No Dia Internacional do Elogio (01 de março), celebramos a importância desse gesto, que não apenas eleva o ânimo de quem recebe, mas também fortalece laços e promove um ambiente de positividade e empatia.
Originado na Holanda no início do século XXI, o Dia Internacional do Elogio rapidamente se espalhou pelo mundo, tornando-se uma oportunidade anual para expressar apreço e gratidão pelas qualidades e realizações das pessoas ao nosso redor.
É uma chance de reconhecermos o que há de bom nos outros e de celebrarmos suas contribuições para o bem-estar da comunidade.
A psicóloga Andreia Convento, especialista em Saúde e Atenção Psicossocial, em Análise Aplicada do Comportamento (ABA), em abordagem Teoria Cognitivo Comportamental (TCC) e psicopedagoga, conta um pouco sobre os benefícios do elogio para a saúde mental tanto de quem dá quanto para quem recebe:
“O elogio gera um impulso cerebral, treina o cérebro para ver o lado positivo das coisas, ele mexe internamente com o indivíduo, propicia a melhora da autoestima, faz com que nos sentimos melhor conosco”.
Andreia ainda explica que o elogio ativa emoções positivas, traz uma sensação de plenitude, “quando a pessoa é elogiada ela fica mais flexível e animada, sua motivação tende a aumentar, ela se sente bem e repete o comportamento para poder sentir novamente o prazer, desencadeado pelo sistema de recompensas do cérebro”.
“Elogiar contribui de forma extremamente positiva para saúde mental do outro e para a sua própria, elogios são sempre benéficos para todos, é importante elogiar faz com que o indivíduo se sinta feliz, bem consigo mesmo, de forma que esse sentimento o faz enxergar as coisas de forma mais positiva”, complementa a psicóloga.
Ela ainda responde se existem diferenças na forma como o elogio é percebido por crianças, adolescentes e adultos.
“Os elogios são positivos e contribuem no desenvolvimento de ambos, influenciam no crescimento, propiciando comportamentos e sentimentos positivos e que, dependendo da forma de elogiar, será um forte motivador tanto para a criança quanto para o adolescente”.
O elogio também é benéfico em diversas áreas da vida, como, por exemplo, no trabalho ou na escola e até no meio virtual.
Elogio no trabalho
No ambiente de trabalho, feedbacks positivos e reconhecimento adequado são fundamentais para promover um clima organizacional saudável e engajar os colaboradores.
De acordo com um estudo da Pulses, empresa especializada em clima organizacional, colaboradores que recebem feedbacks positivos são 2,4 vezes mais engajados no trabalho.
Lucélia Ourique, idealizadora do Papo de RH e consultora de RH e Negócios, comenta sobre como esses elogios influenciam no engajamento do trabalhador:
“O feedback é uma ferramenta poderosa, pois é uma ferramenta de retroalimentação, onde eu trago aspectos positivos e oportunidades de melhorias, mas eu também recebo aspectos positivos e também oportunidades de melhorias, tanto como profissional, como líder, mas também organização. Então, promovê-lo de forma mais constante em uma cultura organizacional reforça o engajamento, reforça a clareza, a comunicação e o entendimento, mas, para isso, também precisa de uma preparação. Hoje a gente percebe que as lideranças não possuem essa preparação. Eu faço muito treinamento de desenvolvimento nas empresas e as questões de liderança, de desenvolvimento das empresas ainda são muito baixas”.
“O Brasil ainda investe muito pouco em desenvolvimento de liderança perto de outros países. E a gente precisa desenvolver mais os nossos líderes porque são eles que tocam o negócio e as no dia a dia. Líderes mal preparados, líderes com dificuldade de comunicação, que não tem um trabalho de autoconhecimento, um desenvolvimento e um acompanhamento, a tendência é criar, usar a ferramenta feedback de uma forma errada. Não se torna um feedback positivo e se torna um feedback negativo como um xixi back, como as pessoas falam. Eu preciso ter uma maturidade, eu preciso como liderança, eu preciso saber ouvir, eu preciso trazer os pontos de oportunidade de melhorias, mas eu também preciso elogiar, eu preciso agradecer, reconhecer o empenho do meu time. Mas a gente ainda tem uma cultura de comando e controle, a gente ainda tem uma cultura de quem manda, quem pode, obedece, quem precisa. A gente tem muitas empresas familiares no Brasil com uma cultura da teoria do grito, onde ainda tem muita agressividade, tem muita sede moral. Então, na maioria das vezes, essa liderança não foi preparada, ela assumiu um cargo maior, ou porque ele estava mais tempo na empresa, ou porque é uma pessoa de confiança, mas ele não foi preparado. E ainda nós temos modelos de lideranças arcaicos”, complementa a profissional que ainda é embaixadora do ESARH 2024- Encontro Sul-americano de RH.
“Com isso, a gente tem esse olhar que está tendo das gerações misturadas, com o pedido de demissão, com o olhar para sede moral. Enfim, isso acaba sendo prejudicial para a empresa, quando as lideranças não sabem reconhecer, não sabem influenciar, não sabem aplicar o feedback de uma forma correta. Então, eu diria que sim, uma empresa, uma cultura que tem feedback, que tem comunicação, que tem desenvolvimento e liderança, com certeza, acaba influenciando, retendo talentos e construindo uma cultura organizacional forte. Mas, para isso, tem que partir também de cima para baixo a cultura da empresa. Desenvolvimento e liderança e o RH tem um papel muito forte nesse contexto todo” encerra Lucélia.
Ela ainda dá dicas de como integrar efetivamente estratégias de elogio e reconhecimento em programas de incentivo e recompensa numa organização:
“Eu diria que as dicas principais para fazer um programa de reconhecimento, que esse programa de reconhecimento não seja só financeiro, a gente tem rodas de conversas que são bem importantes, que trazem essas questões. A gente pode fazer um café de elogios, onde a gente reúne o time e traz os destaques, e também pode deixar uma mensagem de elogio para cada integrante da equipe. A gente tem, eu já fiz em algumas empresas, o dia da empatia, onde só com a liderança as lideranças trocaram de lugar, por exemplo, financeiro foi para área operacional, operacional foi para RH, então fiz esse olhar de dia da empatia com as lideranças para que eles pudessem realmente sentar na cadeira e entender esse processo todo e ver o quanto é desafiador, porque quando a gente se coloca na cadeira do outro, calça o sapato do outro, a gente consegue trabalhar. Ações de encontro com outras áreas, entendendo como cada área funciona e fazendo integrações com áreas diferentes também são bacanas e algumas palestras também são bacanas, algum envolvimento, algum happy hour que a gente possa trabalhar coisas, questões pessoais, questões profissionais, fazer um festival de ideias, onde as pessoas vão trazer sugestões de melhorias e a gente pode premiar as melhoras ideias, porque não é só elogiar e dizer ‘obrigada’, ‘por favor’, ‘você foi ótimo nisso’, é a recompensa do reconhecimento do trabalho, então essas estratégias ajudam muito, tem diversas estratégias, diversas dicas, mas essas dicas ajudam bastante nos processos do dia a dia, e claro sempre reconhecendo de uma forma profissional, de uma forma respeitosa e sendo justo, sendo claro, no consenso com a equipe, deixar o lado de preferências e ser profissional nas escolhas da recompensa, ter critérios justos para programas de recompensas. E se não for só programa de recompensa de reconhecimento, mas que seja até um reconhecimento informal em uma roda de conversa, ‘quem são as pessoas de referência do seu trabalho?’ ‘Se hoje na minha equipe tivesse um problema, quem eu chamaria para resolver’. Então isso também é uma forma, às vezes um bate-papo é uma forma de recompensa”.
Na escola
Na escola, o elogio desempenha um papel crucial no processo de aprendizagem e desenvolvimento dos alunos.
A professora Fernanda Barros ressalta como o reconhecimento das conquistas e esforços dos estudantes pode motivá-los e promover um ambiente de aprendizagem positivo:
“O elogio funciona como um reforçador para o processo da criança. Quando pequenos, em família, costumamos premiar as boas ações e novas aprendizagens, já na escola o papel de mediador do professor precisa aprofundar o engajamento com a aprendizagem. Assim, o elogio é o prêmio pelo próprio sucesso, que mais adiante será substituído pelo resultado, tornando-se automotivado”.
Ele ainda responde como os educadores podem equilibrar o elogio com o feedback construtivo para promover o crescimento e a melhoria contínua dos alunos:
“Creio que conhecer bem seu aprendiz seja a chave para conseguir equilibrar os dois. Não se trata de fingir que está tudo correto, mas de apoiar-se nos pontos de destaque: elogiando as capacidades da criança de modo geral. Uma correção, um redirecionamento apoiado no potencial da criança, ensina que o erro é um degrau para o aprendizado e que sempre podemos recomeçar, abre a visão de futuro que os alunos precisam ter para continuar”.
Desafios do elogio: Entre a sinceridade e o hater na internet
Segundo a psicóloga Andreia Convento, com o avanço da tecnologia e crescimento cada vez maior das redes sociais, cada vez mais pessoas dedicam seu tempo em fazer comentários nas redes, tanto positivos como negativos.
Porém, o elogio passou a ser poderoso no mundo virtual, tendo muitas vezes o poder de ajudar ou prejudicar uma marca, ou uma pessoa.
“A facilidade com que as pessoas fazem elogios e comentários negativos é a mesma, com isso, ocorre uma grande desvantagem nas redes sociais, as pessoas se sentem cada vez mais livres para fazer qualquer tipo de comentário, mesmo que esse prejudique o outrem”, comenta Andreia.
“Porém, a era digital, com as redes sociais representam uma oportunidade de interação entre pessoas e marcas se aproximarem, muitas pessoas têm vergonha de elogiar em público muitas vezes e a rede social propicia esse movimento”.
“As redes sociais transcendem barreiras, propiciando assim uma forte interação social e abertura para as pessoas, permitindo dessa maneira uma oportunidade de interação e oportunidade para as pessoas se comunicarem, elogiarem, realizarem trocas, porém ouve também um grande crescimento no sentindo de pessoas que criticam por criticar, que ofendem e prejudicam com comentários negativos. O que difere será como esses veículos são usados dessa maneira, trazendo consequências positivas ou negativas” explica Andreia Convento.
Se nós meros mortais já gostamos de ser elogiados, imagine as celebridades, seja na internet ou no mundo offline, os famosos sempre são elogiados ou criticados.
Porém, o elogio em excesso, principalmente para celebridades, pode gerar efeitos negativos, como a dependência da validação externa e a pressão para manter uma imagem positiva.
É o que aponta a psicóloga:
“Os elogios em excesso, vazios, exagerados que não são genuínos podem ser prejudiciais, porque as pessoas podem perceber a falta de sinceridade, o que leva a uma desconfiança e a diminuição do valor do elogio, podendo afetar a autoestima do indivíduo”.
Ainda segundo a psicóloga, o elogio em excesso pode até mesmo gerar uma perda de confiança, uma certa dependência.
Ele é fundamental para a autoestima, mas se mal administrado pode ter efeitos negativos.
“A questão sobre o excesso é que pode criar uma necessidade de reforço contínuo e quando não ocorre surge a sensação de que não está sendo valorizada, que não fez o suficiente e entrar em uma busca constante de melhorar e fazer cada vez mais para ter reconhecimento. No caso da pessoa famosa, é como se esses elogios fossem um termômetro do seu trabalho, se é boa, bonita ou se está sendo reconhecida, com isso o excesso de elogios pode trazer consequências negativas”.
Outro desafio muito comum entre artistas é o hater sofrido, principalmente na internet, e a psicóloga analisa como o elogio e o reconhecimento afetam a vida e a carreira de celebridades e figuras públicas, incluindo o impacto das críticas e da pressão para manter uma imagem positiva:
“Para uma figura pública ou celebridade, qualquer movimento que ela faça pode virar notícia e com isso gerar comentários tanto positivos como negativos. Temos vários casos de pessoas que adoecem ou que sua saúde mental acaba sendo comprometida”.
A psicóloga também afirma que a fama traz com ela um preço psíquico a se pagar muitas vezes por toda a visibilidade envolvida na vida dessas pessoas, já que elas lidam com muitas cobranças e pressões internas atreladas a uma grande exposição devido à facilidade dos veículos de comunicação.
“Sustentar uma imagem positiva é muito difícil diante de estarem sendo cobrados cada vez mais, em relação ao trabalho, aparência, vida pessoal, tudo que fazem é julgado a todo momento. São exigidos dessas pessoas comportamentos que nem nós conseguimos ter, porém, por serem públicos e famosos, é como se tivessem a obrigação de atender todas as expectativas. A fama traz com ela um peso, onde tudo é cobrado de forma intensa, as pessoas vão do ápice ao animado, pois tudo é muito veloz dentro das redes sociais” finaliza Andréia Convento.
Diante dos desafios enfrentados, tanto na realidade quanto no mundo digital, o Dia Internacional do Elogio nos convida a refletir sobre o poder transformador das palavras gentis e do reconhecimento sincero.
Que possamos aproveitar esta oportunidade não apenas hoje, mas em todos os dias, para espalhar positividade, bondade e apreciação pelo próximo.