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Uso excessivo de redes sociais agrava saúde mental de jovens

Relatório global da KidsRights aponta conexão direta entre uso excessivo das redes e aumento de depressão e tentativas de suicídio entre jovens.

Imagem ilustrativa de uma adolescente olhando para o celular e chorando.

Crédito da foto principal: Antonio Guillem/Getty Images.

A crise de saúde mental entre crianças e adolescentes atingiu um ponto crítico.

Segundo o mais recente relatório da organização internacional KidsRights, divulgado no dia 11 de junho, o uso descontrolado das redes sociais está diretamente associado ao aumento de casos de depressão, ansiedade e tentativas de suicídio entre jovens de todo o mundo.

Conforme o documento aponta, 14% dos adolescentes de 10 a 19 anos enfrentam algum transtorno mental, e a taxa de suicídio entre jovens de 15 a 19 anos é de 6 por 100 mil, número considerado alarmante pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que aponta o suicídio como a quarta principal causa de morte entre adolescentes.

Como muitos casos são sub notificados, os dados reais podem ser ainda mais graves.

O relatório também observou que o uso intensivo de redes sociais está diretamente ligado ao aumento de tentativas de suicídio em países como Turquia, Áustria, Coreia, Canadá e China.

Em média, 39% dos jovens de 15 anos permanecem conectados quase o dia todo, indicando níveis preocupantes de dependência digital.

Impacto neurológico e comportamento juvenil

O médico psiquiatra especializado no atendimento de crianças e adolescentes Dr. Felipe Becker, coordenador do Primeiro Serviço de Internação Psiquiátrica Infantojuvenil do Hospital Dr. Jeser Amarante Faria de Joinville e membro do Instituto Aegis, organização que atua na segurança digital, educação e sustentabilidade ambiental, alerta que o uso crônico e precoce de telas interrompe o desenvolvimento neurológico saudável de crianças e adolescentes, especialmente em fases críticas como a primeira infância e a adolescência, onde o cérebro continua em formação.

Segundo ele, o excesso de estímulos digitais afeta diretamente a maturação do lobo pré-frontal, responsável por habilidades como autocontrole, organização e tomada de decisão, e contribui para um perfil crescente de jovens com imaturidade emocional, baixa tolerância à frustração e dificuldades de socialização.

“A criança não está perdendo habilidades; ela sequer está desenvolvendo. E isso é gravíssimo, porque o desenvolvimento tem prazo, e o cérebro precisa de vivência relacional para amadurecer”, afirma Becker.

Ele revela que 60% das internações no hospital infantil onde atua, referência em Santa Catarina, são por tentativa de suicídio, e praticamente todos esses jovens compartilham um histórico de uso excessivo de telas, isolamento social e ausência de vínculos familiares consistentes.

Becker compara a dependência digital à dependência causada por substâncias como a heroína, com impactos silenciosos e devastadores.

Para ele, a solução passa por restaurar a autoridade parental, reestruturar a rotina doméstica e estabelecer limites claros para o uso de dispositivos, reforçando o papel da convivência e da presença afetiva no desenvolvimento emocional e cognitivo dos filhos.

A urgência da educação digital e a atuação do Instituto Aegis

No Brasil, a jornalista investigativa Carla Albuquerque tem sido uma das principais vozes a denunciar os efeitos nocivos do ambiente digital sobre crianças e adolescentes.

À frente de uma das maiores investigações jornalísticas em andamento no país, Carla já contribuiu com a identificação de mais de 150 agressores e o acolhimento de mais de 600 vítimas de crimes virtuais, todas menores de idade.

Seu trabalho, em parceria com o Instituto Aegis, envolve oficinas em escolas públicas e privadas, capacitação de lideranças comunitárias e formação de professores e conselheiros tutelares.

As ações incluem simulações, rodas de conversa e o projeto Ouça-me, que garante escuta acolhedora sem revitimização.

“A maioria das orientações que os jovens recebem são genéricas, como ‘não fale com estranhos’. Isso não prepara para situações de manipulação emocional, chantagem ou violência simbólica. A educação digital precisa ser profunda, crítica e intersetorial. E as plataformas também devem ser responsabilizadas”, diz Carla.

A jornalista também destaca três grandes desafios enfrentados na promoção da educação digital: o descompasso entre o discurso institucional e a realidade das vítimas; a desigualdade de acesso e preparo digital entre diferentes regiões; e a subnotificação de crimes, causada pela falta de perícia digital e protocolos nas delegacias.

Segundo a organização ChildFund Brasil, 54% das adolescentes brasileiras entre 13 e 18 anos já sofreram violência sexual online, correspondendo a uma estimativa de 9,2 milhões de vítimas.

Embora 94% dos adolescentes afirmem ter recebido algum tipo de orientação sobre o uso da internet, a maioria declara não saber como agir em situações de risco.

“O dado de que mais de 9 milhões de adolescentes já sofreram violência sexual online no Brasil deveria estar estampado em manchetes de todos os jornais. Mas o silêncio institucional, familiar e midiático ainda é a regra. Como jornalista, meu compromisso é justamente dar nome, rosto e contexto a essas histórias, para deixarem de ser estatísticas e sejam pauta de ação”, afirma a jornalista.

Frentes parlamentares e articulação nacional

Dia da criação da Frente Parlamentar de Combate à Violência em Ambiente Digital contra Crianças e Adolescentes, na ALESP. Crédito da foto: Elson Henrique Vilela.

Em 2025, um encontro entre Carla Albuquerque e o deputado estadual Rafa Zimbaldi (Cidadania) resultou na criação da Frente Parlamentar de Combate à Violência em Ambiente Digital contra Crianças e Adolescentes, na Assembleia Legislativa de São Paulo.

A frente, da qual o Dr. Felipe Becker também faz parte, reúne autoridades, especialistas e representantes da sociedade civil para debater e formular políticas públicas sobre o tema.

O lançamento oficial contou com a presença de dezenas de prefeitos e vereadores, que manifestaram interesse em replicar a proposta em seus municípios.

O deputado Rafa Zimbaldi vai intensificar sua atuação no interior paulista, a começar com o primeiro encontro regional, a ser realizado no Vale do Paraíba, no dia 16 de julho, tendo a cidade de Taubaté como sede da reunião.

A Frente Parlamentar já tem a confirmação para encontros na Região de Jaú, Região Bragantina, Região Centro Oeste do Estado, Região do Circuito das Águas e Região Metropolitana de Campinas.

“Como coordenador da Frente Parlamentar, reafirmo com convicção: não podemos aceitar que o espaço virtual continue servindo como território livre para crimes contra nossos jovens. Nossa missão é clara e inegociável. Vamos trabalhar para estabelecer regras firmes para plataformas digitais e proteger crianças e adolescentes. A internet precisa ser um ambiente de segurança, respeito e desenvolvimento, não um campo fértil para os abusos. Estamos determinados, e não vamos recuar”, relata o deputado estadual Rafa Zimbaldi.

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