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Artigo: A indisciplina que adoece a educação

Especialista comenta sobre a falta de políticas públicas eficazes sobre disciplina escolar prejudica o aprendizado e a saúde mental dos docentes no Brasil.

Foto do autor do artigo.

Escrito por Lucelmo Lacerda, doutor em educação, pesquisador na Universidade da Carolina do Norte (EUA) e autor de Crítica à pseudociência em educação especial (Foto: arquivo do site).

A educação brasileira vive inúmeros problemas, não gratuitamente.

Aparece nos últimos lugares em todos os rankings internacionais, mas esses dados estão ainda mais aquém do que a realidade das salas de aula.

Nos últimos anos, os professores têm enfrentado desafios enormes.

Segundo as pesquisas mais robustas sobre a visão dos professores sobre a educação atual, a indisciplina é o maior problema enfrentado pelos professores na atualidade.

Uma pesquisa recente da OCDE, que mensurou as relações de sala de aula, verificou que o Brasil é o país em que há menos aula, entre os 73 países avaliados.

Segundo o levantamento, os professores gastam cada vez mais tempo administrando problemas de comportamento em sala de aula.

A percepção de que a indisciplina é o maior desafio coincide com estudos internacionais, como os da OCDE.

Ao mesmo tempo, não há nenhuma iniciativa pública voltada para a indisciplina escolar.

As escolas recebem projetos de todos os tipos — sobre meio ambiente, tecnologia, alimentação, inclusão digital —, mas nenhum que trate diretamente da questão da disciplina.

É como se o problema simplesmente não existisse.

E mais do que isso: nós, professores, não tivemos essa formação na universidade.

Talvez alguém tenha assistido a uma aula sobre o tema — eu, pessoalmente, nunca conheci quem tivesse.

Mas o fato é que não existe nenhuma disciplina específica sobre indisciplina escolar em nenhuma universidade do Brasil.

Também não há linha de pesquisa, nem pós-graduação voltada ao assunto. Nada.

É como se a opinião e a experiência dos professores fossem irrelevantes.

Como se os dados também não importassem.

A solução do poder público para os graves problemas decorrentes da indisciplina — que incluem questões sérias de saúde mental entre docentes — tem sido a precarização do trabalho.

Em vez de criar políticas efetivas baseadas em evidências científicas para reduzir quadros de depressão, ansiedade e outros transtornos relacionados às condições de trabalho, os governos têm recorrido a contratações temporárias e mal remuneradas.

Nesses vínculos, o controle sobre afastamentos por motivos psiquiátricos é maior, enquanto as oportunidades de estabilidade e apoio diminuem.

Não é uma solução justa.

E, infelizmente, não foi no Dia dos Professores que veio a nova fase em que os docentes serão ouvidos, suas condições valorizadas e seu trabalho, finalmente, respeitado.

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