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Inovação tecnológica no cooperativismo de crédito no Brasil

Descubra como as cooperativas financeiras estão usando a tecnologia digital para ampliar e transformar comunidades remotas no Brasil.

Imagem ilustrativa feita por IA.

Crédito da foto principal: Imagem ilustrativa via IA do Canva.

No Brasil, uma grande parte da população em regiões remotas ainda enfrenta dificuldades para acessar serviços comerciais tradicionais.

Nesse contexto, as cooperativas de crédito se destacam como agentes essenciais de inclusão social e econômica.

Nos últimos anos, a combinação do modelo cooperativista com inovações tecnológicas vem revolucionando esse cenário.

Por meio da adoção de inteligência artificial, plataformas digitais e automação, essas instituições conseguem ampliar seu alcance, oferecendo crédito e serviços financeiros personalizados a comunidades antes marginalizadas.

Exemplos concretos demonstram esse avanço: a CrediSIS implementa plataformas digitais que agilizam a concessão de crédito; o Sistema Ailos criou um marketplace cooperativista chamado Ailos Aproxima para apoiar empreendedores locais e soluções como o Ailos Pix Crédito para pagamentos parcelados; a Coopercitrus lançou a fintech Fincoop, focada nos produtores rurais; e a Unimed Fortaleza desenvolveu o Universo Soluções Financeiras, oferecendo crédito, investimentos e seguros digitais aos cooperados.

Além disso, avanços regulatórios e parcerias estratégicas fortalecem a inovação.

Instituições cooperativas se uniram à Finep e agora podem acessar recursos do FNDCT para investir em tecnologia e pesquisa, ampliando a capacidade de desenvolvimento de soluções financeiras digitais.

Nesta reportagem, discutiremos como a tecnologia está evoluindo o cooperativismo de crédito no Brasil, preservando os valores do modelo cooperativista enquanto impulsiona o desenvolvimento local e a inclusão financeira em comunidades remotas de todo o país.

Ciência de dados e IA: a nova fronteira da inovação no cooperativismo

Reinaldo Soares atua na interseção entre modelagem estatística, economia computacional e governança de dados, focando na transformação digital e na sustentabilidade das infraestruturas críticas de informação
(Crédito: Divulgação).

Reinaldo Soares de Camargo (foto acima), doutor em Economia pela Universidade Católica de Brasília e especialista em Ciência de Dados e Inteligência Artificial aplicada a finanças, explica que a ciência de dados e a inteligência artificial têm sido cruciais para superar obstáculos históricos do cooperativismo:

“As cooperativas enfrentavam desafios para escalar serviços financeiros personalizados com base em informações locais. Hoje, com Machine Learning e análise preditiva, conseguimos entender melhor o comportamento dos associados, aprimorar a avaliação de riscos de crédito e identificar oportunidades para fidelização.”

Segundo ele, “modelos de IA conseguem identificar microsegmentos de cooperados com alta propensão a investir ou antecipar inadimplência a partir de dados transacionais, históricos e socioeconômicos. Isso torna as cooperativas mais competitivas frente a grandes bancos, sem perder seu propósito social.”

Os impactos são visíveis em custos, produtividade e precisão.

“Reduzimos até 30% do tempo médio de análise de crédito com automação inteligente e aumentamos em 20% a 40% a acurácia dos modelos de risco comparados a métodos tradicionais”, diz o economista.

Ele destaca ainda como a integração de data lakes e dashboards em nuvem permite monitoramento em tempo real dos indicadores financeiros, reduzindo custos administrativos e permitindo respostas mais ágeis às mudanças econômicas locais.

Sobre o aprimoramento da governança, Reinaldo destaca que “modelos estatísticos e preditivos fornecem uma base objetiva para decisões que antes se apoiavam em experiência empírica. Técnicas como credit scoring moderno, Random Forest e XGBoost ajudam a projetar a probabilidade de adimplência ou evasão dos cooperados, fortalecendo financeira e estrategicamente as cooperativas.”

Ele acrescenta que essas análises também aprimoram a transparência e priorizam investimentos regionais, elementos centrais para uma governança eficaz no cooperativismo.

Questionado sobre desafios técnicos e éticos, ele enfatiza:

“Um dos principais desafios técnicos é a qualidade e integração dos dados, já que muitas cooperativas utilizam sistemas fragmentados ou bases heterogêneas. Além disso, a cultura de dados continua em desenvolvimento em parte do setor, demandando capacitação interna.”

No campo ético, Reinaldo ressalta preocupações legítimas com viés algorítmico em comunidades vulneráveis e proteção de dados pessoais conforme a LGPD.

“É fundamental implementar IA responsável, com auditorias, governança de dados e explicabilidade das decisões automatizadas.”

Por fim, ele esclarece como a análise de dados amplia a inclusão financeira:

“Ao cruzar dados socioeconômicos, geográficos e de comportamento digital, as cooperativas identificam comunidades subatendidas e ofertam produtos adequados, como microcrédito, seguros solidários e educação financeira. Modelos alternativos de credit scoring, que utilizam dados não tradicionais, garantem crédito justo a quem antes ficava fora do sistema, fomentando um ciclo virtuoso de crédito local, aumento de renda e fortalecimento das economias regionais.”

O avanço das tecnologias digitais e a incorporação de soluções inovadoras vêm redesenhando o cooperativismo de crédito no Brasil.

Essa nova fase alia precisão analítica e inteligência artificial à missão social do movimento, ampliando o alcance e a personalização dos serviços oferecidos aos cooperados.

Nesse cenário de transformação, o protagonismo de líderes e organizações que unem tecnologia e propósito humano reforça o papel do cooperativismo como vetor de inclusão e desenvolvimento regional.

Com essa perspectiva, avançamos para conhecer a experiência concreta de quem lidera essa revolução tecnológica no setor: Igor Sigiani, diretor-presidente da Coopercompany, primeira cooperativa de telecomunicações e tecnologia do país.

Fortalecendo o cooperativismo brasileiro com a tecnologia

Igor Sigiani, com mais de 20 anos no setor cooperativista, lidera a Coopercompany, 1ª cooperativa de infraestrutura em Telecom e Tecnologia no Brasil.

O trabalho da Coopercompany, 1ª cooperativa de infraestrutura em Telecom e Tecnologia, exemplifica como o uso da tecnologia pode diversificar e fortalecer o modelo cooperativista, ampliando sua relevância e alcance social.

Com foco em soluções customizadas e intercooperação, a Coopercompany tem sido pioneira em modernizar o acesso à telefonia móvel pós-pagamento e outras tecnologias, conectando comunidades remotas e promovendo a inclusão digital.

Para Igor Sigiani (foto acima), diretor-presidente da Coopercompany, a inovação faz parte do DNA da cooperativa.

 “Desde a concepção (da Coopercompany), tudo gira em torno do propósito: transformar vidas por meio da conexão, proporcionando soluções inteligentes e acessíveis para que nossos cooperados desenvolvam suas atividades pessoais e profissionais com mais qualidade e eficiência. Cada detalhe dos benefícios que estruturamos é pensado para garantir, por meio de processos, sistemas e pessoas, uma experiência encantadora. Todos os problemas possuem várias soluções e inúmeras oportunidades. Nossa forma de ver e viver os problemas é lógica e cheia de sensibilidade, pois somos conscientes de que somos a solução sempre que há um problema.”

Ele destaca que os benefícios tecnológicos vão muito além da telefonia móvel.

“Tag de passagens em pedágios e estacionamentos, monitoramento e rastreamento de frotas, banda larga e links, fixo em nuvem e central de relacionamento com o segurado 24h estão entre os benefícios que entregamos aos nossos cooperados. Impactamos toda a sociedade em que estamos inseridos, ao haver um ganho exponencial na qualidade das entregas. Customizamos e moldamos cada benefício pensando na real necessidade do cooperado e, mesmo utilizando automação e inteligência artificial para agilizar a análise, permanecemos com a humanização. Nossa equipe, convictamente denominada de Superstars, tem a missão de ser luz em todas as interações. Temos orgulho de sermos agentes de soluções inteligentes.”

Igor ainda salienta que o selo garantidor da eficiência da Coopercompany é o NPS acima de 94%, e ainda esclarece que esse dado é transacional, ou seja, a medição é realizada a cada atendimento.

Sobre a intercooperação, Igor explica que “toda cooperativa pode levar os benefícios da Coopercompany para seus cooperados. Em intercooperação complementamos a cesta de vantagens e benefícios de qualquer cooperativa do Brasil. Nosso DNA tecnológico tem a missão de automatizar e gerar agilidade nas operações. Por exemplo, nossa última entrega para os cooperados: autosserviço. Por meio dessa solução, o cooperado ativa sua linha móvel instantaneamente, basta ter acesso ao portal do cooperado ou ler um QR code de autosserviço em qualquer cooperativa em intercooperação.”

Quanto aos desafios e oportunidades no crescimento de serviços tecnológicos, ele comenta que “o cooperativismo tem os mesmos desafios do mercado comum, pois não almejamos lucros e nossa relação não é mercantilizada.”.

Sendo assim, tudo que há de dificuldade para o mercado em geral, também existe para o cooperativismo.

Entretanto, quando falamos de oportunidades, para Igor, a conversa muda muito.

“O cooperativismo é unido em prol de transformar o mundo por meio de entregas humanizadas com impacto real na sociedade, e isso é único, por empoderar nossas ações e podermos avançar. O cooperativismo é a organização da sociedade para o bem comum; por essa razão, cresce e se consolida cada vez mais. Temos muito a construir, somos um pouco mais de 25 milhões em todo o Brasil, sendo assim, ainda há muito a ser feito para crescer e escalar.”, explica Sigiani.

Para finalizar, ele ressalta que a empresa existe “unicamente para atender nossos cooperados. Os custos são organizados para suportar a estrutura com as mesmas condições para todos. Ou seja, todos têm acesso às melhores e às mesmas condições possíveis, de forma isonômica, como deve ser em uma sociedade cooperativa que tem como base de seu propósito: transformar vidas.”

O compromisso com a inovação e a humanização no cooperativismo, representado pelo trabalho da Coopercompany sob a liderança de Igor Sigiani, reflete a transformação mais ampla que o setor vem experimentando.

À medida que o cooperativismo brasileiro se fortalece na incorporação de tecnologias inovadoras, é fundamental ampliar o olhar para além das fronteiras nacionais.

O cenário internacional traz aprendizados importantes sobre inclusão financeira, modelos de crédito e inovação que podem inspirar o desenvolvimento e a sustentabilidade do setor no Brasil.

Neste contexto, Luciano Bravo, referência em crédito internacional na América Latina, oferece uma perspectiva global sobre como sistemas financeiros inovadores em diversos países ampliam o acesso ao crédito e fortalecem comunidades vulneráveis.

Inclusão financeira global: lições do crédito internacional

Luciano Bravo analisa evidências, tendências e desafios que dialogam diretamente com a realidade brasileira. Crédito: Divulgação.

Luciano Bravo, fundador e CVO da Inteligência Comercial, é reconhecido como o maior especialista em crédito internacional da América Latina.

Com mais de 30 anos de experiência, ele abriu caminhos para que empresas médias brasileiras tenham acesso a capital estrangeiro, criando o modelo de Transporte de Capital Internacional (ACI), que ampliou significativamente o financiamento de empresas nacionais.

Em sua análise, Luciano destaca que, no cenário global, as principais tendências em inclusão financeira vêm do uso crescente de fintechs, bancos digitais comunitários, microcrédito digital, educação financeira por meio de aplicativos e parcerias entre cooperativas e plataformas tecnológicas, estratégias que ampliam o acesso a populações não bancarizadas.

Além disso, o especialista explica que a inovação tecnológica tem permitido acesso via celular, análise de crédito com dados alternativos (como histórico de pagamentos e comportamento digital) e plataformas de microcrédito automatizadas, reduzindo burocracia e custos.

Ele cita exemplos internacionais de sucesso, como o Grameen Bank em Bangladesh, as SACCOs na África, as credit unions nos Estados Unidos e Canadá, e o modelo M-Pesa no Quênia, todos focados em crédito acessível e inclusão financeira comunitária.

No entanto, Luciano Bravo ressalta que ainda persistem desafios globais, como baixa educação financeira, falta de infraestrutura digital e desconfiança no sistema financeiro, desafios que refletem a realidade brasileira, especialmente nas áreas rurais e periféricas.

Por fim, ele ressalta que “políticas públicas e regulamentações internacionais vêm incentivando sandbox regulatórios, fundos de apoio à inovação e marcos legais para fintechs e cooperativas digitais, estimulando modelos sustentáveis de crédito social.”.

Ao integrar essas lições internacionais, o cooperativismo brasileiro poderá consolidar avanços tecnológicos e sociais, seguindo rumo à inclusão e ao desenvolvimento regional.

Com essa visão em mente, o nosso olhar se volta para um dos principais eventos do setor no país: o Cooptech Crédito 2025, onde inovação, tecnologia e os desafios atuais do cooperativismo são discutidos por líderes e especialistas.

Cooptech Crédito 2025: Inovação, tecnologia e os rumores do setor cooperativista

Cooptech Crédito 2025 (Crédito da foto: Camila Menezes).

Recentemente, o Cooptech Crédito 2025 reuniu mais de 400 líderes, especialistas e gestores das cooperativas de crédito brasileiras para debater inovação, tecnologia e os rumores do setor.

Realizado em São Paulo, o evento destacou temas estratégicos como aplicação de inteligência artificial, digitalização de processos, finanças abertas e cooperação ativista.

As principais inovações tecnológicas debatidas no Cooptech Crédito 2025 incluem a melhoria de inteligência artificial para automação e otimização de processos, o uso crescente do Open Finance para integração e compartilhamento seguro de dados financeiros, e a digitalização dos canais de atendimento para melhorar o relacionamento com o cooperado.

O evento também destacou os desafios para integrar sistemas legados e aumentar a atualização tecnológica das cooperativas, ressaltando a importância da profissionalização e do alinhamento da inovação ao propósito cooperativista.

O Cooptech Crédito ajuda a acelerar a transformação digital das cooperativas brasileiras ao criar um espaço plural de troca de experiências, aprendizado e benchmarking, além de envolver órgãos reguladores, especialistas e líderes para definir rumores estratégicos e fomentar a cooperação e inclusão digital no setor.

Os recursos do FNDCT via Finep desempenham papel fundamental no financiamento da inovação das cooperativas, oferecendo linhas de crédito reembolsáveis ​​com taxas atrativas, subvenção econômica e investimentos em projetos estratégicos de desenvolvimento tecnológico.

A nova legislação que permite o uso do superávit do FNDCT amplia ainda mais o acesso a esses recursos, proporcionando maior autonomia e previsibilidade para projetos inovadores.

As tendências tecnológicas para o futuro do cooperativismo de crédito apontam para a intensificação do uso de Inteligência Artificial (IA), automação, análise preditiva, Open Finance mais maduro, desenvolvimento de soluções digitais centradas no cooperado e expansão da infraestrutura tecnológica para atendimento híbrido (digital e presencial).

Os exemplos de sucesso mostrados no evento incluem a Unicred e o Sicredi.

A Unicred utilizou um sistema seguro para fazer a abertura de contas digitais.

Já o Sicredi usou um assistente virtual com inteligência artificial para auxiliar no atendimento.

Além disso, várias cooperativas estão usando a inteligência artificial para analisar crédito e evitar que pessoas não paguem.

Também foi falado sobre o uso do PIX e de novas formas, como o PIX parcelado, para facilitar as transações de dinheiro.

Esses pontos refletem um cooperativismo comprometido com inovação estruturada e focado em gerar valor real ao cooperado nos princípios do movimento cooperativo, buscando crescimento sustentável, inclusão financeira e competitividade no mercado.

Mas, como será que os clientes cooperados dessas empresas veem esse uso tecnológico e inovador, na prática do dia a dia, tanto em suas vidas pessoais quanto nos negócios?

Para responder a essa pergunta, conversamos com Lucas Albuquerque Cavalcante, cooperado do Sicredi de Ouroeste que utiliza intensamente as soluções digitais da cooperativa em seu escritório de contabilidade.

Tecnologia que transforma vidas e negócios

Lucas Albuquerque Cavalcante de Ouroeste–SP, utiliza os serviços oferecidos pelo Sicredi local, aproveitando as tecnologias desta cooperativa (Crédito: Divulgação).

O ouroestense Lucas Albuquerque Cavalcante, empresário à frente do Escritório Argus de Contabilidade, destaca que as ferramentas digitais do Sicredi, como o aplicativo de gestão financeira e o atendimento via WhatsApp, simplificaram o acompanhamento das finanças e o acesso aos serviços, tornando o planejamento mais ágil e eficaz.

“Hoje consigo acompanhar meus rendimentos e fazer operações sem sair de casa, o que me ajuda a planejar melhor minhas finanças”, relata Lucas.

Na comunidade local, ele percebe o efeito multiplicador dessas tecnologias:

“Essas inovações aproximaram mais os cooperados, gerando inclusão financeira e incentivando o uso consciente do dinheiro.”

A digitalização dos processos, segundo ele, representou uma mudança profunda na facilidade de acesso ao crédito e demais serviços, especialmente pela desburocratização promovida por canais digitais, como o aplicativo do banco e o atendimento via WhatsApp.

“Recebi propostas para consórcio e seguro veicular digitalmente, solucionando tudo de forma prática,” exemplifica.

No âmbito empresarial, o empresário valoriza as plataformas digitais que facilitam a gestão financeira do escritório.

“O Internet Banking tornou o gerenciamento de contas jurídicas muito mais prático. Posso delegar pagamentos para funcionários com perfis específicos dentro da minha conta, liberando-os quando necessário, otimizando o fluxo de trabalho e aumentando a segurança.”

Entretanto, Lucas admite que o ritmo acelerado da tecnologia traz desafios:

“O principal é me manter atualizado, pois as mudanças são diárias e às vezes é necessário um tempo maior para entender as novas plataformas e operações.”

O relato do empresário enfatiza a importância das cooperativas financeiras que investem em inovação constante, não somente para tornar os serviços mais acessíveis, mas para ampliar o impacto social e econômico em suas regiões de atuação.

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