O ano é 2025 e as aulas começaram com mudanças expressivas para crianças, adolescentes, educadores e familiares.
A recente proibição do uso de celulares nas escolas trouxe desafios no que se refere a hábitos, convivência e adaptações, mas, por outro lado, abriu um novo leque de oportunidades.
Como especialista em mindfulness, trabalhando diariamente com instituições de ensino, acredito que esta medida pode ser um catalisador de mudanças significativas no campo educacional, de bem-estar e na saúde mental de todos os envolvidos no processo.
Neste primeiro semestre letivo há, ainda, muito o que observar e grandes aprendizados para compartilharmos.
Alguns desafios mais imediatos já podem ser notados dentro das escolas, envolvendo os profissionais de educação que buscam a forma ideal de criar oportunidades dentro do contexto existente.
Me refiro à resistência inicial, tanto dos alunos quanto dos responsáveis, que podem sentir uma certa dificuldade ao abrir mão do uso dos celulares por parte dos alunos na escola, pois estavam habituados a isso.
Em um mundo conectado, estes dispositivos tornaram-se uma extensão de nós mesmos, representando um meio de comunicação, entretenimento e, muitas vezes, uma falsa sensação de segurança.
Embora pareça que as famílias só estarão seguras com acesso aos seus filhos na escola, a verdade é que este ambiente é preparado para que os alunos criem autonomia e possam aprender de forma saudável, com o apoio digital na medida certa e com viés pedagógico.
Cabe aos responsáveis e à escola uma parceria com o objetivo de incentivar os alunos a vivenciarem momentos agradáveis no ambiente educacional, longe do celular, com oportunidades de aprender novos hobbies e criar conexões offline com colegas em tempo real, sem filtros ou telas.
Quais são as oportunidades e como aproveitá-las?
Sem os celulares nas mãos, os alunos tendem a ter maior adesão a um espaço propício à concentração e ao aprendizado aprofundado.
Claro que ainda teremos distrações, mas elas serão um pouco mais limitadas e com possibilidade de controle, o que permitirá que os estudantes estejam um pouco mais propensos a mergulharem na experiência educacional, sem interrupções constantes.
Além disso, sem a barreira dos celulares, os alunos poderão se desenvolver com o apoio socioemocional tão necessário nesses tempos, ampliando as interações face à face.
Isso poderá, inclusive, melhorar suas habilidades de comunicação (comunicação não violenta), a empatia e a colaboração, habilidades tão essenciais para a vida em comunidade.
Com menos distrações digitais, os educadores encontram um espaço aberto para práticas de atenção plena, meditação e autoconhecimento.
Estou aqui falando de algumas das possibilidades de Mindfulness.
Em um contexto onde crianças e adolescentes vivem hiperconectadas e em constante aceleração do pensamento, alcançar um estado de consciência plena dentro da escola parece impossível.
Porém, o que seria muito difícil de alcançar (mas possível) por causa das distrações com as telas, hoje surge como oportunidade para entregar mais para os alunos, aproveitando que não estão distraídos no universo digital.
Por isso, tornar a técnica de mindfulness acessível a professores e alunos dentro das escolas é possibilitar um novo olhar para a saúde mental e para o autoconhecimento.
As escolas podem integrar técnicas de atenção plena no cotidiano, ajudando os alunos a desenvolver melhor a autoconsciência e o controle emocional.
Uma boa chance, inclusive, para que educadores introduzam pausas intencionais, conduzindo a uma mentalidade mais tranquila e focada entre os estudantes.
Os benefícios da prática de Mindfulness desde o início do ano poderão ser colhidos ao longo das aulas, das atividades e dos desafios naturais que alunos e professores compartilham na rotina escolar.
O período de provas, campeonatos, olimpíadas e até vestibulares, por exemplo, serão menos pesados para quem estiver com a saúde mental dentro de um acompanhamento interdisciplinar, afinal, queremos ver os alunos com saúde mental, física e com pleno desenvolvimento educacional e cognitivo.
Ao longo de quase 10 anos trabalhando com escolas, tenho relatos lindos de como a meditação entre crianças e adolescentes, dentro do contexto escolar, faz a diferença para uma absorção mais efetiva do aprendizado, para trocas mais significativas sobre as vivências, as experiências, os medos e os sonhos de cada um.
É preciso olhar e ouvir com atenção o que a mente e a alma de cada aluno, e de cada professor, estão dizendo.
Precisamos educar para a vida simples, para que haja o alcance de pequenas e profundas verdades em cada ser.
São tempos de desafios, de adaptação e de conexão humana.
O que, para muitos, soa como punição, pode ser, na verdade, a chance para que a beleza do contato humano seja explorada entre crianças e adolescentes que saíram de uma pandemia de Covid-19 e entraram em uma pandemia de isolamento dentro de casa, dentro da escola e dentro das telas.
Cabe a nós, adultos, educadores, responsáveis e sociedade, retornar ao que já experimentamos com as conexões puramente humanas e apresentar aos jovens o equilíbrio de uma vida real, dentro e fora do digital, com responsabilidade, equilíbrio e saúde mental.
Sobre a autora
Daniela Degani é instrutora de meditação Mindfulness e fundadora da MindKids, uma iniciativa pioneira que leva práticas de atenção plena ao ambiente educacional, que já atendeu mais de 50 das melhores escolas brasileiras, impactando positivamente mais de 3 mil educadores.
É a única mulher brasileira certificada pela Mindful Schools dos EUA para aplicação em escolas no Brasil.
É palestrante da Bett Educar Brasil, o maior evento de Inovação e Tecnologia para Educação na América Latina, que acontece de 28 de abril a 1º de maio de 2025 em São Paulo.