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Transformando vidas através da arte na terceira idade

A arteterapeuta Angela Philippini destaca em entrevista o potencial transformador da arte no processo de envelhecimento.

Foto da entrrevista e arteterapeuta Angela Philippini.

Em um cenário onde o Brasil caminha rumo a uma transição demográfica marcante, com o envelhecimento da população se tornando uma realidade inescapável, o enfoque em Envelhecimento Ativo, Subjetividade e Arte emerge como uma necessidade premente.

Conversamos com Angela Philippini, especialista nesse campo, para entender melhor a importância e os desafios enfrentados pelos profissionais que trabalham com idosos, bem como os benefícios da arteterapia nesse contexto.

Angela também é psicóloga, diretora da Clínica Pomar,presidente da Associação de Arteterapia do Rio de Janeiro, Mestre em criatividade pela Universidade de Santiago de Compostela,na Espanha, e Doutora em Ecologia Social pelo EICOS-UFRJ.

Victor Hugo Cavalcante: Primeiro, é um prazer recebê-la e gostaria de começar perguntando: Como a prática de atividades artísticas e criativas pode influenciar positivamente a experiência de envelhecimento ativo?

Angela Philippini: A prática de atividades artísticas e criativas, avaliada sob a ótica da Neuroestética, que é um campo da neurociência que se ocupa especificamente do âmbito das práticas expressivas e suas interações neuronais, indica que esse tipo de ação criativa tem consequências benéficas para ativar a cognição, a plasticidade cerebral e a possibilidade de neuro gênese, o qual é o nascimento de novos neurônios.

Desde 1995 há pesquisas específicas em arteterapia, neste âmbito, investigando modalidades plásticas mais utilizadas no processo terapêutico e suas potencialidades específicas de promover modulações cerebrais.

Victor Hugo Cavalcante: Você poderia compartilhar exemplos específicos de projetos ou iniciativas que tenham integrado com sucesso o envelhecimento ativo com expressões artísticas? Quais foram os resultados observados?

Há exemplos muito interessantes, que aconteceram com alunos do próprio curso, alguns no marco legal do envelhecimento, que aqui do Brasil, que é 60 anos, que a partir de atividades criativas, artísticas e expressivas realizadas no convívio acadêmico, deram-se conta da necessidade de mudanças existenciais e mudaram mesmo!

Alguns destes depoimentos estão disponíveis no Instagram da Clínica POMAR.

Mas em outro contexto, nas instituições de longa permanência (ILPS), que temos acompanhado ao longo dos anos, há mudanças muito significativas no humor e nas formas de interação social e afetiva dos idosos residentes que participaram dos grupos arte terapêuticos.

Victor Hugo Cavalcante: Em sua opinião, qual é o papel da arte na promoção da autoexpressão e na construção da identidade pessoal durante o processo de envelhecimento? Existem diferenças significativas em relação a outras faixas etárias?

Sim, existem diferenças significativas.

Cada ciclo vital tem suas peculiaridades e, por consequência, necessidades próprias.

Idosos, por já viverem muito, têm muitas histórias para contar, e com frequência, pouca gente ou ninguém para ouvir.

Eventualmente guardam muitas mágoas, muito sofrimento psíquico acumulado que precisa ser comunicado e as práticas expressivas oferecem um bom canal.

A arte pode facilitar uma compreensão sobre si que é sempre bem-vinda, e o consequente fortalecimento emocional para viver de forma mais autônoma, buscando, no tempo ainda disponível e possível, realizar pequenos ou grandes projetos.

Victor Hugo Cavalcante: Como podemos combater os estereótipos negativos associados ao envelhecimento por meio da arte? Existe um potencial para mudanças culturais significativas nesse sentido?

Não tenho uma visão otimista sobre a questão do idadismo, ageismo ou etarismo, que é o preconceito contra o indivíduo idoso.

No período da pandemia, foi possível constatar sua face absolutamente cruel e perversa, com os questionamentos sobre se o indivíduo idoso teria direito a um respirador.

Ano passado, as mídias foram invadidas pelo assombro com as universitárias de 20 anos questionando o direito da colega de 45 anos de frequentar um curso de uma universidade privada, onde naturalmente ela pagava suas mensalidades.

Apesar de meu encantamento pelas artes e pelas práticas criativas, considero que essa questão é de ética, cidadania, de direitos humanos, de estratégias educacionais de informação; o sobre envelhecer amplas, efetivas e bem aplicadas.

Victor Hugo Cavalcante: Quais são os desafios e oportunidades únicas enfrentados por artistas mais velhos ou aqueles que desejam iniciar uma jornada criativa em uma idade avançada? Existem recursos ou programas disponíveis para apoiar esses indivíduos?

De modo geral, arteterapeutas em sua prática cotidiana podem oferecer um importante suporte e acolhimento para o artista idoso.

Iniciar uma jornada criativa de livre expressão artística e/ou de aprendizado de novas linguagens artísticas e expressivas na velhice é um privilégio, uma fonte de alegrias, mobilizando núcleos emocionais de saúde, autoestima e autoconhecimento.

Desconheço recursos e programas governamentais com este propósito.

Mas certamente há muitos profissionais competentes e disponíveis para acompanhar essa fascinante e desafiadora nova caminhada.

E como é amplamente sabido, um cérebro para se manter saudável precisa de desafios, e se forem prazerosos, melhor ainda…

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