Crédito: Divulgação/ Patrícia Siqueira
Milhares de anos antes da homofobia existir, os povos originários do Brasil cultuavam deuses com características associadas à homossexualidade.
No livro A Banda Sagrada de Tebas, o jornalista, pesquisador e músico Thiago Teodoro apresenta teses sobre como Anhangá, o protetor da floresta que assumia a forma de um veado-branco, e Acauã, divindade defensora das mulheres, eram homossexuais.
“Os indígenas contam sobre uma deusa que tinha asas maravilhosamente coloridas. Embora fosse uma mulher ou um tipo de fada, ela podia transformar-se em uma ave. Era Acauã, a divindade que protegia e empoderava as mulheres, levando-as para si quando havia interesse mútuo. Assim como Diana, Acauã era uma entidade lésbica que corria pelas florestas — nas florestas protegidas por Anhangá.”
A Banda Sagrada de Tebas, pág. 104.
Para conversar com o público jovem sobre a importância da comunidade LGBTQIA+ na mitologia, ele condensa, na ficção, duas décadas de pesquisas in loco, documentais e em instituições relacionadas ao tema.
No enredo, Martim Vieira é um sacerdote integrante da Banda Sagrada de Tebas, um famoso grupo musical cujo nome faz referência ao batalhão homônimo composto por casais gays que venceram Esparta na Batalha de Leuctra há 2.500 anos.
Nascido na cidade mineira de Pedro Leopoldo, terra do Povo de Luzia, os brasileiros anteriores aos indígenas, o protagonista dialoga sobre história, ciência e mitologia, enquanto conta a trajetória de sua banda.
Conforme o personagem, que representa a visão pessoal do autor, os deuses dos indígenas teriam sido herdados dessa antiga população.
O escritor, porém, não se restringe ao Brasil para tratar sobre a homossexualidade.
Pã, Apolo, Dioniso e Zeus são algumas das divindades que aparecem na obra e estão relacionadas com Anhangá e Acauã.
Ele também detalha a trajetória de Antínoo, parceiro amoroso do imperador romano Adriano, que tornou o companheiro um símbolo divino após sua morte.
Inclusive, o livro apresenta conteúdos práticos e imersivos sobre a religião do deus gay Antínoo (no Brasil, o Anhangá) e contém QR codes para os leitores escutarem músicas temáticas produzidas por Thiago Teodoro exclusivamente para este romance.
A Banda Sagrada de Tebas começou como um projeto para discorrer sobre as descobertas a respeito do Povo de Luzia, mas o autor optou por seguir outro caminho com objetivo de destacar que a homossexualidade era considerada sagrada em diversos períodos da antiguidade, inclusive no território brasileiro.
Segundo o jornalista, a homossexualidade era mais do que divina, era também necessária.
“Trabalhei no livro para que ele pudesse ajudar outros LGBTQIA+ a terem uma vida mais plena através da paz de espírito e do empoderamento que o conhecimento histórico e científico traz”, comenta.