Sem a pretensão de ser agradável ou polido, é de drama, astúcia e liberdade que vive o Poeta Vagabundo.
Protagonista eu lírico de A Casa Cósmica, não mede palavras para opinar sobre política, religião, relações humanas e, principalmente, o senso comum, e quem decide segui-lo sem questionamentos.
Para ele, a estrutura do “obedecer e ser obedecido” é inglória e quem escolhe de desgarrar da massa poderá gozar dos prazeres da vida, como o amor, humor e arte.
O poeta excêntrico criado pelo escritor gaúcho Gustavo Malagigi provoca no leitor uma miscelânea de sentimentos, que podem variar rapidamente entre alegria e aversão.
O próprio título da obra referencia a este cosmos único, ora ordeiro, ora caótico, criado pelo protagonista e no qual as críticas são feitas despreocupadamente em tons de sarcasmo, acidez e revolta, mas também com boa dose de drama, afeto e delicadeza.
Enquanto no poema Menina expõe a repulsa ao conservadorismo, machismo e extremismo, a crônica Canários caribenhos usa linguagem poética, mas tom seco, para fazer questionamentos ao governo ditatorial da Cuba castrista.
Uma verdadeira coletânea dedicada a quem não se conforma com definições rasas de como é ou deve ser a vida; pessoas que, assim como ele, procuram por alívio das próprias tragédias, ou doses de pecado para saciar inquietações.
“Meus pensamentos são uma afronta pra o mundo. Minhas ideias são diabólicas!
A Casa Cósmica, p. 151
Imagina só: eu falo em liberdade, falo em amor, em sexo… Eu discuto, sim, religião,
futebol, política… Eu gosto de poesias. Até me atrevo, vez que outra, a escrever
uns versinhos sem lá grande técnica. Eu costumo pensar…”.
Inspirado pelo espírito satírico de Gregório de Matos (O Boca do Inferno), e pela insanidade do dramaturgo gaúcho Qorpo-Santo, precursor do teatro do absurdo no Brasil, Malagigi reage ao mundo por meio da literatura.
É pelas palavras que se sente transcender à realidade monótona, imposta pelo senso comum que critica.