conseguem sentir”.

Gravado inteiramente na Toca do Tatu, estúdio de Kastrup, o disco de estreia de Juão traz como principais influências, artistas indígenas contemporâneos, como Cacique Pequena, Wakay, Gean RamosFykya PankararuLyryca, Kuaray O’ea, Siba Puri, Brisa Flow, KaêWescritor, MC Poka Roupas, dentre numerosos outros.

Ouça o disco NHE’ETIMBÓ completo abaixo:

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