Um dia é a antítese da infância em poucas páginas.
Por um lado, o protagonista tem consciência de que precisa interiorizar os limites impostos pelos pais, mas, do outro, manifesta o desejo genuíno por autonomia.
Sem precisar dizer o nome do garotinho astuto, o autor Guillaume Guéraud transpassa o papel de um simples contador de história e atinge o âmago do pequeno ser em desenvolvimento: a vontade de ser grande.

As passagens bem-humoradas do texto e as ilustrações do também francês Sébastien Mourrain, que conectam a linguagem visual da escrita, começam sempre com “Eu não me importo…”.
À primeira vista pode parecer desleixo, como se desse de ombros às regras, mas confere fluidez e amarração de cada “questão” levantada pelo personagem e pelas crianças, que também se veem nas reivindicações do menino.
Cada página apresenta uma frustração simples e objetiva: o cachorro que terá no futuro, chamado Bochecha e será motivo de arrependimento dos pais por não o terem tido antes, as idas ao cinema sozinho e a superação dos medos em filmes de terror.
E outras coisas simples como comer doces a vontade, fazer a barba, número do calçado, as paixões, viagens e aspirações profissionais.
A moral da história, assim como é esperado em toda literatura infantil, é uma reflexão emocionante, muito mais para os pais e responsáveis do que para o pequeno leitor, e surge na última página:
“Vou ser tão grande que terei que me abaixar para beijá-los. Vou ter rugas na testa como o meu pai e no canto dos olhos como a minha mãe. E vou me lembrar de quando eu era pequeno.”.
Um dia, pg. 32.