No último dia 17, o escritor e poeta paulista Cesar Augusto de Carvalho lançou Folhetim (Ed. Laranja Original), nono título de sua carreira, com direito a noite de autógrafos no Bar Balcão, às 20h, em São Paulo.
A literatura de Cesar Augusto de Carvalho segue um caminho peculiar, longe dos modismos de ocasião, marcada por narrativas no qual o acaso determina o movimento do mundo e o sonho invade a realidade, ou a realidade se transforma em sonho.
Ambos convivem e se reforçam.
É o que se vê nos onze contos de Folhetim.
A partir de um fato qualquer, abre-se uma fresta para o absurdo, o humor e o nonsense.
A lógica do real é sobrepujada por conexões inusitadas e elos inesperados.
Ali, nada é sólido, tudo está por um triz e cada história contém bifurcações que levam a outras histórias.
Essa técnica narrativa mise en abyme acaba mergulhando o leitor num torvelinho alucinante.
Os personagens são tipos com órbitas próprias, perdidos em sua solidão, anti-heróis apartados da máquina da cobiça e do sucesso a qualquer preço, mais voltados para a recompensa dos pequenos prazeres mundanos, ou da simples sobrevivência.
Os contos, com seus cortes e sobreposições, são bastante visuais, explorando recursos do cinema.
Não à toa, Cesar Carvalho incorpora em sua experiência a de roteirista antes de se aventurar nos livros.
Assim, o conto Flipando em Paraty, que abre o volume, mostra um escritor na bancarrota que consegue uma oportunidade de fazer a cobertura da badalada festa literária.
No conto de título cabalístico 13, um jornalista se lança numa reportagem que investiga um caso de racismo.
E no conto-título Folhetim, um escritor se envolve em um episódio de crime cuja trama é pura alusão, revestida de sátira, ao clássico godardiano Acossado, sendo o conto mais claramente cinematográfico do conjunto.
O livro inclui ainda uma incursão pela autoficção, no conto que encerra o volume.
Nela, o narrador afirma:
“Todas as histórias já foram contadas, muda só o jeito de as contar”.
Cesar Augusto de Carvalho, como seus contos demonstram, criou seu próprio caminho.
Sobre o autor

Nascido em Pompeia–SP, Cesar Augusto de Carvalho é professor de sociologia aposentado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) no Paraná.
Autor de prosa ficcional e ensaios, publicou Viagem ao Mundo Alternativo: a contracultura nos anos 80 (contos, Unesp, 2008); Toca Raul (contos, crônicas e radionovela, Independente, 2014); Histórias de Quem (contos, Desconcertos, 2020), Raul & Eu (novela, Cintra, 2022); Lado B (contos, Laranja Original, 2022) e Folhetim (Laranja Original, 2024).
Como poeta, publicou Proesia (Independente, 2013); Lavras ao Vento, Pá (Benfazeja, 2017) e Curto-circuito (Patuá, 2019).
Vários de seus contos foram publicados em jornais e revistas; participou de antologias poéticas, além de organizar muitas outras, a exemplo de Antologia Gente de Palavra Paulistana (Patuá, 2023), nome homônimo ao Sarau do qual é curador, em São Paulo.
Juntamente com o poeta Hamilton Faria, criou o Canal do Poetariado, programa mensal de entrevistas com poetas veiculado pelo YouTube e Facebook.
Segundo o autor, que iniciou a carreira como cronista e pesquisou a contracultura, a atividade com os roteiros de cinema tem bastante influência sobre sua escrita.
E sobre o atual mercado literário, Cesar Augusto defende:
“Embora se constate uma queda estatística na venda de livros, felizmente ainda é grande a demanda de leitores ávidos pela boa literatura”.