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Entrevista: Arthur Melo revela novidades de novo álbum

Em entrevista exclusiva, o artista compartilha insights sobre sua evolução musical e seu aguardado novo álbum Mirantes Emocionais.

Foto do cantor entrevistado Arthur Melo.

Recentemente o mineiro Arthur Melo lançou o single duplo Do Colostro ao Osso/Saídas, as quais antecipam o seu quarto álbum solo: Mirantes Emocionais, que já está com pré-venda do vinil ativa.

Arthur Melo é um compositor, musicista e cantor que começou a lançar músicas em 2017, com o EP Agosto, ainda muito voltado ao samba, a bossa nova e a MPB.

No mesmo ano abriu o show de Liniker e os Caramelows e fez uma participação inesperada no show de Devendra Banhart, que o convidou ao palco.

Desde então lançou três álbuns: Nhanderuvuçu (2018), Metanoia (2019) e Adeus (2020).

Após um hiato de três anos, voltou a lançar canções em 2023, com a faixa synth-pop retrô Álvaro Almeidapelo selo londrino Wonderfulsound e com mixagem assinada pelo renomado produtor Kassin.

Este single foi o anúncio do novo álbum que será lançado em 2024 e que homenageia a divergente história musical do Brasil e simultaneamente olha para o futuro e trilha novos caminhos, consolidando o artista como um nome emergente do indie pop psicodélico.

O segundo single a ser revelado foi Na Avenida Com Benito, uma homenagem a Benito de Paula.

O músico é acompanhado de sua banda O Ministério da Consciência.

E hoje ele nos conta mais da sua história musical, influências, novidades musicais e muito mais.

Victor Hugo Cavalcante: Primeiro, é um prazer poder recebê-lo no Folk, e gostaria de começar perguntando: Como foi a transição do seu estilo musical inicial, voltado para o samba, bossa nova e MPB, para o synth-pop retrô e o indie pop psicodélico que você está explorando agora?

Arthur Melo: Muito obrigado pelo espaço e por me receber Victor.

Acho que essa transição aconteceu de forma natural e orgânica e também veio muito dessa vontade de não repetir em um novo trabalho o que havia feito no anterior.

As influências mudaram muito ao longo desses sete anos de estrada musical, no início todas as referências de bossa nova e samba eram bem claras e definitivas para mim, Chico Buarque, Caetano Veloso, João Gilberto e outros.

Mas com novos lançamentos e novas pulsões criativas surgindo vi que repetir a mesma fórmula não era o que tinha interesse, então foi quando comecei a ouvir muita coisa dos anos 80, Djavan, Rod Stewart, New Order e também coisas modernas que creio que lideram essa frente de música criativamente desafiadora e inovadora moderna como The Voidz, Luiza Lian, FBC, Ana Frango Elétrico e tantos outros.

Acho que no final tudo se resume nessa vontade de entrar mais adentro na floresta escura e magnética que é experimentar musicalmente e ver de olhos curiosos onde que essa atitude criativa leva.

Victor Hugo Cavalcante: O single Do Colostro ao Osso parece ser uma música com uma letra bastante introspectiva e cheia de metáforas. Poderia nos contar um pouco mais sobre o processo de composição desta faixa e o que você espera que os ouvintes sintam ao escutá-la?

Do Colostro ao Osso foi a última das 11 faixas que escrevi para esse disco novo, inicialmente a letra era toda sobre amor, mas à medida que fui escrevendo decidi ir pelo caminho que adotei na escrita de outras músicas desse disco que é de pegar a primeira versão da letra e ir mudando os temas em alguns versos, tocar palavras de uma frase com a outra, trocar os sinônimos e as rimas e isso acaba criando caminhos metafóricos e simbolismos diferentes do que seriam inicialmente, é quase como desvendar um pergaminho ou um mapa do tesouro e o que você procura está na própria letra.

Acho que essa sensação de introspecção da letra vem desse lugar dela ter muitos simbolismos e as palavras e frases trazem essa sensação, mas é uma música que toca em temas desde desilusão amorosa, exploração dos recursos do planeta, aquecimento global e inerente necessidade do homem de competir e aniquilar qualquer coisa que ameace seus interesses.

Para mim é uma música realista otimista, ela passa longe do otimismo cego e inocente e também passa longe de ser pessimista, acho que isso pode ser uma boa sensação das pessoas terem ao ouvir ela.

Victor Hugo Cavalcante: Do Colostro ao Osso é uma das músicas que mais se aproxima do punk rock em seu novo álbum, Mirantes Emocionais, enquanto outras faixas exploram gêneros como MPB, bossa nova e indie pop. Como foi equilibrar essas influências musicais diversas ao longo do álbum?

Acho que esse foi o grande desafio e propósito do álbum, o de pegar músicas de estilos e com referências extremamente diferentes e fazer de algum modo todas elas serem coesas entre si e fazerem parte do mesmo horizonte sonoro e visual.

Acho que a entrada do Lucca Noacco na produção do disco comigo foi o que ajudou e mudou tudo no disco para que conseguirmos atingir esse objetivo de fazer sentido nesse caldeirão, porque é como quando você tem várias tintas coloridas e se mistura todas elas e fica só uma mancha marrom então nós fomos muito cuidadosos de colocar e tirar em cada faixa o que ela precisava para fazer sentido com o todo resto.

O trabalho de mixagem do Kassin foi também fundamental para isso, como ele só mixou e não produziu com a gente, ele teve total liberdade e o foco foi só na mix e assim ele testou com diversas dinâmicas de efeitos, texturas e timbres que eu e Lucca nunca chegaríamos sozinho, acho que tudo isso somado chegamos num lugar bem interessante dessa mistura de gêneros e de fazer música que toque corações e gere emoções e ainda assim me manter fiel ao que acredito e meu propósito artisticamente.

Victor Hugo Cavalcante: Em relação ao single Saídas, você mencionou que ela tem influências de bossa nova e baladas. Como foi revisitar essa faixa que foi concebida inicialmente para o seu álbum anterior, Adeus, e trazê-la para Mirantes Emocionais?

Saídas é uma faixa que tem uma estrutura musical e lírica muito diferente das outras faixas do Mirantes Emocionais, por ser escrita inicialmente para fazer parte do Adeus, meu disco de 2020.

Liricamente ela tem muito de Ataulfo Alves e de Altemar Dutra, a letra é muito influenciada pelas letras dos bregas e serestas do passado, fiz mudanças em alguns momentos de algumas frases para ele não ficar tão distante do resto do disco.

Musicalmente na época do Adeus ela era extremamente crua e apenas havia o violão, guitarra e a percussão e para o Mirantes Emocionais seria necessário maximizar ela musicalmente, daí vieram as ideias de colocar o arranjo de strings/synth no final para dar um final quase épico para ela e para o disco, também de colocar os synths no refrão e as guitarras aéreas no segundo verso, assim ainda respeitado o espaço e tom melancólico que a faixa tem e também aproximando ela desse universo mais cheio e texturizado do disco.

Victor Hugo Cavalcante: Como tem sido o processo de produção e gravação do álbum Mirantes Emocionais, considerando especialmente a colaboração com o renomado produtor Kassin?

O processo de composição e pré-produção foi bem solitário, num bom sentido, e logo, comecei a gravar as músicas no meio de 2020 e terminei por volta de junho de 2021, e entre 2021 e 2022 o Lucca Noacco entrou para fazer alguns rearranjos e finalizar a produção do disco, trazendo outra profundidade estética para o trabalho, e também nesse período outros amigos e membro do Ministério da Consciência também deixaram suas contribuições.

O processo de mixagem com o Kassin foi bem rápido, orgânico, definitivo e mágico.

Ficamos no Rio durante uma semana em abril de 2022 e das 10h até 18h ficamos no estúdio com Kassin e Mauro trabalhando na mixagem e foi um processo extremamente leve e prazeroso, trocamos ideias e referências e Kassin sempre colocava elementos, texturas e até ajudou em algumas estruturas de algumas faixas, foi bem impressionante ver ele trabalhando nessas faixas e também por ser só a mixagem, então não precisávamos em gravar, acertar as gravações, tínhamos tempo e espaço criativa para ele só pensar na mixagem, creio que isso foi essencial para que surgisse um trabalho de mixagem autêntico, dedicado e único.

Victor Hugo Cavalcante: O universo visual do single duplo Do Colostro ao Osso/Saídas, especialmente representado na capa e no lyric video, parece ser bastante intrigante, com o uso de glitch art. Como essa estética visual se relaciona com a sonoridade e a mensagem das músicas?

Todo o trabalho de identidade visual do disco é assinado pelo Artur Souza, desde o primeiro single até Do Colostro ao Osso e também o disco.

Acho que relacionar esse lugar visual mais colorido e não tão usual para apresentar o disco visualmente é fundamental para criarmos algo único e que ajude o disco a criar a sua própria identidade, tanto sonora quanto visual, acho que as duas coisas somadas criam algo único e que pode fazer o ouvinte e telespectador mergulhar e se perder nesse universo, ainda mais pelo disco simbolicamente ter letras com muitas metáforas que deixam a interpretação livre ao ouvinte, essa parte visual dos lyrics video ajuda nessa interpretação única que cada pessoa pode ter.

Nosso objetivo é continuar trabalhando no visual do disco para criar esse universo, ainda mais hoje em dia que a parte visual do trabalho é tão importante quanto a música.

Pessoalmente também creio que arte e ser artista é sobre criar um universo em todas as instâncias e da curiosidade e experimentação e muitas vezes músicas apenas não são suficientes.

Música evoca emoções poderosas que na maioria das vezes não consigo nem explicar de forma concreta o que exatamente são e assim a parte visual se torna tão importante nesse processo de trazer essas emoções para a superfície.

O objetivo é sempre fazer algo que consiga erodir emoções e sensações poderosas e inspiradoras.

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