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Americanas: Um dos maiores escândalos reputacionais dos últimos anos

Advogada e CEO da Punder Advogados explica porque notícia de falência das lojas Americanas se tornou um grande escândalo.

Em 11 de janeiro de 2023, a Americanas tomou o mercado e a sociedade de surpresa ao anunciar, sem qualquer tipo de explicação plausível, que teria identificado um “rombo” na sua contabilidade de R$ 20 bilhões.

“Rombo” que, segundo a Americanas, eram meras “inconsistências contábeis”, referentes às operações de “risco sacado”.

Para quem desconhece o tema, se trata de simples transação de desconto de títulos, na qual os bancos, por intermédio da Americanas, descontam os títulos da varejista junto a seus fornecedores, com a aplicação de um deságio proporcional ao lapso temporal entre a celebração da operação e a data aprazada para a liquidação da fatura negociada.

A própria Comissão de Valores Mobiliários, desde 2016, tem recomendação em como deve ser classificada esta operação contábil.

O intrigante foi que a Americanas resolveu não seguir está recomendação e, do nada, surgiu o anúncio do novo presidente, Sergio Rial, que atua no conselho da Americanas há muitos anos, de “inconsistências contábeis” em apenas nove dias de sua “gestão”.

Em 16 de fevereiro de 2023, tivemos o anúncio do novo presidente da Americanas, um expert em reestruturação empresarial.

Ou seja, no português mais claro, significa que o novo executivo é especialista em fechamento de lojas e, consequentemente, demissões em massa.

Neste mesmo dia, na reunião entre a Americanas e os principais credores não houve um acordo, e o mais surpreendente foi que a Febraban entrou com um pedido junto ao STF onde cito literalmente parte do conteúdo desta petição:

“Mais ainda, é altamente improvável que, em dez anos, nenhum funcionário das áreas de finanças e contabilidade da Americanas, nenhum diretor, nenhum executivo, e nenhum membro do conselho de administração (pessoas que anualmente preparam e votam as contas da companhia), tenha percebido uma incongruência de duas dezenas de bilhões de reais na contabilidade da sociedade, nem as próprias empresas que auditaram a Americanas ao longo dos últimos dez anos referidos. O curioso é que, mais de um mês depois da divulgação dessa ‘inconsistência contábil’, até agora ninguém sabe o que aconteceu, ao certo, na companhia. Ao contrário, a Americanas insiste intrigantemente, e a presente reclamação é prova inequívoca disso, em não indicar os responsáveis pela ‘inconsistência contábil’, adotando, quase como um modus operandi, medidas em todas as instâncias para evitar a elucidação dos fatos.”.

Desde a constituição do Comitê Independente da Americanas, o que temos visto foi o esforço desta empresa em despender milhões de reais com a finalidade de potencialmente tentar encobrir os ilícitos que a levaram à atual situação de insolvência.

Para piorar a situação, temos membros deste Comitê Independente com total conflito de interesses.

Portanto, fica difícil de acreditar que o resultado oriundo deste Comitê Independente irá, de fato, refletir a verdade dos fatos e os responsáveis.

A reputação da Americanas simplesmente deixou de existir.

A forma como tem sido gerida esta crise reputacional tem sido extremamente amadora.

Sendo uma companhia de capital aberto, no Brasil e no exterior, com tamanha relevância na sociedade, o mínimo que se esperava era transparência.

Tudo isso demonstra que a governança aplicada na Americanas não seguia os melhores standards de mercado, mas sim a prática do lucro rápido e a qualquer preço.

Sem reputação, uma empresa não tem mais nada, sua credibilidade perante seus colaboradores, fornecedores, sistema financeiro, dentre outros, simplesmente desaparece. Citando Warren Buffer: “Leva-se 30 anos para construir a reputação de uma empresa e 5 minutos para destruí-la.”.

Sobre a autora

Foto reprodução: Divulgação

Patricia Punder é advogada e compliance officer com experiência internacional.

Professora de Compliance no pós-MBA da USFSCAR e LEC – Legal Ethics and Compliance (SP).

Uma das autoras do Manual de Compliance, lançado pela LEC em 2019 e Compliance – além do Manual 2020.

Com sólida experiência no Brasil e na América Latina, Patricia tem expertise na implementação de Programas de Governança e Compliance, LGPD, ESG, treinamentos; análise estratégica de avaliação e gestão de riscos, gestão na condução de crises de reputação corporativa e investigações envolvendo o DOJ (Department of Justice), SEC (Securities and Exchange Comission), AGU, CADE e TCU (Brasil).

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