O Grupo Brasileiro de Câncer de Cabeça e Pescoço (GBCP), em alusão à campanha Julho Verde, mês de conscientização sobre a doença, traz o tema Informação que Muda Histórias, com a proposta de conscientizar a sociedade brasileira sobre a importância de alertar para as principais causas de tumor maligno nesta região: tabagismo e infecção pelo vírus HPV.
O alerta do GBCP é alusivo ao Dia Mundial de Conscientização sobre Câncer de Cabeça e Pescoço.
Diferente de muitos tipos de câncer, em que as principais etiologias (causas) não são conhecidas, os principais fatores de risco para desenvolvimento de câncer de cabeça e pescoço são bem estabelecidos: não fumar, evitar consumo de bebidas alcoólicas e se prevenir contra o vírus HPV, medida para a qual há vacinas na rede pública e privada de saúde, para imunização de meninos.
Há, portanto, um fator comum nos tumores de cabeça e pescoço: são evitáveis.
“A perigosa junção entre tabagismo e consumo de bebidas alcoólicas é sinérgica. Os riscos não se somam. Eles se potencializam”, alerta o oncologista clínico e presidente do GBCP, Thiago Bueno de Oliveira.
Para ser mais exato, cerca de 40% dos casos podem ser evitados ao não fumar, não consumir bebidas alcoólicas em excesso, vacinar contra o Papilomavírus Humano (HPV) e fazer a higiene bucal corretamente, usar filtro solar, inclusive nos lábios.
Este é o caminho da prevenção e mudar esta realidade depende de cada um de nós.
Desde janeiro de 2017, o Ministério da Saúde oferece a proteção de meninos contra o vírus HPV.
Essa medida se soma à imunização que já ocorria desde 2014 nas meninas.
As vacinas contra HPV protegem contra os dois subtipos do vírus mais associados com câncer.
Esses HPVs oncogênicos, 16 e 18, são também prevalentes em tumores de cabeça e pescoço, principalmente de orofaringe.
“A contribuição de todos para esse propósito é muito importante. Juntos, podemos amplificar e construir uma base de informação sólida que quebre o desconhecido e gere transformação. Queremos que a informação correta e atualizada sobre o câncer de cabeça e pescoço chegue a todos os profissionais de saúde e para a população em geral”, reforça Thiago Bueno.
Palpável e visível, mas diagnosticado tardiamente
Ao contrário do que ocorre em outros órgãos, quando o câncer acomete a região de cabeça e pescoço, a doença pode ser visível ou palpável.
Apesar disso, os sinais geralmente não são percebidos.
No Brasil, 8 entre 10 casos de câncer que acometem, por exemplo, a cavidade oral, são descobertos já em fase avançada.
Como consequência, o diagnóstico tardio resulta em menor chance de controle da doença, pior qualidade de vida para o paciente, maiores taxas de morbidade e mortalidade, maior risco de mutilação em razão da necessidade de cirurgias mais extensas, maior complexidade de outras modalidades de tratamento e maior demanda por reconstrução facial, assim como mais desafios na reabilitação do paciente.
Em meio a este cenário, o Grupo Brasileiro de Câncer de Cabeça e Pescoço (GBCP), em alusão ao Julho Verde, mês de conscientização sobre a doença, trouxe a campanha Sinais que podem mudar histórias, com ações que buscam o envolvimento da sociedade, imprensa, gestores e profissionais da saúde, formadores de opinião e educadores para que o máximo de pessoas, de todas as faixas de idade, conheçam a doença e saibam sobre as causas, sintomas, como prevenir e como fazer o autoexame para identificar alterações suspeitas.
A missão com a campanha é contribuir diretamente na difusão de informação diferenciada sobre a doença, fatores de risco e sintomas.
“Além de apontar para quais sinais todos nós devemos estar atentos, vamos alertar para a associação destes tumores com tabagismo, consumo de álcool e infecção pelo vírus HPV. Sempre com um conteúdo didático, referenciado e qualificado, com linguagem acessível a todos”, afirma Aline Lauda Chaves, oncologista clínica e diretora do GBCP.
Quais são os sinais?
Os principais sinais de alerta para câncer de cabeça e pescoço são:
- Ferida na boca que não cicatriza (sintoma mais comum);
- Dor na boca que não passa (também muito comum, mas em fases mais tardias);
- Nódulo persistente ou espessamento na bochecha;
- Área avermelhada ou esbranquiçada nas gengivas, língua, amígdala ou revestimento da boca;
- Irritação na garganta ou sensação de que alguma coisa está presa ou entalada na garganta;
- Dificuldade para mastigar ou engolir;
- Dificuldade para mover a mandíbula ou a língua;
- Dormência da língua ou outra área da boca;
- Inchaço da mandíbula que faz com que a dentadura ou a prótese perca o encaixe, ou incomode;
- Dentes que ficam frouxos ou moles na gengiva, ou dor em torno dos dentes, ou mandíbula;
- Mudanças na voz;
- Nódulos ou gânglios aumentados no pescoço;
- Perda de peso;
- Mau hálito persistente.
Vale ressaltar que a existência de qualquer dos sinais e sintomas pode sugerir a existência de câncer, cabendo ao médico avaliar a necessidade de se pedir outros exames para confirmar ou não o diagnóstico.
Muitos desses sinais e sintomas podem ser causados por outros tipos de câncer ou por doenças benignas.
É importante consultar o médico ou o dentista se qualquer desses sintomas persistir por mais de duas semanas.
Quanto mais cedo for feito o diagnóstico e iniciado o tratamento, maiores são as chances de sucesso.
A doença no Brasil e no mundo
A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC/OMS) aponta serem esperados mais de 1,5 milhão de novos casos de câncer de cabeça e pescoço no mundo em 2024, sendo assim o quinto câncer mais prevalente.
Considerando todos os tipos de tumores que acometem a região de cabeça e pescoço, são mais de 460 mil mortes anuais.
No Brasil, os tipos mais comuns de câncer de cabeça e pescoço nos homens são os de cavidade oral e laringe nos homens e de tireoide, nas mulheres.
As estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA) para cada ano do próximo triênio (2023–2025) apontam para 41 mil novos casos de câncer de cabeça e pescoço.
Na lista dos dez tipos mais comuns em homens e mulheres no país, os tumores na região mais comuns são cavidade oral e laringe (homens) e tireoide (mulheres).
Homens | Mulheres | ||
Próstata | 71.730 | Mama | 73.610 |
Colorretal | 21.970 | Colorretal | 23.660 |
Pulmão | 18.020 | Colo do útero | 17.010 |
Estômago | 13.340 | Pulmão | 14.540 |
Cavidade Oral | 10.900 | Tireoide | 14.160 |
Esôfago | 8.200 | Estômago | 8.140 |
Bexiga | 7.870 | Corpo do útero | 7.840 |
Laringe | 6.570 | Ovário | 7.310 |
Linfoma não Hodgkin | 6.420 | Pâncreas | 5.690 |
Leucemia | 6.390 | Linfoma não Hodgkin | 5.620 |
Por que diagnosticar precocemente é tão importante?
Dados sobre câncer de cavidade oral e laringe do levantamento SEER, do Instituto Nacional de Câncer dos Estados Unidos (NCI), apontam que em apenas 26% dos casos o câncer de cavidade oral é diagnosticado com a lesão ainda restrita ao local.
Por conta da alta prevalência de diagnóstico tardio, a taxa de cura (o paciente estar vivo cinco anos após o diagnóstico) é de 69%.
Os dados mostram que 87,5% dos pacientes estão vivos cinco anos após o tratamento quando o tumor era inicial, localizado apenas no órgão.
Quando a doença se espalha pelos linfonodos a taxa de sobrevida em cinco anos cai para 69,5%.
Com doença à distância (metástase) a taxa é de 37,8%.
A triagem para o diagnóstico do câncer de cavidade oral começa na saúde primária, pelo exame clínico (visual) durante consulta ou durante atendimento com o dentista.
Sua confirmação depende da biópsia que, na maioria das vezes, pode ser feita de forma ambulatorial, com anestesia local, por um profissional treinado.
A análise do material retirado em biópsia é feita pelo médico patologista, responsável por definir o subtipo e grau de agressividade.
Alguns exames de imagem, como a tomografia computadorizada, também auxiliam no diagnóstico, e, principalmente, ajudam a avaliar a extensão do tumor.
O exame clínico associado à biópsia, com o estudo da lesão por tomografia (nos casos indicados) permite ao cirurgião definir o tratamento adequado.
As lesões muito iniciais podem ser avaliadas sem a necessidade de exame de imagem num primeiro momento.