O mercado de chocolates em barra e bombons segue em expansão no Brasil, com crescimento estável previsto para 2025, mesmo diante do aumento nos preços do cacau.
Segundo dados da Kantar, os consumidores continuam optando por alternativas mais acessíveis, sem grandes variações no volume de compras em relação ao ano passado.
No entanto, para além do aspecto comercial, a Páscoa possui significados profundos, religiosos, culturais e até psicológicos.
Para ajudar pais e responsáveis a transmitir esses sentidos às crianças, reunimos orientações de um líder cristão, um pedagogo e um psicólogo especializado na área infantil.
O significado da páscoa no cristianismo: A ressurreição e o amor

Para os cristãos, a Páscoa simboliza a ressurreição de Jesus Cristo.
O padre Patrick Fernandes explica a importância de se manter esse simbolismo na mente das crianças.
“A páscoa é a centralidade da fé cristã. Como diz São Paulo: ‘Como seria a nossa fé se Cristo não tivesse ressuscitado dos mortos?’ A certeza da ressurreição que nos garante a vida eterna, manter isso é uma necessidade, principalmente para os dias atuais, com essa cultura de morte que vivemos, de escuridão. Saber que o Cristo venceu a morte para nos ressuscitar também é uma garantia de vida eterna do céu, do Paraíso”.
O sacerdote ainda destaca que, na Páscoa, “tudo se faz novo”: as coisas antigas ficam para trás e não há mais espaço para as trevas, pois Cristo ressuscita conosco.
“Hoje temos o olhar sempre voltado a esta realidade para termos em nosso coração a esperança, a esperança que não decepciona nunca, a alegria da páscoa inunda o coração dos cristãos e faz com que se tornem luz nesse mundo, testemunhas do Cristo ressuscitado”.
Ele também compara esse despertar à experiência dos discípulos:
“Assim como os discípulos que, antes tomados pela dor e pela angústia da cruz, quando se encontram com Cristo, agora têm o propósito no coração de anunciar o Evangelho, de espelhar a mensagem de esperança e de paz”.
Assim, segundo Pe. Fernandes, a Páscoa também é uma oportunidade de nos tornarmos essas testemunhas da ressurreição, e espelhar a alegria do Evangelho e da ressurreição a todos que encontramos pelo caminho, principalmente aqueles que jazem na escuridão.
Mas, como ensinar esses conceitos às crianças?
O padre Patrick Fernandes afirma que o primeiro ponto a ensinar as crianças de verdade é o que é a Páscoa, com uma linguagem que seja acessível a elas.
“É importante ensinar que a Páscoa é a festa da ressurreição de Jesus, para as crianças terem a compreensão de que a Páscoa não é somente coelhinho e ovos, mas, a festa onde Jesus vence a morte!”.
O segundo ponto é ensinar também a caridade cristã.
“Não é errado a gente se presentear com chocolate, mas seria muito oportuno também educarmos os nossos filhos a olhar para o próximo, por exemplo, fazer um gesto de caridade específico ou dar um chocolate a uma criança pequena, necessitada”, afirma o padre.
O padre ainda ressalta a importância da catequese:
“Os primeiros catequistas são os pais, a catequese começa em casa, mas também a compreensão de comunidade de irem à catequese, na igreja, para que se vá criando esse senso religioso tão necessário para os tempos de hoje”.
Ele conclui com um incentivo às famílias:
“As crianças de hoje em dia são muito inteligentes e compreendem muito bem, desde que se sintam atraídas, envolvidas e acolhidas nas igrejas, acho que isso faz toda diferença”.
Mas, a Páscoa e seus valores vai muito além da religiosidade, como veremos a seguir.
A Páscoa como cultura e valores pedagógicos

Para muitas famílias, a Páscoa também pode ser abordada culturalmente, destacando tradições históricas e valores como renovação e solidariedade, e até educacionalmente.
Conforme aponta Karen Rodrigues, professora de Educação Infantil, é totalmente possível e necessário unir o aspecto cultural e o lúdico da Páscoa a uma proposta educativa, já que “o lúdico é uma linguagem natural da infância, e quando bem conduzido, não superficializa o conteúdo, mas o torna mais acessível e significativo”.
Ela complementa que existe um papel essencial nesse processo: ao resgatar tradições culturais, como o uso de símbolos (o coelho, o ovo, a colheita), ele pode contextualizá-los historicamente e culturalmente, conectando as crianças a valores como renovação, esperança e solidariedade, propondo vivências sensoriais que permitem que as crianças entrem em contato com a essência da data de forma criativa e afetiva.
“O segredo está na intencionalidade pedagógica: quando o brincar vem acompanhado de reflexão e significado, a aprendizagem acontece de forma profunda e encantadora”.
Para Karen, a Páscoa é uma oportunidade rica para se trabalhar valores universais, como a renovação, a esperança e a solidariedade.
Tanto a escola quanto a família podem colaborar criando momentos de conversa e reflexão com as crianças, promovendo ações de empatia e cuidado com o próximo.
“Quando unimos esses dois espaços, o escolar e o familiar, conseguimos fortalecer a mensagem de que celebrar a Páscoa vai além do chocolate: trata-se de um convite à transformação interior e ao cultivo de bons sentimentos”.
Segundo Rodrigues, “ter um momento de construção familiar na cozinha, o passo a passo mostrando para as crianças como se faz um ovo (simples) de Páscoa: derreter o chocolate, mexer e colocar em forminhas, levar à geladeira e o tempo de espera ensina muito sobre os processos e ganha um gosto diferente com a família”.
Ao ser questionada sobre como podemos adaptar o significado da Páscoa para a linguagem infantil, respeitando o nível de compreensão de cada faixa etária, a professora explica que a linguagem infantil pede imagens concretas e simbólicas.
“Com os pequenos, podemos explorar a ideia de ‘renascer’ por meio da natureza, os animais que saem dos ovos, as flores que brotam, como metáforas do novo começo. Com os maiores, podemos propor histórias, dramatizações ou rodas de conversa que estimulem a compreensão dos valores da Páscoa, respeitando sua maturidade emocional e incentivando a empatia, ouvindo-os para que se expressem que é Páscoa para cada um deles” exemplifica a profissional.
Ela ainda sugere algumas atividades pedagógicas que envolvam partilha e escuta para trabalhar os valores de solidariedade, renovação e empatia com as crianças durante a Páscoa, tais como: campanhas solidárias com produção de cartinhas ou desenhos para instituições, oficinas de histórias, rodas de conversa sobre sentimentos e contações com personagens simbólicos da data.
“A arte, o teatro e a música são grandes aliados nesse processo”, complementa Karen Rodrigues.
Se por um lado há um aparato simbólico e/ou religioso na Páscoa, também há uma forte comoção comercial nessa data festiva, por isso a professora alerta que a melhor forma de equilibrar isso é resgatando o sentido da celebração através do afeto e da convivência.
“Não há problema em presentear com chocolate, mas que tal complementar esse gesto com uma história contada em família, uma mensagem escrita à mão ou um momento especial juntos?”.
Ela dá as dicas de atividades:
“Ao fazer a confecção de ovos, doces e até mesmo da comida que será servida no almoço para toda a família, delegar missões como arrumar a mesa, o espaço, dobrar os guardanapos e conversar sobre o motivo da reunião de família, as crianças se sentirão parte do processo e criarão memórias afetivas desse momento. Na escola, podemos propor vivências que façam a criança pensar, sentir e agir de forma mais consciente, mostrando que o mais importante da Páscoa não está nas vitrines, mas nas atitudes”.
A dimensão emocional e simbólica da Páscoa para as crianças

Muito além dos ovos de chocolate, a Páscoa pode ser um momento rico para cultivar vínculos afetivos, trabalhar valores e estimular o desenvolvimento emocional das crianças.
Segundo a psicóloga clínica Mayara Almeida Assumpção, especialista em Neurociências, Educação e Desenvolvimento Infantil, a data carrega um potencial simbólico importante para o universo infantil, se for abordada com sensibilidade e respeito às fases do desenvolvimento.
“Os adultos podem explorar o significado da Páscoa dentro da realidade de cada família, utilizando estratégias lúdicas e analogias para facilitar a compreensão de conceitos como morte e ressurreição”, explica Mayara.
O lúdico, segundo ela, é uma ponte eficaz para que as crianças se engajem e assimilem temas mais complexos.
Elementos simbólicos da natureza, como o casulo da borboleta ou o florescer das árvores, podem ser ferramentas poderosas nesse processo.
Contação de histórias, desenhos, pinturas ou até experiências práticas, como o plantio de sementes de feijão em algodão, ajudam a ilustrar o ciclo da vida e a ideia de transformação.
Ao tratar de temas delicados como a morte, é fundamental respeitar o estágio de desenvolvimento da criança.
“Crianças até os 3 anos compreendem de forma mais literal. A partir dos 4, já conseguem entender metáforas simples e explorar o faz de conta”, diz a psicóloga.
Ainda que o entendimento profundo leve tempo, os simbolismos e rituais já podem ser introduzidos desde cedo, criando um espaço de acolhimento emocional.
A Páscoa também é uma oportunidade de trabalhar valores essenciais como empatia, gratidão e partilha.
“Isso pode ser feito envolvendo a criança nas tradições familiares, em ações comunitárias e por meio de conteúdos infantis como filmes, curtas e teatros. Mas é no cotidiano e no exemplo dos adultos que esses valores se solidificam”, afirma Mayara.
Por fim, conforme a psicóloga afirma, os rituais familiares e atividades simbólicas desempenham um papel central na construção da identidade e do vínculo afetivo da criança com seus cuidadores.
“Participar de tradições que despertam bem-estar emocional gera memórias significativas e contribui para um ambiente mais seguro e amoroso, além disso, cria conexões que ultrapassam gerações, fortalecendo os laços familiares”, encerra a especialista.