Cláudio Sérgio Alves Teixeira é leitor voraz desde criança e, ao longo da vida, sempre oscilou entre o mundo real e um imaginário.
Aos 50 anos, o promotor de justiça, natural de Guarulhos, na Grande São Paulo, lança o segundo livro.
Escrito diariamente ao longo de 18 meses, o livro HQ (320 págs.), publicado pela editora Labrador, é fruto da necessidade de extravasar uma história sobre uma jornada vingativa que influi sobre as amizades que a entornam.
HQ é contado por Rafaelle Nakamura, um sujeito aparentemente comum.
Dentista satisfeito, lutador amador e solteiro convicto, vive uma rotina sem grandes aspirações.
Tudo muda quando a brutal morte de Bianca, filha de um amigo, desencadeia uma série de eventos que transformam sua vida.
Entre encontros com figuras extraordinárias e revelações perturbadoras, Naka descobre que a realidade pode ser tão intensa quanto qualquer quadrinho.
Dimas, pai de Bianca, e o próprio narrador, são personagens que tentaram, de certo modo, negligenciar questões em busca de uma vida livre de preocupações.
Mas, abalados pela tragédia, começam a encarar os acontecimentos em um processo que possibilita compreender melhor a própria amizade.
Narrada com humor mordaz e sarcasmo, a trama de HQ também evoca atmosfera neo-noir.
Trata-se de um diário que acompanha os 21 dias que antecedem a tragédia no qual o escritor procura reconstruir, através da obsessão de Nakamura, os detalhes do acontecimento em uma história que, entre outros temas, reflete a impossibilidade de passar ileso a conflitos, dúvidas e tragédias impostas pela vida.
“Algo dentro de mim fervilhava e buscava o mundo externo, daí nasceu o romance”, finaliza o autor.
Por meio de um vocabulário robusto e detalhista, Cláudio consegue conferir personalidade e substância a circunstâncias e personagens.
Mesmo aqueles que resvalam colateralmente na trama.
O autor define sua escrita como “um estilo claro e objetivo, sem descurar do sarcasmo e dos jogos de palavras”.
O fluxo narrativo estabelecido desde as primeiras páginas irá capturar a atenção do leitor até seu desfecho com o epílogo.
“Busquei a agilidade das histórias em quadrinhos, então há muita ação. Inclusive, a última palavra de cada capítulo é também a primeira do seguinte, uma forma de manter toda a trama encadeada e avançando sem perder o ritmo do que ocorria”.
Além da nítida reverência aos quadrinhos publicados por Alan Moore nos anos 80, o escritor, que apesar da formação em Direito, também já cursou Letras, carrega ainda em sua bagagem a influência de autores como o argentino Jorge Luís Borges, o brasileiro Rubem Fonseca e o americano F. Scott Fitzgerald.
Apesar de HQ se assemelhar ao gênero de romance policial, o autor não se prende a ele.
“Não há mistério nele, por exemplo, tudo é claro e narrado para o leitor. Não importam tantos fatos misteriosos a serem descobertos, mas sim a reação das personagens aos fatos trágicos”, explica.
O lançamento converge com Miragem, publicado em 2021.
No livro de estreia de Cláudio, uma jovem de invulgar beleza é igualmente encontrada morta.
O que dá início a uma jornada de reflexão em torno das crenças e valores do personagem e de quem os acompanha ao longo da leitura.
Hoje, o escritor está focado em prosseguir com a divulgação de Miragem e do recente lançamento.
Mas, tudo pode acontecer.
Ele conta que não tinha planos para um segundo livro, quando simplesmente começou a escrever e assim nasceu HQ.