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Artigo: A falsa segurança da nuvem brasileira*

Especialista da Faiston analisa por que empresas no Brasil ainda falham em amadurecer na proteção e governança dos ambientes em nuvem.

Foto do autor do artigo.

*O título deste artigo foi adaptado para fins de SEO.

A falsa sensação de segurança: por que o Brasil ainda não amadureceu na proteção da nuvem

Escrito por Alexandre Theodoro, diretor de Negócios e Soluções da Faiston. Crédito da foto principal: Arquivo/Reprodução.

O Brasil avança em computação em nuvem, mas tropeça em um velho problema: a segurança.

Somente 8% das empresas alcançaram maturidade na proteção de seus ambientes cloud, mostra o índice global da Cisco.

A transformação digital acelerou, mas os mecanismos de defesa não acompanharam — e o país arrisca sustentar a inovação sobre um terreno instável.

O dado é revelador de um paradoxo que vai além da tecnologia.

As empresas brasileiras aprenderam a migrar sistemas, automatizar processos e armazenar volumes inéditos de informação, mas ainda tratam segurança digital como camada adicional, não como parte da arquitetura.

A nuvem, que deveria ser sinônimo de agilidade e confiabilidade, tornou-se também o ponto mais vulnerável da estrutura corporativa — e esse desequilíbrio ameaça a continuidade dos negócios no longo prazo.

Maturidade em segurança de nuvem não significa ter firewalls mais sofisticados, mas estratégia, governança e visibilidade.

É saber quem acessa cada dado, de onde, por quanto tempo e com que permissões.

É compreender que o elo fraco não está somente nos sistemas, mas nas identidades que os operam.

E, acima de tudo, é integrar tecnologia, processos e cultura em torno de um princípio simples: não existe inovação sem proteção.

O que significa estar maduro em segurança de nuvem

Maturidade, nesse contexto, é mais do que instalar ferramentas de proteção — é construir um ecossistema capaz de se defender, reagir e aprender.

As empresas maduras em segurança cloud trabalham sob uma lógica contínua: identificar, proteger, detectar, responder e recuperar.

Elas tratam segurança como processo, não como produto.

A primeira camada dessa maturidade é a governança: políticas claras, responsabilidades definidas e integração entre áreas de tecnologia, jurídico, risco e negócio. Empresas que dominam essa etapa sabem onde seus dados estão, quem os manipula e sob quais regras.

Logo abaixo vem o controle de identidade e acesso — o ponto mais vulnerável de toda a cadeia digital.

Segundo a Cisco, 59% das organizações brasileiras ainda enfrentam falhas em credenciais e permissões excessivas, abrindo portas para invasões invisíveis.

Em um ambiente multicloud, onde usuários humanos e aplicações automatizadas acessam dezenas de serviços, gerenciar identidades deixou de ser tarefa operacional para se tornar pilar estratégico de cibersegurança.

Outro componente essencial é a visibilidade.

Ambientes híbridos espalham aplicações entre provedores, data centers e dispositivos de borda.

Sem visibilidade integrada, não há como reagir ao que não se enxerga.

É por isso que empresas maduras investem em observabilidade — unindo logs, telemetria e correlação de eventos para antecipar ameaças antes que causem impacto.

Essa capacidade de leitura contínua transforma segurança em inteligência operacional, não somente em defesa.

O terceiro eixo é a proteção de dados, que exige criptografia forte, segmentação de rede e políticas de backup e retenção consistentes.

A maturidade nesse ponto vai além do cumprimento da LGPD: envolve classificar informações por criticidade, definir camadas de acesso e garantir resiliência mesmo sob ataque.

Por fim, há a resposta a incidentes.

Empresas maduras não confiam na sorte. Elas treinam equipes, simulam cenários e documentam aprendizados.

Cada incidente é tratado como oportunidade de reforço, não somente como falha.

As diferentes realidades da nuvem

O Brasil vive um ecossistema híbrido, e isso é tanto uma vantagem quanto um risco.

Na nuvem pública, o maior desafio é a configuração.

Serviços como AWS, Azure e Google Cloud oferecem camadas avançadas de segurança, mas dependem do usuário para serem ativadas e mantidas.

Buckets abertos e chaves expostas continuam sendo um problema básico, mas recorrente.

Na nuvem privada, o obstáculo é o legado.

Muitas empresas ainda mantêm infraestrutura própria, complexa e cara, com sistemas que não suportam automação nem práticas modernas de segurança.

Essa lentidão cria uma zona de conforto perigosa: a falsa sensação de controle.

Já a nuvem híbrida, hoje dominante, combina os riscos dos dois mundos.

Mais de 80% das empresas brasileiras operam modelos híbridos e 63% utilizam múltiplos provedores, segundo a Cloud Security Alliance.

Cada provedor traz suas próprias ferramentas, multiplicando as interfaces e reduz a coerência das políticas.

O resultado é fragmentação: logs que não se conversam, alerta dispersos e um cansaço operacional crescente.

Embora o Brasil supere a média global — somente 4% das empresas no mundo atingem maturidade total em segurança de nuvem, o dado pouco consola.

O cenário é universal: as organizações correm para modernizar a infraestrutura, mas caminham lentamente quando o assunto é proteção.

Mesmo economias desenvolvidas, como Estados Unidos e Europa, enfrentam o mesmo dilema: a diferença é que lá a regulação e a cultura de prevenção são mais consolidadas.

A Europa, pressionada pelo GDPR, construiu uma postura de segurança mais preventiva, com auditorias constantes e notificações obrigatórias em caso de vazamento.

Nos Estados Unidos, o amadurecimento veio pela força do mercado: empresas que falham em proteger dados perdem contratos e reputação rapidamente.

Já na América Latina, o cenário é semelhante ao brasileiro.

O México, por exemplo, registrou 88% das empresas impactadas por incidentes envolvendo IA e cloud e apenas 2% se consideram preparadas.

A diferença, portanto, não está no risco, mas na reação: quanto mais madura a economia digital, mais estratégica é a visão sobre segurança.

As travas invisíveis: cultura e orçamento

A raiz do problema é menos tecnológica do que cultural.

Segurança da informação ainda disputa espaço no orçamento com marketing, inovação e operação — e quase sempre perde.

Segundo o relatório da Cisco, menos da metade das empresas brasileiras destina mais de 10% do orçamento de TI à segurança.

Não há como amadurecer uma postura de proteção sustentada com investimentos mínimos e equipes sobrecarregadas.

O resultado é previsível: ferramentas de ponta subutilizadas, controles mal configurados e uma falsa sensação de proteção.

Muitas empresas acreditam estar seguras porque adotaram soluções sofisticadas — quando, na verdade, não têm equipe para operá-las corretamente.

O índice da Cisco é mais do que um diagnóstico técnico — é um espelho da cultura corporativa brasileira.

Mostra um país que abraçou a nuvem, mas ainda não entendeu que segurança não é camada adicional, é parte da arquitetura.

Não há transformação digital sustentável sem confiança, e confiança se constrói com previsibilidade, resiliência e transparência.

A boa notícia é que o caminho está traçado.

As empresas que conseguirem alinhar governança, identidade e capacitação darão o salto que o mercado exige.

Aquelas que continuarem tratando segurança como um “projeto de TI” arriscarão ver sua inovação desabar no primeiro incidente sério.

Maturidade em nuvem não é um destino, é um processo — contínuo, técnico e humano.

E o Brasil só avançará quando entender que a nuvem não é somente um lugar onde os dados vivem, mas onde as vulnerabilidades também respiram.

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