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Mempodera transforma vida de meninas no âmbito social

De aluna para contratada da organização, jovem de 20 anos possui mudanças perceptíveis e positivas após integrar o projeto.

Mikaelly Lima com meninas do projeto Mempodera.

Crédito: Dayse Pacifico

Um projeto muda vidas. Pessoas alegram vidas. Um propósito transforma vidas.

É isso que a Mempodera e a equipe fazem na vida de centenas de meninas.

A organização possui atuação em Cubatão (SP) e em São Luís (MA) e oferece aulas de Wrestling e inglês para meninas e meninos, buscando promover a igualdade de gênero por meio do esporte e da educação.

Grande parte das jovens atendidas pela iniciativa vivem em situação de vulnerabilidade social. 

Para mudar essa realidade, a equipe trabalha arduamente e busca levar informação, educação, esporte e dignidade para essas meninas e suas famílias.

Muitas histórias surgem em meio às atividades e conversas informais com as atendidas.

Em uma dessas, foi possível conhecer Mikaelly Lima, uma jovem de 20 anos, moradora de Cubatão e que, após cinco anos participando do projeto, passou a ser a primeira ex-aluna contratada da organização e hoje atua como monitora.

Caminhos de Mikaelly se cruzaram com a Mempodera em 2017

Crédito: Dayse Pacifico

Para entendermos a jornada da Mikaelly na Mempodera, é preciso voltar lá atrás.

“Minha infância foi cheia de brincadeiras. Eu brincava bastante na rua de pega-pega, de futebol com os meninos e também de roubar bandeira. Eu conheci a Mempodera com 14 anos. Um dia o projeto foi ao meu colégio, pensei em participar e acabei gostando”, relembra.

Apesar de ser bem engajada no projeto atualmente, a rotina para participar das atividades nem sempre foi tão fácil, como conta a coordenadora Mayara Amália.

“A Mikaelly está no projeto desde o início, quando começamos a atender no colégio que ela estudava, que foi a primeira escola em que nós atuamos. Ela começou como aluna e passou por todas as dificuldades. A turma foi tendo evasão e ela continuou, mesmo tendo que cuidar dos irmãos. Ela os levava para as aulas e a gente revezava, pegava e ficava olhando. Teve uma irmãzinha recém-nascida também, de quem ela tinha a responsabilidade de cuidar”.

A luta ensinada no projeto não é tão tradicional no Brasil, e muitas das meninas possuem o primeiro contato com ela quando fazem parte da organização.

Esse também é o caso da Mikaelly, que conheceu o Wrestling na Mempodera. O esporte é um dos mais antigos, e até hoje possui modalidade proibida para mulheres, a Grego-Romana.

Apesar de ser um esporte de contato, no qual dois atletas têm o objetivo de deixar o adversário com as escápulas no solo, os benefícios para quem o pratica, estão na força, desenvolvimento de habilidades pessoais e inteligência para lidar com conflitos e desafios.

“O projeto é minha segunda família. Eles têm um sentimento enorme pela minha família de sangue e por mim, especialmente a Mayara, Aline e a Lídia (fundadora e presidente da Mempodera). Eu sou grata por ter essas três mulheres na minha vida. Elas são muito importantes para mim, são minhas amigas, me dão conselhos e puxam minha orelha se faço algo de errado, mas eu sei que é para o meu bem”, destaca.

A mudança de chave após o projeto

Após alguns anos sendo aluna, surgiu a oportunidade de Mikaelly passar a integrar o time de colaboradores da organização.

“Quando abriu a possibilidade de contratar alguém, eu acho que por merecimento, por todo esforço e por todos os motivos que ela teve para desistir, mas continuar, então a gente viu ali uma potência para poder trabalhar conosco. Não ter desistido foi uma coisa que a gente observou muito, mas também a questão de dar oportunidade de mudança e talvez uma possibilidade de mudança para a vida”, explica Mayara.

O começo como monitora das professoras de Wrestling foi um período de difícil adaptação.

“A Mayara já tinha falado que eu ia ser contratada e ela, Aline e Lídia conversaram comigo. No começo foi bem difícil para mim, porque não gosto de pedir ajuda para ninguém, então eu ficava quieta e na minha. Agora não, está muito diferente, agora se eu não sei de algo, peço ajuda para as meninas”, conta Mikaelly, que agora também auxilia nas demandas das aulas de inglês. 

A parceria da jovem com a organização vai bem mais além do laço de contratação.

Foi lá que Mikaelly começou a entender questões maiores sobre si e sobre a vida, além de aprender sobre temas que, talvez, longe da Mempodera, não teria a chance.

“As mudanças dela foram muito positivas, principalmente em se expressar. Ela é uma menina que não chega atrasada e é super comprometida. Mesmo com as limitações que teve e tem, ela se esforça para conseguir entregar e tem um lado muito responsável, principalmente de organizar e acompanhar as meninas. Percebo que ela está se tornando mais empoderada”, descreve Mayara.

Mikaelly afirma que o sentimento de ensinar o que um dia já aprendeu é de alegria.

“Eu sou o espelho delas, né? Eu já fui aluna do projeto e agora eu tenho que ensinar o que passaram para mim e o que aprendi. A sensação é boa e de alegria imensa, porque nunca imaginei ser uma monitora do projeto em que eu já fui aluna. As meninas me chamam de tia, e eu penso que já chamei a minha professora de tia. A sensação de chegar à escola e uma aluna falar: ‘tia, está tudo bem com você?’ não tem preço. Elas tiram um sorriso do rosto quando você não está bem e é uma alegria ser tia dessas meninas.”.

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