Revisitando filmes: Conspiração e Poder e um alerta que virou rotina
Escrito por Victor Hugo Cavalcante, jornalista, escritor e editor do Folk.
Assistir ao filme Conspiração e Poder (Truth, 2015), dirigido por James Vanderbilt, é como revisitar um momento crítico do jornalismo e perceber o quanto deixamos de aprender com ele.
A história real por trás da queda de Mary Mapes e Dan Rather na CBS News, em 2004, ainda me provoca uma inquietação profunda.
A apuração falhou? Sim.
Mas o erro foi humano e cheio de intenções legítimas.
O filme dramatiza o episódio envolvendo a reportagem sobre o presidente George W. Bush e seu serviço militar no Vietnã.
Cate Blanchett dá vida à jornalista investigativa Mary Mapes, que liderou a produção de uma matéria que pretendia revelar os privilégios concedidos a Bush para escapar da Guerra do Vietnã.
A reportagem, apesar de bem-intencionada, foi sustentada por documentos com inconsistências que rapidamente vieram à tona.
E o resultado foi devastador: críticas ferozes, demissões e o descrédito da rede de televisão.
Enquanto assistia, fiquei pensando no contraste entre aquele momento, em que errar custava uma carreira, e a nossa realidade digital atual.
O que antes era tratado como escândalo ético virou moeda de troca nas redes sociais.
Hoje, a desinformação se espalha com velocidade, muitas vezes sem ser sequer questionada.
E, o pior, parece não importar se é verdade ou não.
Importa apenas o alcance.
O que Conspiração e Poder revela é mais do que um erro de apuração: é a lembrança de que, mesmo com falhas, havia um esforço por responsabilidade, um compromisso com a verdade.
Mary Mapes que acreditava naquela história pagou caro por não ter checado o suficiente.
Mas, na era digital esse compromisso parece cada vez mais raro.
Mentir rápido é mais eficaz, mais lucrativo e, infelizmente, mais valorizado do que checar com cuidado.
E quando as plataformas permitem que boatos se espalhem, a correção, quando vem, é tarde demais.
A verdade já perdeu a corrida.
Vejo, com preocupação, que a responsabilidade foi transferida já que hoje não se cobra mais do autor da mentira, mas da rede que a abriga.
E mesmo assim, raramente há consequências reais.
Se antes os jornalistas eram responsabilizados por cada linha que publicavam, agora vemos influenciadores e anônimos moldando narrativas falsas sem que ninguém se levante para contestar.
A história de Conspiração e Poder me faz pensar no jornalismo que sempre quero praticar, aquele que, mesmo sob pressão, tenta acertar.
Porque, ao contrário do que vivemos hoje, onde a mentira se tornou ferramenta de manipulação, o jornalismo deve continuar sendo o espaço onde se busca, incansavelmente, a verdade.
Fico com a pergunta que ecoa no final do filme e na minha mente: quem se responsabiliza por esse novo tipo de desinformação?
E, talvez mais angustiante: será que um dia aprenderemos com os erros do passado ou continuaremos reféns de uma mentira que se vende em tempo real?
*O título principal desta matéria foi adaptado para fins de SEO.