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Investir em saúde ocular pode gerar R$ 42 bilhões ao Brasil

Estudo inédito da IAPB aponta que aplicar menos de 1% do orçamento da saúde em cuidados visuais traria retorno econômico e social significativo.

Imagem ilustrativa de exame de visão.

A Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira (IAPB) estima que até 90% dos casos de cegueira e deficiência visual possam ser prevenidos ou tratados.

No Dia Mundial da Visão, celebrado em 9 de outubro, um estudo inédito revelou o impacto potencial do investimento em saúde ocular no Brasil.

Conforme os dados apontam, a destinação de R$ 1,55 bilhão para a promoção da saúde ocular — menos de 1% do orçamento público da saúde previsto para 2025 — poderia gerar um retorno anual de R$ 42 bilhões, o equivalente a R$ 27 para cada R$ 1 investidos.

O relatório Valor da Visão foi produzido pela Agência Internacional para a Prevenção da Cegueira (IAPB), Fundação Seva e Fundação Fred Hollows.

As consequências da perda de visão parcial ou total são muitas.

Envolvem desemprego, baixa escolaridade, redução de renda, sobrecarga para os cuidadores, problemas de saúde mental e maior risco de acidentes e doenças, fatores que afetam diretamente a realidade socioeconômica do país.

Assim, segundo o estudo, entre os principais benefícios da atenção à saúde ocular estariam ganhos de empregabilidade (R$ 16,8 bilhões) e de produtividade (R$ 9,36 bilhões).

Além disso, o investimento em prevenção, diagnóstico precoce e tratamento de doenças oculares também traria benefícios sociais: evitaria 60 mil casos de depressão e quase 14 mil acidentes de trânsito, além de gerar um ganho em escolaridade de 139 mil anos.

Antes da cirurgia, Lorrayne Compri só se sentia confortável usando lentes escuras (à esq.); agora, recuperou a autoestima para tirar fotos sem esconder os olhos. Crédito: Divulgação.

Lorrayne Compri, 36, analista de suporte de vendas, conhece bem os impactos positivos dos cuidados oculares.

Moradora de São Carlos–SP, ela tinha estrabismo, doença caracterizada pelo desalinhamento dos olhos, desde os 8 anos e relata ter sofrido bullying por anos na juventude, com consequências graves para sua autoestima e saúde mental.

“Eu sempre adorei tirar fotos, mas sempre olhava para baixo ou escondia os olhos com o cabelo, e só me sentia mais segura com óculos de lentes escurecidas”, conta ela, que viveu até os 30 anos sem acesso à cirurgia em razão dos altos custos do procedimento.

Em 2019, ela pôde, enfim, corrigir gratuitamente o estrabismo, com o apoio do Instituto Verter.

“Quando eu cheguei em casa depois da cirurgia e vi meus olhos no espelho, fiquei emocionada e falei para minha mãe ‘estão retinhos, estão retinhos’. Fui à praia comemorar e tirei muitas fotos sem óculos. A cirurgia mudou completamente a minha vida.”

Para Caio Abujamra, presidente do Instituto Suel Abujamra, o investimento em saúde ocular é uma das decisões mais inteligentes que o Brasil poderia tomar.

“O impacto vai muito além do financeiro. Quando melhoramos a visão, nós também prevenimos depressão, reduzimos acidentes e aliviamos os cuidadores. O ato de enxergar está relacionado à dignidade e às oportunidades tanto quanto à economia, e em um país onde as desigualdades sociais e econômicas são tão profundas, investir na saúde ocular pode fazer uma diferença decisiva”, diz.

A pesquisa aponta seis áreas prioritárias para os governos prevenirem a perda da visão: detecção precoce por meio de exames nas comunidades — nas escolas, por exemplo, distribuição de óculos de leitura, aumento da capacidade cirúrgica, melhorias na produtividade cirúrgica e das equipes, e remoção de barreiras ao acesso à saúde ocular — como custo, distância e estigma, além do aprimoramento da cirurgia de catarata com técnicas inovadores, uso mais amplo de biometria e padrões mais rigorosos de cuidados pós-operatórios.

Um exame simples e de rotina na escola foi responsável por alertar a família de Helena Abia Domingos Lucena, 12, de São Paulo, sobre a possibilidade de diagnóstico de um tumor (neoplasia) de conjuntiva.

A lesão surgiu como uma mancha no olho direito quando ela tinha 8 anos.

Desde então, a menina sente o olho irritado e a visão embaçada, causando dores de cabeça.

A mãe, a especialista em compliance Carla Kate da Silva, 39, procurou orientação oftalmológica quando os primeiros sintomas apareceram, mas os profissionais indicaram que era apenas uma mancha e os demais sintomas poderiam ser cansaço.

Após o alerta dos exames feitos na escola, Helena começou a ser acompanhada pelo Instituto Suel Abujamra.

“Conversei na escola para os professores deixarem que ela sentasse nas fileiras da frente para enxergar melhor a lousa. Fizemos um tratamento com colírios, o que amenizou os sintomas, tanto que ela ficou alguns meses sem se queixar das dores de cabeça e da coceira. Agora, fazemos o acompanhamento com o Instituto Suel Abujamra para saber como a mancha está se comportando”, assinala Silva.

“A perda da visão é um problema universal que impacta todas as áreas da vida, mas temos soluções claras para ela. Grande parte dos casos pode ser prevenida com intervenções simples e acessíveis, como expandir os testes de visão e melhorar a cirurgia de catarata. Neste Dia Mundial da Visão, convocamos governos, empresas, escolas e famílias a fazer da saúde ocular uma prioridade. A evidência é clara: ao investirmos na visão, investimos no futuro”, afirma Peter Holland, diretor-executivo da IAPB.

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