Aos 22 anos, Rafaela dos Santos Adami, conhecida artisticamente como Rafa Adämi, vem se destacando como uma das mais promissoras artistas neurodivergentes do interior paulista.
Natural de Fernandópolis–SP, ela é autista, tem TDAH e possui Altas Habilidades/Superdotação (AH/SD).
Em menos de dois anos, participou de diversos festivais de arte nacionais e internacionais, colecionando prêmios como o 1º lugar no Festival EYECONTACT (Portugal) e o Prêmio de Originalidade no EYECONTACT LeBlue (Natal–RN).
Além de criar artes autorais e artesanatos, Rafa ilustrou o livro infantil Gentileza é Moleza, lançado em fevereiro de 2025 pela autora e musicoterapeuta Barbara Virgínia Cardoso Faria.
Seu trabalho está em evidência no Instagram, no site da Cog Life Arts e em exposições físicas como a Feira das Artes de Fernandópolis e o hall da Câmara Municipal de Fernandópolis, onde dois quadros seus permanecem em exibição permanente.
Em meio a pincéis, tecidos e estudos, ela segue quebrando barreiras e provando que o talento vai além de qualquer diagnóstico.
Victor Hugo Cavalcante: Primeiro, agradecemos por nos conceder essa entrevista e gostaríamos de perguntar: sua produção cresceu bastante nos últimos anos, como tem sido esse processo de mergulho mais profundo na arte?
Rafa Adämi: A arte sempre esteve muito presente em minha vida e desde criança eu já amava criar e desenhar, mas nos últimos anos eu tenho me aprimorado bastante e tem sido um processo muito gratificante.
A arte foi uma forma que eu encontrei para conseguir me expressar e levar um pouco da minha visão para o mundo, principalmente do ponto de vista neurodivergente.
Através da arte, estou conseguindo fazer novas conexões, além de aprender e evoluir em vários aspectos (social, cognitivo, emocional, criativo) e para mim é realmente muito motivador ver minha arte sendo reconhecida e ver que através dela posso inspirar outras pessoas.
Victor Hugo Cavalcante: Você participou de diversos concursos e festivais. Qual deles mais te marcou e por quê?
Um dos festivais que participei que mais me marcou foi o FESTIVAL SAGRADO EYECONTACT de 2023 em Miami, onde minha obra intitulada Miami nights recebeu o prêmio de Hors Concours, o qual é a premiação máxima.
Foi o segundo festival desse tipo que eu participei e meu primeiro festival de artes internacional, então para mim foi muito marcante e emocionante ver minha arte sendo reconhecida e valorizada dessa forma e certamente foi algo que me motivou muito para que eu continuasse buscando me aprimorar cada vez e seguisse me dedicando às minhas artes.
Victor Hugo Cavalcante: Você ilustrou o livro Gentileza é Moleza, que teve grande repercussão local. Como foi o processo de ilustrar uma obra voltada para o público infantil?
Esse trabalho teve uma grande importância para mim e tenho muito carinho por ele.
Além de ter sido o meu primeiro trabalho ilustrando um livro, também foi a minha primeira vez trabalhando com ilustrações digitais.
O convite para ilustrar esse livro partiu da musicoterapeuta Barbara Virgínia Cardoso Faria, ela já conhecia um pouco dos meus trabalhos como artista e confiou no meu potencial para dar vida à sua música autoral Gentileza é Moleza, transformando-a em um livro.
Apesar de ter sido um processo longo e desafiador, foram três meses de muita pesquisa, aprendizado e trabalho em equipe para que pudéssemos colocar essas ideias em prática e eu conseguir criar todas as ilustrações, onde cada detalhe foi pensado com muito cuidado, buscando incluir pessoas de todas as formas e idades e mostrar ações que podem ser colocadas em prática no dia a dia para tornar o mundo um lugar mais gentil.
Mas ao final foi gratificante e recompensador ver o livro pronto e ver que através da minha arte pude contribuir com algo que vai alcançar diversas pessoas espalhando uma mensagem tão importante sobre gentileza.
Victor Hugo Cavalcante: Além de artista, você tem planos de estudar psicologia. Como essas duas áreas se conectam para você?
Eu vejo a arte não somente como uma forma de expressão, mas também um meio de cura e autoconhecimento, pois com o auxílio dela podemos trabalhar diversos processos emocionais, além de nos conectarmos tanto com nosso mundo interior quanto com o mundo ao nosso redor.
Por outro lado, a psicologia também é uma ponte para esses processos e é um meio onde eu poderia ajudar ainda mais pessoas.
A arte e a psicologia estiveram presentes na maior parte da minha vida, e desenvolveram um papel essencial para que eu me tornasse quem sou hoje.
Sou muito grata e tenho como grande inspiração algumas artistas, terapeutas e psicólogas que passaram por minha vida e fizeram uma grande diferença.
São profissões que admiro muito e quero me especializar para que eu possa também inspirar e fazer a diferença na vida de outras pessoas e ajudar a tornar o mundo um lugar melhor.
Victor Hugo Cavalcante: Que conselho você daria para outros jovens artistas que estão começando agora e ainda não sabem como mostrar seu trabalho ao mundo?
O meu conselho é para acreditarem no seu potencial e não desistam de fazer aquilo que realmente amam.
Na arte não existe certo ou errado, quando você faz algo com seu coração e se dedica verdadeiramente ao que faz, você se destaca e com o tempo será reconhecido.
O mais importante é acreditar que você é capaz, ter paciência, dedicação e persistência e nunca deixar de buscar aprendizado e se aprimorar.
Divulguem seus trabalhos nas redes sociais, feiras, para as pessoas que vocês conhecem, aos poucos o mundo verá seu trabalho.
Para completar, tem uma frase do filme Um menino chamado Natal que sempre gosto de lembrar:
“A impossibilidade é apenas uma possibilidade que você ainda não entende”, ou seja, acredite em si, pois tudo é possível se você acreditar e se dedicar.