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Falta de informação sobre autismo impede diagnóstico precoce

O mês de abril conscientiza sobre o Transtorno do Espectro Autista, alertando sobre comportamentos que precisam ser observados e acompanhados.

Foto da psicóloga Maria Eduarda dos Santos.

Às vésperas de completar 30 anos, a psicóloga Maria Eduarda dos Santos (foto principal) comemora uma conquista transformadora ao dizer em alto e bom som que é autista.

Duda, como carinhosamente é chamada pelos amigos, sempre soube que havia algo diferente com ela e a confirmação do diagnóstico, recebida no ano passado, trouxe alívio e clareza.

“Não tem nada de errado comigo, como eu acreditava que tivesse. O fato é que sou diferente e isso pode ser bom”, reflete a psicóloga.

Duda faz parte de uma parcela considerável da população brasileira diagnosticada tardiamente com o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Estima-se que 90% dos autistas brasileiros tenham sido diagnosticados tardiamente e esse é o apelo que o mês de abril traz ao estampar o azul, para conscientizar as pessoas sobre o Transtorno do Espectro Autista.

O autismo não é uma doença, mas uma condição identificada como um transtorno de comportamento, que pode ser diagnosticado em bebês.

No Brasil, dois milhões de pessoas tem TEA, representando 1% da população.

Apesar de ser considerado um índice baixo, o número vem crescendo no mundo todo.

Para se ter uma ideia, nos anos 2000, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, apontava como autista uma a cada 150 crianças.

Em 2020, uma a cada 36 crianças é autista.

Para Mariana Valente, psicóloga, analista do comportamento e diretora clínica do Grupo ABAcadabra, o aumento de diagnóstico de TEA muito se deve à informação.

“Ainda temos muito para caminhar, mas podemos dizer que saímos de um período obscuro e passamos a olhar de forma mais profunda e individualizada para o outro, entendendo que alguns comportamentos acendem um sinal de alerta”, pontua Mariana.

Duda compreende bem essa realidade e acredita não ter sido diagnosticada anteriormente em função da falta de conhecimento sobre o autismo.

Como seu nível de suporte exige pouco apoio, alguns comportamentos dela, quando criança e adolescente, se pareciam mais com birra ou mania, quando, na verdade, indicavam uma condição diferenciada de resposta.

“Eu sempre fui muito focada em alguns assuntos ou temas, apresentava rigidez no meu comportamento, era uma criança exatamente ansiosa e cheguei a desenvolver TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), mas como eu era uma ótima aluna, não apresentava dificuldade no aprendizado, eu era apenas estranha entre os colegas, do tipo de pessoa que tem apenas uma amiga”, relembra Duda, que buscava respostas sobre si mesma desde muito nova.

Ela conta que a escolha da profissão veio em função dessa busca incessante em saber o que havia de errado com ela.

Hoje, Duda é psicóloga, analista do comportamento e aplica a intervenção ABA em crianças autistas, garantindo autonomia, liberdade e segurança aos seus pacientes.

“É muito interessante estar dos dois lados… Quando recebo um paciente, consigo compreender o que pode incomodá-lo, porque eu me reconheço neles. Isso me dá ainda mais segurança para aplicar a intervenção ABA”, explica Duda.

Duda não é apenas analista do comportamento, mas também supervisora dentro da sua área de atuação no Grupo ABAcadabra.

O reconhecimento pela competência do seu trabalho é motivo de muito orgulho para ela e uma inspiração para toda a sociedade, que ainda se apropria do capacitismo para excluir a pessoa com deficiência.

“Sou uma psicóloga formada, pós-graduada e sou autista. A minha condição não me deixa inapta para o trabalho e nem para conversas sociais”. Duda se refere a uma situação que vivenciou, durante um show musical em que ela entrou no espaço como pessoa com deficiência.

“Quando o segurança soube que eu era autista, ele não se dirigia mais a mim, somente à minha amiga. Isso é inaceitável!”, reforça.

O capacitismo vem sendo amplamente combatido com informação e esse é um trabalho que cabe a cada um de nós.

Segundo Mariana Valente, a ignorância, no sentido de desconhecer algo, faz com que as pessoas excluam tudo o que é diferente.

“O conhecimento liberta e nos dá elementos para encarar as mais diversas situações. Quando a gente passa a conhecer as coisas, a gente começa a compreender e, consequentemente, a respeitar”, pondera Mariana, e esse é o objetivo do Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo, fazer com que as pessoas conheçam mais sobre o transtorno e ajudem a identificar as diferenças cada vez mais cedo, dando a oportunidade das crianças se desenvolverem com o suporte adequado para a condição delas.

Caraterísticas do TEA

Embora seja considerado um espectro, o que faz com que os sintomas variem de paciente para paciente, o autismo apresenta características que podem ser observadas em alguns pacientes e indicam a necessidade de um acompanhamento:

  • Dificuldade de interação social;
  • Dificuldade em identificar expressões faciais, gestos ou até piadas;
  • Evitar contato visual;
  • Hiper foco específico;
  • Rigidez no comportamento;
  • Dificuldade em alterar a rotina;
  • Crianças pode apresentar atraso na fala;
  • Crianças não respondem quando são chamadas;
  • Crianças tendem a andar na ponta dos pés;
  • Crianças tendem a fazer movimentos repetitivos com os braços e mãos.
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