As Edições Sesc São Paulo lançam o livro Ester Grinspum, organizado por Fabiana de Barros, Michel Favre e Marcia Zoladz, no dia 13 de junho, quinta-feira, a partir das 18h, na Galeria Raquel Arnaud, em São Paulo, com a presença da artista.
Ester é uma das expoentes da chamada “Geração 80” das artes brasileiras, que injetou novo ânimo na cultura brasileira no período de redemocratização.
Além de imagens de suas obras mais representativas, o volume traz uma introdução dos organizadores da coleção Arte, Trabalho e Ideal, um texto crítico da psicanalista Miriam Chnaiderman, além de uma entrevista da artista concedida ao poeta Régis Bonvicino.
A série Arte, Trabalho e Ideal, que já abordou os artistas Evandro Carlos Jardim, Anna Bella Geiger e Gabriel Abrantes, convida o leitor para uma visita ao ateliê, ao pensamento e ao processo do fazer artístico.
No caso de Ester Grinspum, esse trabalho vem se desenvolvendo desde o início da década de 1980.
Com formação em Arquitetura pela FAU-USP, ela havia estudado no colégio judaico progressista Scholem Aleichem, localizado no bairro do Bom Retiro, em São Paulo, onde aprendeu hebraico.
Em seu texto de apresentação, Danilo Santos de Miranda, diretor do Sesc São Paulo entre 1984 e 2023, destaca que “é possível situar parte da gênese da poética de Grinspum, desde a infância, em seu processo de educação escolar, extracurricular e universitária”.
Diante das peças, o espectador é de algum modo convidado a se projetar no interior da composição linear e do volume escultórico, respectivamente. A arte, ali e na presente publicação, é apresentada como um lugar a ser habitado, onde os “recintos” comportam imaginários já constituídos e aqueles em estado de devir.
Danilo Santos de Miranda
“Escultura é um lugar”
Os organizadores argumentam que a escultura de Ester se define pela concepção arquitetônica, tridimensional.
A própria artista afirma: “para mim a escultura é um lugar”, como evidenciam os grandes vasos, as estruturas em chapas de ferro, tão marcantes em sua obra.
Miriam Chnaiderman, no ensaio crítico, sugere que a obra de Grinspum “revela um caminho que é o da própria história da arte”.
Entre suas influências estão a arte rupestre, os artistas Miró e Matisse, além do desenho infantil.
Mas, partindo do figurativo, a obra dela “marca uma ruptura com o representacional”, segundo Chnaiderman.
Superposições presentes em toda a obra; trespassamento de ancestralidades que tomam forma. Assim é a obra de Ester Grinspum.
Miriam Chnaiderman
No texto da orelha, Tadeu Chiarelli, professor de artes visuais da ECA-USP e ex-diretor do MAM-SP, do MAC-SP e da Pinacoteca do Estado de SP, diz ter concluído que Ester é a “Nara Leão das artes visuais, em referência à cantora ícone da bossa nova de voz discreta, mas firme e contundente, ocupando o espaço sonoro como poucas”.
Para Chiarelli, “Ester, por sua vez, é uma construtora discreta de formas, uma artista que consegue ressignificar o espaço onde suas intervenções se instalam (no espaço tridimensional) ou se inscrevem (nos desenhos)”.
(…) é, portanto, um livro que, além de trazer imagens de obras fundamentais para a compreensão da poética de Ester, oferece ao público a oportunidade de entrar em contato com o pensamento sofisticado — às vezes brilhante — dessa artista e desses intelectuais tão afinados. O que é sempre um prazer.
Tadeu Chiarelli
A escrita do hebraico como inspiração
Na entrevista com o poeta Régis Bonvicino, os dois artistas discutem como a linha é um elemento definidor do trabalho de Grinspum.
Ester considera sua obra um tipo de texto, de escritura.
“Vem da escritura, vem do aprendizado do hebraico, vem do desenho, porque no hebraico você desenha, a letra é muito desenhada, cada letra define um espaço”, afirma ela.
Ester conta sobre as experiências no colégio Scholem Aleichem e na FAU-USP, e sobre a influência das diversas escolas artísticas em voga na época, como a dos concretistas.
Ela diz ser “muito anárquica” no aprendizado e se basear muito na experiência e pouco na teoria.
Bonvicino a provoca dizendo que não vê a influência do pop no seu traço, e ela concorda:
“Isso, sim, é uma decisão. Talvez a grande decisão sobre minha postura no mundo seja essa. O contrário do pop. Definitivamente, eu não quero ser pop”, afirma.
A experiência da artista em Paris
Após chamar atenção na cena de artes visuais de São Paulo nos anos 1980 e participar da exposição Como vai você, Geração 80?, na Escola de Artes Visuais do Parque Laje, no Rio de Janeiro, que trouxe também nomes como Leonilson, Beatriz Milhazes, Leda Catunda e Nuno Ramos, Grinspum foi para Paris, com uma residência no Centre Pompidou, pesquisar a obra do escultor romeno Constantin Brâncuși.
Expôs nas Bienais de Havana e São Paulo, e em mostras em Estocolmo (Suécia), Washington e Nova York (EUA), Bienne (Suíça) e no Stedelijk Museum Schiedam (Holanda).
Ao longo das últimas quatro décadas, Ester foi amadurecendo seu trabalho, tornando-se mais introspectiva, mas sempre ocupando um espaço considerável no panorama das artes visuais brasileiras.
Com projeto gráfico de Rico Lins +Studio e Julieta Sobral, este quarto volume da coleção Arte, Trabalho e Ideal traz também uma versão integral do texto em inglês.