*O título deste artigo foi adaptado para fins de SEO.
Competitividade em risco: o Brasil precisa reagir para preservar sua indústria do aço
Escrito por Ricardo Martins, presidente da Abimetal-Sicetel. Crédito da foto principal: Divulgação.
A indústria processadora de aço brasileira enfrenta hoje uma encruzilhada que exige resposta imediata e consistente.
Para quem produz no país, o cenário é duplamente desafiador: de um lado, persistem custos internos elevados; do outro, cresce a concorrência de produtos importados com escala maior e condições de custo muito mais favoráveis.
Os dados confirmam essa tendência.
Entre janeiro e setembro de 2025, as importações de produtos processados de aço cresceram 20,3% em volume em relação ao mesmo período de 2024, passando de 519,7 mil para 625,2 mil toneladas, segundo levantamento feito pela Associação Brasileira da Indústria Processadora de Aço e do Sindicato Nacional da Indústria Processadora de Aço (Abimetal-Sicetel) com base no sistema Comex Stat.
O valor importado alcançou US$ 1,29 bilhão, avanço de 10,3% no mesmo intervalo.
A China manteve-se como principal fornecedora, respondendo por 59,3% do total (aproximadamente 370 mil toneladas) e registrando aumento de 24,8%.
Além disso, o preço médio de importação caiu de US$ 2,24/kg para US$ 2,06/kg, enquanto o valor médio dos produtos chineses caiu de US$ 1,40 para US$ 1,30/kg, redução de 10,8%.
Esses números não refletem apenas oscilações conjunturais, mas sim uma mudança estrutural na dinâmica global de competição, que ameaça a base industrial brasileira caso não haja uma reação firme e coordenada.
Nesse contexto, é necessário repensar o que se entende por “Custo Brasil”.
O termo não é apenas um conceito abstrato, mas a soma de entraves logísticos, regulação lenta, sistema tributário complexo, energia cara e crédito restrito.
Essa combinação resulta em margens comprimidas, adiamento de investimentos e menor capacidade de competir no mercado internacional, especialmente em um setor que transforma insumos básicos em produtos de alto valor agregado.
O setor vem registrando retração nos volumes comercializados, que caíram 7,7% em relação ao mesmo período do ano passado.
Essa redução, contudo, não reflete uma diminuição da demanda, mas sim a perda de espaço das indústrias nacionais para os produtos importados, que não sofrem o impacto do chamado “custo Brasil” em seus preços.
A relevância desse setor é inquestionável.
A indústria processadora de aço ocupa um papel essencial na economia nacional: é ela que fabrica os itens que sustentam a construção civil, a infraestrutura, o setor de energia, o transporte e os bens de capital.
Quando esse elo da cadeia se enfraquece, todo o sistema produtivo em questão perde vigor.
O aumento das importações, sem contrapartida de agregação de valor ou benefício industrial, inibe investimentos em inovação, automação, qualificação de mão de obra e sustentabilidade, pilares indispensáveis à competitividade global.
A resposta a esse desafio não se limita à adoção de instrumentos de defesa comercial.
É fato que mecanismos de garantia de isonomia competitiva são indispensáveis: é preciso coibir práticas de dumping, utilização de subsídios estatais, caso comum nos produtos fabricados pela China, acelerar investigações antidumping e aplicar salvaguardas quando necessário.
Contudo, a defesa comercial representa apenas uma parte da solução.
Sem a redução efetiva do Custo Brasil e a implementação de uma política industrial de médio e longo prazo, o país continuará operando com desvantagens estruturais que comprometem a produção e a inovação.
O caminho para recuperar a competitividade da siderurgia nacional passa por quatro vetores complementares.
O primeiro é a simplificação regulatória e tributária, com marcos legais previsíveis, menos fragmentados e processos mais ágeis para instalar e expandir unidades de produção.
O segundo é o investimento em infraestrutura e energia a custos competitivos, condição essencial para reduzir gargalos logísticos e alinhar o país aos padrões internacionais.
Já o terceiro é o incentivo à modernização industrial, estimulando automação, digitalização, economia circular e produção sustentável com maior valor agregado.
E, por fim, o quarto vetor é a expansão do mercado consumidor, sem a qual nenhum dos anteriores terá efeito duradouro.
Enquanto o consumo per capita de aço na Coreia do Sul chega a 1.150 kg por habitante, no Brasil mal ultrapassa 100 kg.
Avançar nesses quatro eixos não é um favor à indústria, mas uma estratégia de desenvolvimento nacional.
Fortalecer a indústria processadora de aço significa fortalecer o próprio aparato produtivo do país.
Empregos qualificados, avanço tecnológico, inovação, fortalecimento da cadeia de fornecedores e aumento da arrecadação para estados e municípios são resultados diretos de um setor competitivo.
O contrário disso é aceitar que o Brasil continue importando o que tem capacidade de produzir, concentrando esforços em etapas de menor valor agregado.
Mais do autor do artigo
Ricardo Martins é presidente da Associação Brasileira da Indústria Processadora de Aço e Sindicato Nacional da Indústria Processadora de Aço (Abimetal-Sicetel) desde 2019, com mandato até 2027.
Engenheiro e fundador da Grampofix, Ricardo atua no setor metalúrgico desde 1994.
Foi ainda diretor de Comércio Exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP) por mais de uma década, liderando missões internacionais.
Também é diretor da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG) e preside o Conselho Consultivo de Metalurgia do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial de São Paulo (SENAI-SP).
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