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Carla Carvalhosa fala sobre instalação provocativa no RJ

Artista plástica revela em entrevista sobre a instalação A Sereia e o Grito dos Oceanos que faz parte da exposição Ser Mulher: um Percurso de Papéis no CCCRJ.

Foto da artista plástica e entrevistada Carla Carvalhosa.

A Sereia e o Grito dos Oceanos é uma instalação provocativa criada pela artista plástica Carla Carvalhosa e que integra a exposição Ser Mulher: um Percurso de Papéis.

Esta obra, que pode ser conferida no Centro Cultural Correios RJ, convida os visitantes a mergulharem em profundas reflexões sobre as complexas relações entre os seres humanos e os oceanos.

A obra é uma releitura de uma instalação anterior, abordando agora questões de sustentabilidade e os prejuízos causados pelo descarte inadequado de resíduos nos oceanos.

Obra A Sereia e o Grito dos Oceanos busca provocar uma reflexão sobre o potencial desses materiais e a importância da conscientização ambiental. Crédito: Divulgação

Na entrevista com a artista plástica Carla Carvalhosa, discutimos a criação e o impacto dessa instalação.

Victor Hugo Cavalcante: Primeiro é sempre um prazer recebê-la no Jornal Folk, e gostaria de começar com a seguinte pergunta: Qual foi a inspiração inicial para criar a instalação A Sereia e o Grito dos Oceanos mostrada na exposição Ser Mulher: um Percurso de Papéis e como essa ideia evoluiu até a obra final?

Carla Carvalhosa: A instalação A Sereia e o Grito dos Oceanos, é uma releitura da Sereia exposta na exposição LIBERDADE (2021).

Naquela época ela trazia o sentido de uma crítica sobre a liberdade de expressão.

Na exposição Ser Mulher: Um Percurso de Papéis ela traz um questionamento sobre o aspecto do feminino que busca educar e transformar hábitos ruins em novos comportamentos.

Um desejo de conscientizar sobre o que estamos descartando nos nossos oceanos e o que isso representa de prejuízo para nosso ecossistema.

Durante o processo de criação, utilizei vários lixos encontrados nas praias que atribuo um potencial para confecção das minhas obras, não deixando de lamentar que poderiam também serem descartados de maneira adequada para reciclagem.

Enfim, a obra também chama a atenção para o descarte inadequado.

Victor Hugo Cavalcante: Como você enxerga a relação entre arte e ativismo ambiental em suas obras da exposição Ser Mulher: um Percurso de Papéis, especialmente em A Sereia e o Grito dos Oceanos?

Enquanto não trouxermos para nós a convicção de que somos natureza e que quando pensamos arte de maneira mais abrangente também estamos pensando no meio ambiente, o descarte e o reaproveitamento não podem ficar de fora.

Minhas esculturas têm o intuito de provocar curiosidade no visitante, ao enfatizar o potencial do material que seria destinado ao descarte e é ressignificado, mostrando ser possível agregar valor cultural e educativo na produção artística.

Acompanho grupos de voluntários na limpeza de praias, grupos que fazem resgate de animais marinhos e aves lesados por objetos descartados no mar, eles desenvolvem um trabalho magnífico de conscientização.

Acredito que A Sereia e o Grito dos Oceanos surge como um alerta sobre todo lixo que não percebemos que produzimos e que temos responsabilidade sobre ele.

Victor Hugo Cavalcante: Cada elemento da instalação possui um simbolismo específico. Pode explicar a escolha e o significado de elementos como a sereia, o peixe, a rede e a tartaruga?

A síntese da exposição foi representada pela Árvore-da-vida que representa a Terra como a Grande Mãe, a maioria da superfície da terra é ocupada pelos oceanos.

Como no CCCRJ (Centro Cultural Correios RJ) tínhamos um espaço que favorecia uma melhor exploração do tema sustentabilidade, resolvemos ressignificar a instalação da Sereia (Exposição LIBERDADE/2021) e ampliar mais seu simbolismo.

A Sereia como elemento feminino personifica o encantamento e as ilusões quase infantis de que podemos fazer o que quisermos sem consequências.

Ela traz para a exposição a reflexão sobre os enganos que o ser humano comete ao pensar que os oceanos são depósito dos seus resíduos e que lá elas se manterão.

A natureza é dinâmica.

O que jogamos no mar ele devolve.

Se você cuida, ele retribui com vida, se você o considera como lixeira, ele oferece a morte e nesse aspecto não é uma morte simbólica, é uma morte da vida marinha e de todo o sistema.

O peixe, dentre tantas representações, reflete as escolhas individuais e seu impacto na sociedade.

Se ao pescar utilizamos rede ou anzol o impacto dessas escolhas são diferentes.

Com o anzol há uma seletividade e um menor impacto, com a rede o impacto é muito maior.

Penso na tartaruga como um animal resiliente, que tem uma vida longa, vive tanto nas águas como na terra, ela não tem pressa, mas também é um dos animais prejudicados pelos desmandos das pessoas.

Victor Hugo Cavalcante: Como a mensagem de sustentabilidade e preservação dos oceanos se entrelaça com a representação dos diversos papéis das mulheres na exposição Ser Mulher: um Percurso de Papéis?

Um aspecto fundamental do feminino é o cuidar, tanto de si como dos outros.

Cuidar também se refere a dar autonomia e educar para transformar.

As mulheres, muitas vezes, tomam para si a educação dos filhos, sendo assim a conscientização sobre a sustentabilidade no nosso planeta é também sua responsabilidade.

Construir um futuro mais sustentável deve estar incluído no dia a dia dos filhos desde cedo.

Victor Hugo Cavalcante: Qual foi a reação mais marcante que você presenciou de um visitante ao interagir com A Sereia e o Grito dos Oceanos?

O que mais me chama a atenção é a perplexidade do visitante quando descobre que o lixo que está no mar representado na instalação é o mesmo utilizado na confecção das esculturas.

Outra reação que causa espanto ao visitante é ler sobre a tabela de decomposição de cada elemento, muitas pessoas não conhecem o impacto de cada material ao meio ambiente.

Victor Hugo Cavalcante: Que impacto você espera que a instalação tenha nos visitantes e na consciência coletiva sobre a preservação dos oceanos e do meio ambiente em geral?

Sempre busquei dar destino consciente ao descarte do meu lixo.

Faço compostagem com resíduos orgânicos e costumo separar material para reciclagem, mas foi durante a pandemia que me dei conta da quantidade de lixo que produzia durante a semana, consegui enxergar potência deste material que descartava como matéria-prima para a arte, foi quanto produzi minha primeira escultura em papietagem.

Esse fato me fez desejar que minhas produções despertassem no visitante esse olhar de buscar reaproveitar esse material de forma útil e criativa no dia a dia, como também, descartar adequadamente para serem reaproveitados e contribuir para um mundo mais consciente.

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