Como ser feliz em meio ao fim do mundo?
No livro Manifesto Contra a Felicidade Eterna (ou cinco réquiens para uma morte lenta), o escritor e sociólogo paulista Júlio César Bernardes estreia na poesia com uma reivindicação: numa era em que o sofrimento chegou a limites inimagináveis, a tristeza e o incômodo, mais do que legítimos, são necessários.
O livro, recém-publicado pela editora Cachalote, selo de literatura brasileira do grupo editorial Aboio, é dividido em seis partes e os poemas fluem entre emoções conflitantes, consequência natural das complexidades da vida hipermoderna.
Da tristeza à raiva, do desconforto à desesperança.
Oscilam entre o sarcasmo e a melancolia, e parecem conduzidos por uma sensação constante de cansaço, própria de uma geração da qual o autor faz parte, como em Razão:
“Um sopro singelo atrás do ouvido/o veredito sem julgamento/você viveu errado, meu filho/para bater as mãos:/eu sabia!/e sofrer satisfeito pela eternidade/mas nem isso”.
Por um lado, a precarização da qualidade de vida em decorrência de crises políticas, sociais e ambientais.
Por outro, uma sociedade de consumo hiperconectada, constantemente bombardeada pelo prazer fugaz e pela cobrança incessante por felicidade e estabilidade emocional.
No fim, o medo de ter desperdiçado o melhor de si nesse redemoinho caótico.
Voz emergente da literatura brasileira contemporânea, o autor se contrapõe ao individualismo e à busca obstinada pela felicidade como ideal absoluto, explorando em seus versos os fantasmas coletivos que dão lugar às angústias e às frustrações da vida contemporânea: a descrença nas instituições, o lugar da religião, a hipermercantilização, a digitalização dos hábitos, o questionamento da ideia de progresso e sucesso.
Mais ácido que seu primeiro lançamento, o livro de contos Onde as Verdades Nascem(Editora Patuá, 2022), Manifesto Contra a Felicidade Eterna se abre para a vulnerabilidade e encontra na raiva e na insatisfação o combustível para lidar com as questões sociais e existenciais.
Ao longo de 96 páginas, desafia o contentamento e desconstrói a noção de fracasso, acolhendo os sentimentos mais sombrios e desconfortáveis como inerentes à existência humana.
Diante da obrigação de estar bem em meio ao caos, Manifesto Contra a Felicidade Eterna nos convida a fechar os olhos e dançar com as sombras do nosso tempo.
Sobre o autor
Júlio César Bernardes nasceu em 1993, no Vale do Paraíba, e vive há onze anos em São Paulo.
É mestre em Sociologia e graduado em Relações Internacionais e em Linguística pela Universidade de São Paulo (USP).
Atualmente, cursa o doutorado em Sociologia pela mesma instituição.
É autor de Onde as Verdades Nascem (Editora Patuá, 2022) e integrou a primeira turma do Ateliê de Criação Literária da Biblioteca de São Paulo, iniciado em 2023 e conduzido por autores como Marcelino Freire, Bruna Beber, Morgana Kretzmann e Cristhiano Aguiar.
Manifesto Contra a Felicidade Eterna (ou cinco réquiens para uma morte lenta), publicado pela editora Cachalote, é sua estreia na poesia.