O Museu de Arte Moderna de São Paulo anuncia a lista de artistas que integram o 38º Panorama da Arte Brasileira: 1000º, projeto bienal e fundamental na história do MAM, que será apresentado entre outubro de 2024 e janeiro de 2025.
Os curadores Germano Dushá e Thiago de Paula Souza, e Ariana Nuala (foto principal), curadora-adjunta que acaba de ser integrada à equipe curatorial, apresentam uma seleção de 34 artistas, de 16 estados brasileiros, composta por Adriano Amaral (SP); Advânio Lessa (MG); Ana Clara Tito (RJ); Antonio Tarsis (BA); Davi Pontes (RJ); Dona Romana (TO); Frederico Filippi (SP); Gabriel Massan (RJ); Ivan Campos (AC); Jayme Fygura (BA); Jonas Van & Juno B. (CE); José Adário dos Santos (BA); Joseca Mokahesi Yanomami (RO); Labō (PA) & Rafaela Kennedy (AM); Laís Amaral (RJ); Lucas Arruda (SP); Marcus Deusdedit (MG); Maria Lira Marques (MG); Marina Woisky (SP); Marlene Costa de Almeida (PB); Melissa de Oliveira (RJ); Mestre Nado (PE); MEXA (SP); Noara Quintana (SC); Paulo Nimer Pjota (SP); Paulo Pires (MT), Rafael RG (SP); Rebeca Carapiá (BA); Rop Cateh — Alma pintada em Terra de Encantaria dos Akroá Gamella (MA), em colaboração com Gê Viana (MA) e Thiago Martins de Melo (MA); Sallisa Rosa (GO); Solange Pessoa (MG); Tropa do Gurilouko (RJ); Zahy Tentehar (MA) e Zimar (MA).
A concepção dessa lista foi iniciada há cerca de um ano e, ao longo desse percurso, a curadoria buscou compor um grupo de artistas que fosse plural e interseccional.
A composição desse conjunto traz artistas de diversas gerações, com pessoas nascidas na década de 1940 até chegar em outros nascidos no fim dos anos 1990 e no início dos 2000.
A diversidade de mídias e linguagens derivadas desse corpo artístico é reflexo final da pluralidade que orientou a formulação do projeto: há artistas que trabalham com matérias orgânicas e mídias tradicionais, alguns com práticas espontâneas ligadas a conhecimentos tradicionais e outros mais vinculados a formações acadêmicas; se somam a esse conjunto artistas que trabalham experimentações com novas mídias, tecnologias que são pouco convencionais ao circuito artístico, recursos e imagens digitais, equipamentos industriais e materiais artificiais.
Dentre os motivos que baseiam os trabalhos do grupo de artistas, estão questões como a espiritualidade, a noção de ecologia expandida, os paradoxos da tecnologia, o erotismo dos fluxos de energia e corpos pelas cidades.
“São artistas que a gente pensa, mas também sente e intui, que carregam uma certa energia que tem tudo a ver com os fundamentos e a visão do projeto, e cujas práticas representam e incorporam o senso de urgência que queremos abordar. Além disso, um critério menos propriamente conceitual foi a decisão de focarmos em artistas em vida, atuantes, privilegiando pessoas que não participaram da Bienal de São Paulo ou não estiveram em edições anteriores do Panorama”, conta o trio de curadores.
Ainda segundo a equipe, “o projeto curatorial respeita e chama para um diálogo quente, de forma não condescendente, as matrizes de pensamento e modos de fazer centenários, ao passo que traz experimentações com novas tecnologias, cenários urbanos e elaborações de futuros. A ideia é estabelecer certa coesão energética a partir do encontro entre diferenças, flexionando noções enrijecidas sobre o espaço e o tempo, e experimentando como as coisas podem se conectar e coexistir por vias não lineares. Nos interessa refletir se, e como, artistas de contextos tão díspares, com práticas tão distintas, podem se aproximar de uma mesma vibração energética. E não para termos uma visão totalizante e acachapante das coisas, pelo contrário: para entendermos a igualdade na diferença, e os muitos, e sempre renovados, modos de elaborar a realidade, exercitar a imaginação, fazer arte e viver junto”.
1000º será uma leitura do que Ariana Nuala, Germano Dushá e Thiago de Paula Souza entendem como retrato provisório de um panorama cultural e da cena artística brasileira a partir dos conceitos eleitos para fundamentar a exposição.
“Assim como outras curadorias que vieram antes de nós, sabemos que traçar um ‘Panorama da Arte Brasileira’ é uma tarefa impossível já de partida e que seria muita pretensão imaginar que uma exposição de arte contemporânea, ainda mais diante dos limites de tempo, espaço, conceito, dentre outras questões, poderia dar conta da dimensão de um país continental, com profundas complexidades sociais e culturais, como o Brasil. Nosso projeto curatorial levou isso em consideração e aceitamos que nossas perspectivas nunca conseguiriam cobrir a multiplicidade de práticas artísticas que emergem no país atualmente”, eles explicam.
Curadoria
A ampliação da equipe curatorial, com a chegada de Ariana Nuala como curadora-adjunta, se deu a partir do desejo de Germano Dushá e Thiago de Paula Souza de ampliar o olhar sobre o projeto.
“A Ariana Nuala é alguém com quem já havíamos trabalhado individualmente e que estávamos em diálogo há um tempo. Ao mesmo tempo que ela tem uma formação ligada a organizações independentes, também acumula experiências institucionais, e nos últimos anos também tem tido um trânsito por diferentes regiões do Brasil, e sabemos que ela acompanha de perto muitos artistas e movimentos que nos interessam. Em algum momento achamos que ter um terceiro olhar de alguém que confiamos e que poderia somar com outras experiências e perspectivas seria importante, e o nome dela foi o primeiro que nos acometeu. Se mostrou uma escolha feliz, pois sentimos que chegamos num bom equilíbrio entre nossas visões e vontades, sua contribuição tem sido de máxima importância e, a grosso modo, influenciará em todos os aspectos do projeto, já que ela trabalhou ativamente para a definição da maior parte da lista de artistas, e agora nos apoiará no acompanhamento dos processos de criação das obras, no pensamento expográfico, na elaboração dos textos, na organização editorial das publicações, e nos demais desdobramentos da exposição”, explicam Germano e Thiago.
1000º (Mil graus)
O título escolhido pela curadoria desta 38ª edição parte de uma expressão coloquial que pode assumir múltiplos significados a depender do contexto, mas que invariavelmente funciona como índice de elevada intensidade.
Em texto de apresentação sobre o projeto, a curadoria conta que “como mote, a ideia de uma temperatura oposta ao zero absoluto, uma temperatura máxima intransponível, cuja incidência resulta numa agitação molecular total, ou seja, capaz de derreter qualquer matéria existente, serve como ponto de imaginação para pensar contextos com alta taxa de variação ambiental e situações envolvendo processos de combustão, eletricidade e atrito. Nesse sentido, o projeto orienta-se pelo interesse por formulações ligadas à experimentação, ao risco intenso, às situações radicais, às condições extremas marcadas pelo calor, metafísico, metafórico e climático, e aos estados, da alma e da matéria, que nos põem diante da transmutação como destino inevitável e imediato”.