Embora homens também chorem, culturalmente, em muitos casos, parecem não ter o direito de demonstrar as emoções, já que a saúde emocional masculina é um assunto que, infelizmente, ainda sofre de falta de atenção e de debates aprofundados.
Segundo um relatório da Pesquisa Nacional de Saúde 2019, 69,4% dos homens passaram por uma consulta no psicólogo no ano de 2018, enquanto esse número é de 82,3% entre as mulheres, sendo que, dessas pessoas, 79,4% são brancas.
Dr.ª Elaine Di Sarno, psicóloga e neuropsicóloga, Mestre em Ciências pela USP, especialista em Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) e em avaliação neuropsicológica pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP, avalia nesta entrevista um pouco das questões por trás desse relatório sobre saúde mental masculina.
Victor Hugo Cavalcante: Primeiramente, obrigado por nos conceder esta entrevista e gostaria de começar perguntando: Quais são os principais estereótipos de masculinidade que contribuem para a relutância dos homens em expressar emoções e procurar terapia?
Dr.ª Elaine Di Sarno: A masculinidade é uma construção social complexa e multifacetada. Sabemos que os papéis sociais são construídos desde a identificação do sexo do bebê, ainda durante a gestação.
Para serem grandes, fortes, cheios de habilidades físicas, lutadores, provedores, muito confiantes em si, “garanhões”.
Cobranças para serem agressivos, com comportamento “predatório”, fortalecendo o machismo, em uma lógica que às vezes pode até ser dolorosa para eles.
A sociedade espera que os homens suportem muito mais coisas.
O patriarcado pode ser severo aos homens, devido à dificuldade em se autoperceber como uma pessoa que precisa de cuidado e que não significa fraqueza ou perda da masculinidade.
Victor Hugo Cavalcante: Como a falta de discussões aprofundadas sobre a saúde emocional dos homens influencia sua saúde física e mental?
A falta de discussões aumenta a vulnerabilidade, sendo sentida como ofensa ao individualismo, à autonomia, à independência e à potência do homem, e isso acarreta todo um conjunto de relações problemáticas.
Existe o preconceito e o estigma de que o homem não deve demonstrar suas emoções e fraquezas.
O estigma associado a essas supostas fraquezas pode levar ao isolamento emocional e relacional.
É necessário entender como acolhê-los.
As consequências desses estereótipos vão além da saúde mental e se abrigam também na saúde física, incluindo uma maior prevalência de ansiedade, depressão e outros distúrbios emocionais.
Victor Hugo Cavalcante: Quais são as abordagens mais eficazes da psicologia para lidar com problemas emocionais e mentais específicos que os homens enfrentam?
Homens também precisam de ajuda e quando estão passando por algum momento difícil devem recorrer a sua rede de apoio, como amigos e familiares com quem mais se identificam, e também a profissionais especializados.
Victor Hugo Cavalcante: Como os profissionais de saúde mental podem contribuir para desmantelar a cultura do silêncio em torno da saúde emocional dos homens?
Devemos incentivar desde a infância os meninos a cuidarem de si, a buscar ajuda médica sempre que necessário.
Facilitar o acesso aos serviços de saúde mental pública e privada, por meio da criação de espaços de discussões e reflexão visando a promoção do bem-estar, como também a diminuição do preconceito e estigma, visando aumentar a expectativa e a qualidade de vida dos homens e construir uma sociedade mais saudável e resiliente como um todo, que preserva a vida acima de tudo.
Victor Hugo Cavalcante: Algo mais a acrescentar?
Repensar a masculinidade é essencial.
Crédito da foto principal: Carlos Alkmin