A inspiração é algo muito volátil e repleta de segredos.
Ela surge, quase sempre, de algo simples, como uma conversa entre amigos, por exemplo, e, esse momento corriqueiro, pode acabar guiando toda a concepção de um projeto.
O cantor e compositor Hiran viveu exatamente este sentimento na criação de seu novo trabalho.
Após ouvir a frase ‘eu sou uma jaqueira’, dita por um amigo, e entender toda a complexidade que essa planta carrega, o artista baiano se viu inspirado para dar início a um novo momento em sua carreira, no qual as letras combativas abrem espaço para algo mais leve e esperançoso.
O resultado desta incursão iniciada na botânica é o álbum Jaqueira, terceiro de sua discografia.
Jaqueira ficou disponível nos aplicativos de áudio no dia 10 de maio e acompanha visualizers no canal de YouTube do artista.
“Vi minha vida representada nas características da jaqueira. Ela é misteriosa, precisa de espaço para crescer e, quando cresce, não tem obstáculo que a atrapalhe”, explica Hiran.
Na época que começou o processo de composição, o músico tinha acabado de retornar à cidade natal, Alagoinhas, por conta da pandemia.
Ele se via preso à realidade de incertezas que o momento proporcionava, mas, após ter vivido tudo o que conquistou com os primeiros trabalhos, sabia que, de alguma forma, precisava canalizar aquelas sensações para o papel.
O resultado são letras sinceras que carregam, muitas vezes, um questionamento existencial, como Céu, que abre a tracklist do álbum.
“Estava reflexivo sobre tudo o que vinha acontecendo e, de repente, minhas preocupações eram mais existenciais e menos urgentes que antes”, comenta.
Logo que finalizou as primeiras letras, Hiran sentiu que algumas canções poderiam crescer se somassem outros artistas.
Voz do Destino foi uma delas.
Baseada nos ensinamentos do Candomblé, a música é o relato de uma mudança de olhar sobre a vida e recebeu a voz de Ivete Sangalo para também embalar os acordes.
“Eu amo essa faixa de uma forma tão especial; e ter Ivete nela só fez a parada ir para outro patamar. É um sonho”, resume o cantor, que desenvolveu uma amizade com a voz de Sorte Grande.
“Ivete é um anjo na minha vida. De todas as relações que construí com ídolos ao longo da minha carreira, considero a dela a mais surreal”, complementa.
Já Eu e Você, primeiro single de Jaqueira, tem a colaboração de Melly.
O Menino Que Mexe Comigo e Menina Doce, com participação de Colibri, são registros de relações que Hiran viveu ao longo do processo de composição do trabalho e, de alguma forma, queria eternizar.
Enquanto a primeira fala de uma paixão, a segunda versa sobre uma pessoa especial na caminhada do músico, sua mãe.
“As minhas raízes me norteiam e me seguram”, pontua.
Na sequência, Eu Não Queria Ir Embora traz novas nuances e funciona como uma carta para o antigo Hiran.
Samba do Capão, por sua vez, é resultado de uma viagem e de um contato mais intenso com a natureza.
“Olhei ao redor e me percebi vivo, parte do contexto natural, ao invés de um ser superior e mais importante. Foi intenso”, lembra.
Mesmo Ouçam Minha Voz, partindo de um momento difícil na vida de Hiran, reflete como mensagem principal a esperança.
A faixa-título finaliza a tracklist e fala sobre o renascimento.
“É sobre a possibilidade de se plantar de novo e florescer em terrenos férteis distintos. Sinto que é o que estou fazendo nessa nova abordagem do meu trabalho”, finaliza.
Jaqueira apresenta uma sonoridade e letras contrastantes em relação aos discos anteriores de Hiran, Tem Mana no Rap (2018) e Galinheiro (2020), e é um reflexo direto das jornadas de autoconhecimento causadas pela pandemia.
“Fiquei tão acostumado a falar sobre os problemas de uma forma agressiva e imponente, que estar neste lugar de vulnerabilidade e de sutileza é uma dádiva que consegui, finalmente, me conceder”, sintetiza o cantor, que enxerga o disco uma oportunidade de reiniciar sua narrativa por meio de um novo ponto de vista.