O ensino da história afro-brasileira e de outras culturas marginalizadas tem se tornado cada vez mais essencial no combate ao racismo estrutural no Brasil.
A implementação dessa abordagem nas escolas visa não apenas corrigir lacunas históricas, mas também criar um ambiente de aprendizado inclusivo, onde a diversidade é valorizada e respeitada.
Compreender e valorizar as raízes afro-brasileiras ajuda a desconstruir preconceitos, promove o reconhecimento de contribuições essenciais desses povos ao Brasil e abre portas para um futuro mais justo e igualitário.
Para refletir sobre a importância do ensino da história afro-brasileira e sua relevância na educação antirracista, conversamos com a pedagoga Raimunda Caldas, mestre em Direitos Humanos e coordenadora da Qualidade Social da Educação do Marista Brasil.
Victor Hugo Cavalcante: Primeiro, agradecemos por nos conceder essa entrevista e gostaríamos de perguntar: Por que é importante ensinar a história afro-brasileira de forma integral nas escolas brasileiras? Quais são os benefícios dessa inclusão para a formação de crianças e adolescentes?
Raimunda Caldas: O desenvolvimento da Educação Antirracista pelas escolas é importante para desconstruir preconceitos, valorizar a história e a cultura afro-brasileira e indígena e promover a equidade racial e a justiça social.
Além disso, para possibilitar a igualdade de oportunidades para todos os estudantes por meio de uma educação de qualidade, inclusiva e livre de discriminação.
Os benefícios passam pela formação de cidadãos éticos, justos e solidários e pelo desenvolvimento de uma sociedade menos violenta, justa e solidária.
Victor Hugo Cavalcante: O ensino de história e cultura afro-brasileira pode ajudar a combater o racismo estrutural, mas como isso acontece na prática dentro das escolas?
Sim, considerando que o racismo estrutural está enraizado nas instituições e se manifesta por meio de vários aspectos sociais, sendo a educação um deles, o ensino da história e cultura indígena e afro-brasileiros pelas escolas torna-se uma excelente ferramenta no enfrentamento do racismo no país.
As escolas precisam garantir um currículo onde as pessoas sejam a centralidade e que incentive e desenvolva ações de inclusão e valorização das pessoas e de suas culturas.
Elas podem realizar ações educativas e iniciativas que promovam a discussão e participação de todos os estudantes a respeito das diversas manifestações do racismo no âmbito da escola e da sociedade, buscando promover um ambiente de aprendizagem seguro, acolhedor e inclusivo para todos os estudantes.
A educação antirracista deve ser um compromisso colaborativo e contínuo de toda a escola (gestores, educadores, estudantes, famílias) de tornar o ambiente escolar um espaço de igualdade, respeito as diversidades.
Victor Hugo Cavalcante: Quais os principais desafios para a implementação do ensino de história afro-brasileira nas escolas públicas e privadas no Brasil?
Os desafios são muitos dentro de uma sociedade que acredita que existe uma democracia racial em nosso país, apesar das reflexões promovidas nas últimas décadas a respeito desse mito.
Entretanto, dentre os desafios para o cumprimento da Lei 11.645/2008, está a necessidade de formação continuada de professores e a produção de materiais didáticos que abordem a temática com o compromisso crítico que se faz necessário, apresentando as importantes contribuições que os povos indígenas e negros aportaram para o desenvolvimento do Brasil.
Victor Hugo Cavalcante: Como os educadores podem criar um ambiente mais inclusivo e antirracista em sala de aula, considerando o contexto de desigualdade racial presente nas escolas?
Em princípio, é importante que os educadores busquem um letramento racial, por meio da formação continuada, para que se sintam seguros e mais preparados para abordar e desenvolver uma educação antirracista, no intento de combater e discutir o racismo e seus efeitos na escola e na sociedade, propiciando assim um ambiente seguro para a aprendizagem e para o desenvolvimento integral dos estudantes.
E, estando, eles, diante de uma situação racista em sala de aula, tomar providências cabíveis para interromper essa violência e não lidar como se fosse uma brincadeira entre estudantes.
É preciso compreender que devemos buscar combater o racismo em todas as suas formar, inclusive, o racismo recreativo (piadas racistas).
Victor Hugo Cavalcante: Quais mudanças você acredita serem necessárias no currículo escolar para promover uma educação mais equitativa e plural?
O currículo é um campo sempre em disputa.
Sendo assim, o desenvolvimento de um currículo com enfoque nos direitos humanos é o caminho mais profícuo para garantirmos uma educação de qualidade e emancipadora.
E buscar consonância com o Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais da Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, deve facilitar nessa construção.