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Artigo: Qual o preço da eternidade?

Sebastian Dumon discute neste artigo a atual busca humana pela imortalidade, impulsionada por avanços científicos e tecnológicos que prometem vencer o tempo.

Foto do autor do artigo.

Crédito da foto principal: Divulgação/arquivo pessoal

A humanidade nunca esteve tão próxima de vencer o tempo.

A promessa de prolongar indefinidamente a vida, outrora restrita à mitologia, hoje é pauta científica, tecnológica e cultural.

Projetos como o AlphaFold, do Google DeepMind — capaz de prever a estrutura de todas as proteínas conhecidas e abrir caminho para a cura de praticamente todas as doenças — são celebrados como marcos de uma nova era.

Pela primeira vez, o sonho da imortalidade parece possível.

Mas o que essa obsessão por viver para sempre revela sobre nós?

A busca pela eternidade expõe uma angústia profunda: o medo da finitude.

Por trás da corrida por terapias genéticas, inteligência artificial e aprimoramento biológico, há o desejo de escapar daquilo que mais nos define: a vulnerabilidade.

Vivemos em uma cultura que trata o envelhecimento como defeito, o erro como fracasso e a morte como tabu.

Nesse processo, a vida perde sua espessura, transformando-se em um projeto interminável de manutenção e controle.

A imortalidade, tão almejada, traz consigo um paradoxo.

Ao eliminar os limites, elimina-se também o sentido.

O tempo deixa de ser medida e torna-se apenas repetição.

Sem a urgência do fim, desaparece a necessidade de escolher, de amar, de arriscar.

O ser humano passa a existir, mas não necessariamente a viver.

A promessa de eternidade pode se tornar uma prisão invisível, onde tudo é possível, e nada é essencial.

Talvez o verdadeiro avanço não esteja em estender a existência, mas em reaprendermos a habitá-la.

Em reconhecer que é justamente a transitoriedade que confere significado à vida.

A consciência da morte é o que transforma cada instante em algo precioso, irrepetível.

A imortalidade biológica pode até ser alcançada um dia, mas, sem propósito, continuará sendo somente uma vitória técnica sobre o corpo, e uma derrota silenciosa da alma.

Mais sobre o autor

Sebastian Dumon é autor de Ascensão Imortal, da trilogia Sete Imortais, que reflete sobre os limites da ambição humana e da ciência em um mundo distópico.

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