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O mundo de Heloisa Hernandez em palavras, memórias e afetos

Autora de Meu Mundo em Palavras e fundadora da Moah! Editora fala sobre memória, infância, autobiografia e os projetos da sua editora.

Foto da escritora entrevistada Heloisa Hernandez.

Heloisa Hernandez é uma escritora e editora paulistana que transforma memória e afeto em livros.

Formada em Comunicação Social pela USP, com especializações em curadoria, filosofia da arte e gestão de projetos culturais, ela acumula mais de duas décadas de experiência editorial, atuando em editoras como Senac e Negrito Design.

Em 2022, fundou a Moah! Editora voltada à publicação de obras que valorizam histórias de vida de forma criativa e sensível.

Inspirada pela própria trajetória, especialmente pela perda precoce da mãe, Heloisa criou o projeto Livros Biográficos, que evoluiu para publicações como Meu Mundo em Palavras, uma autobiografia infantil que convida as crianças a registrarem suas percepções, sentimentos e sonhos.

O livro, que foi lançado no Festival Literário Internacional de Poços de Caldas (Flipoços), alia delicadeza visual, profundidade emocional e uma proposta pedagógica que promove a autoexpressão desde a infância.

Além disso, Heloisa está à frente de outras publicações que resgatam memórias afetivas, como Passado, Presente e Memórias e Sabores, e coordena a Coleção Bel: Ciência para Crianças, visando aproximar o público infantil de temas como meio ambiente e autoestima corporal, sempre a partir de uma abordagem sensível e educativa.

Sua trajetória revela um compromisso genuíno com a escuta, a memória e o olhar das crianças sobre o mundo.

Entre livros que misturam afeto, arte, ciência e identidade, Heloisa Hernandez convida leitores de todas as idades a registrarem suas próprias histórias — com liberdade, delicadeza e significado.

Confira a entrevista exclusiva com a autora e conheça mais sobre os bastidores de Meu Mundo em Palavras, a Moah! Editora e os próximos passos dessa jornada literária dedicada à preservação da vida em forma de livro.

Victor Hugo Cavalcante: Primeiro, agradecemos por nos conceder essa entrevista e gostaríamos de perguntar: de que maneira sua própria história de vida influenciou a criação de um livro autobiográfico voltado para o público infantil (Meu Mundo em Palavras)?

Heloisa Hernandez: Olá, Victor! Muito obrigada pela oportunidade de conversar com vocês sobre o meu livro.

Bom, venho trabalhando com o tema da autobiografia desde 2020, quando criei o projeto Livros Biográficos, contando a história de vida das pessoas sob diferentes formas de narrativa visual e textual.

Esse projeto nasceu da saudade que sinto da minha mãe, gostaria de saber muito mais sobre ela do que realmente sei, ela faleceu quando eu tinha 14 anos.

Quando fundei a Moah! Editora tinha vontade de fazer um livro autobiográfico para adultos, algo que fosse mais acessível financeiramente do que um livro personalizado, possibilitando que qualquer pessoa pudesse refletir sobre sua vida e contar sua história.

Ao mesmo tempo, surgiram outros projetos, um deles marcadamente voltado à infância, a coleção Bel: Ciência para Crianças.

Depois de dois anos com a editora, pude retomar a ideia das autobiografias, então lancei o Meu Mundo em Palavras, pensado para crianças, e o Passado, Presente, proposta de autobiografia para adultos.

Ambos são livros de recordações.

Meu Mundo em Palavras foi um livro pensado para registrar o olhar genuíno das crianças sobre si e em relação ao seu cotidiano, suas percepções.

Acredito que tanto os pequenos como seus pais terão muito carinho por esta publicação, hoje e no futuro também.

Victor Hugo Cavalcante: Você acredita que o livro Meu Mundo em Palavras também pode funcionar como uma ferramenta terapêutica ou pedagógica em ambientes escolares e familiares?

O livro traz muitas perguntas, abrangendo temas como identidade, família, amigos, sentimentos, escola, natureza…

Há também espaços de escrita e desenho livres de qualquer mediação, em que as crianças podem se expressar como quiserem.

Penso que as respostas dadas podem revelar muito sobre como a criança se sente ou se vê e, nesse sentido, poderia ser trabalhado como recurso terapêutico ou de discussão de identidade e alteridade, em sala de aula.

Apresentando esse livro em escolas, é muito comum os professores relacionarem a publicação com projetos que estão trabalhando com as crianças, envolvendo autoimagem, autodescoberta, sonhos, impressões sobre o cotidiano, em geral.

Victor Hugo Cavalcante: Como foi o processo de desenvolver perguntas que equilibram ludicidade e profundidade emocional para crianças de diferentes idades para o livro Meu Mundo em Palavras?

Eu tinha um roteiro de perguntas para as diferentes etapas de vida de uma pessoa, em razão do Livros Biográficos.

Quando pensei em fazer uma publicação voltada às crianças, utilizei esse material que eu já tinha e consultei a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em especial as habilidades socioemocionais e competências que se esperava que uma criança desenvolvesse, na leitura de um livro, em suas diferentes fases de aprendizado.

Isso me ajudou a pensar em perguntas que eu gostaria de fazer aos pequenos, além de ter como referência as crianças que conheço e a lembrança da minha infância.

Minha ideia era propor algo que trouxesse informações significativas sobre quem era aquela criança que respondia às perguntas, e que fosse visualmente atrativo, despertasse vontade de desenhar e fosse um espaço bonito de lembrança.

O trabalho do Museu da Pessoa e o livro Memória e sociedade, da Ecléa Bosi, também foram inspirações importantes.

Victor Hugo Cavalcante: Além desse lançamento mencionado acima, a Moah! Editora apresentou no Flipoços outros dois projetos: Passado, presente e Memórias e sabores. Como eles se conectam à proposta de preservar histórias de vida?

Passado, presente: conte sobre você está diretamente ligado ao Livros Biográficos e foi a obra que sempre quis fazer, mas nunca tinha tempo, sempre surgiam outras demandas…

Esse livro traz perguntas que adoraria que minha mãe tivesse respondido.

Como editora e como designer, essa é a publicação mais importante para mim: traduzi o que sei fazer e espero poder ajudar outras pessoas a se conectarem mais umas com as outras, mais além do trivial.

O Memórias e sabores: caderno de receitas eu fiz pensando que o lançamento seria em Poços de Caldas, que me remete imediatamente à gastronomia mineira.

A publicação aborda as memórias afetivas que temos em relação à comida, desde as lembranças de receitas familiares aos roteiros de viagem gastronômicos, bebidas que contam histórias, etc.

Penso que podemos falar sobre nossa vida a partir de diferentes recortes, e o Memórias e Sabores trata das recordações que o olfato e o paladar nos trazem.

É um livro com trechos literários relacionados ao tema, espaço para anotações de receitas, escrita inspirada na memória gustativa, etc.

Victor Hugo Cavalcante: Quais são os próximos passos da editora? Há planos para expandir a Coleção Bel: Ciência para Crianças ou explorar novas temáticas voltadas à memória?

Sim! Estão previstos mais dois títulos para a Coleção Bel, um sobre mudanças climáticas e outro sobre os estigmas ligados ao corpo, para discutir o tema do bullying, ambos sob a perspectiva científica, trazendo informações embasadas em estudo, escritos pelo cientista e professor associado da Faculdade de Medicina da USP Bruno Gualano.

Sobre a memória, no Flipoços também lançamos o livro Cartas para Daniela, que é como um diário, em que a mãe, Tessa, narra como foram seus dias após a perda da filha, Daniela, que faleceu de câncer.

Essa publicação aborda o amor entre mãe e filha, o luto, a memória.

A autora, Tessa Drexler Ripper, é psicóloga e terapeuta.

Tenho recebido mensagens de muitas pessoas que leram o livro e se emocionaram, eu mesma fiquei bastante sensibilizada com a história.

Vejo pessoas entrando em contato e falando sobre suas famílias, de recentes perdas… É um livro que gera muita empatia.

Minha ideia agora é expandir os temas trabalhados, tenho vontade de publicar livros mais voltados às artes visuais e à literatura, poesia.

Victor Hugo Cavalcante: Em um mundo cada vez mais acelerado e digital, que tipo de mundo as crianças revelam quando têm a chance de traduzi-lo em palavras — e o que essas expressões nos dizem sobre quem elas são e sobre como enxergam a vida?

Eu não tenho essa resposta, mas adoraria descobrir, por isso as muitas perguntas, para cada criança poder nos contar mais sobre elas, para além da nossa imaginação.

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